Revolução copernicana

Graduado em Física (UFMG, 2011)

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Revolução copernicana é o nome que se dá à profunda transformação na concepção do universo, ocorrida no início da Idade Moderna, com a proposição de um sistema planetário heliocêntrico (“centrado no Sol”, da palavra grega para Sol, helios) em lugar do modelo geocêntrico (“centrado na Terra”, da palavra grega para Terra, geo). Diz-se “copernicana” porque tal revolução científica foi iniciada pelo trabalho do astrônomo e cônego polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), o primeiro a propor um modelo heliocêntrico com detalhes matemáticos bem desenvolvidos.

É importante ressaltar que é justamente a presença de desenvolvimento matemático no modelo proposto por Copérnico que justifica o pioneirismo a ele atribuído. Muitos séculos antes do período da revolução copernicana, a ideia de um universo centrado no Sol já havia sido apresentada pelo astrônomo e matemático grego Aristarco de Samos (310 a.C. - 230 a.C.), sem aceitação, no entanto, por parte de seus contemporâneos. A proposição de Copérnico ganhou substância graças à sua adequada fundamentação matemática e ao progresso científico subsequente.

Até o século XVI, a visão de que a Terra estava posicionada no centro do universo era predominante. O que se entendia por universo, aliás, era um conjunto de astros muito limitado em relação ao que compreendemos hoje; como ainda não havia sido inventado o telescópio, os astros conhecidos restringiam-se ao que podia ser observado a olho nu. Assim, o universo era considerado composto apenas pela Terra, no centro, envolta por várias esferas cristalinas invisíveis onde se moviam cada um dos demais astros conhecidos: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e estrelas fixas – nesta ordem. Esse modelo geocêntrico, sistematizado ainda no século II pelo astrônomo e matemático Ptolomeu, era ensinado como padrão e oficializado pela instituição mais poderosa da Idade Média, a Igreja Católica, característica que o classificava como intocável em uma das épocas mais conservadoras de toda a história.

Copérnico, ele próprio religioso e sabedor das dificuldades que as novas ideias encontravam na sociedade de sua época, foi bastante cauteloso ao introduzir o modelo heliocêntrico. Em 1530, escreveu um manuscrito que não chegou a ser publicado, o Commentariolus, em que apresentava um esboço de seu modelo. Nele, o Sol era posto no centro do universo e, em torno dele, giravam todos os planetas, inclusive a Terra, que tinha, por sua vez, a Lua ao seu redor. Graças à medição das distâncias planetárias, tornada possível no sistema copernicano, a ordem dos planetas a partir do Sol foi corretamente estabelecida – Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno –, com as estrelas fixas mantidas como os astros mais distantes do universo. As ideias de Copérnico em sua forma final apenas se tornaram públicas no ano de sua morte, em 1543, quando sua obra De Revolutionibus Orbium Coelestium foi publicada.

A consagração do modelo de universo proposto por Copérnico veio ao longo do século seguinte, quando Galileu Galilei, em 1610, reuniu evidências do heliocentrismo através de observações astronômicas realizadas com telescópios; quando Johannes Kepler, entre 1609 e 1619, obteve as leis do movimento planetário e fez cálculos precisos das posições dos astros usando órbitas heliocêntricas; e quando Isaac Newton, em 1687, explicou corretamente o movimento dos planetas em torno do Sol ao enunciar a lei da gravitação universal. Ao final do século XVII, a concepção de universo inaugurada pela revolução copernicana mostrava-se incontestável diante da observação da natureza.

Referências

LAGES, L.; NUNES, R.; SCALIONE, T. O céu que nos abraça. Minas Faz Ciência, Belo Horizonte, n. 70, p. 24-29, 2017.

PIRES, A. S. T. Evolução das ideias da Física. 2. ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2008. p. 85-93.

SARAIVA, M. F. O.; OLIVEIRA FILHO, K. S.; MÜLLER, A. M. Movimento dos Planetas: o modelo heliocêntrico de Copérnico. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/~fatima/fis2010/Aula5-141.pdf>. Acesso em 08 de ago. 2017.

Arquivado em: Astronomia, Idade Moderna
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