Diagonal seca

Mestre em Ecologia (UERJ, 2016)
Graduada em Ciências Biológicas (UFF, 2013)

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A diagonal seca, também conhecida como diagonal de áreas abertas ou corredor de savanas, abrange uma ampla faixa que se estende do nordeste do Brasil ao noroeste da Argentina, e inclui as áreas biogeográficas da Caatinga, do Cerrado e do Chaco. O espaço geográfico da diagonal seca é classificado devido à ocorrência de um conjunto florístico e faunístico cuja distribuição se estende por estes três biomas.

Os biomas da diagonal seca possuem grande biodiversidade e também constituem um importante centro neotropical de endemismo faunístico. Além disso, por estar localizada entre a Mata Atlântica e a Amazônia, a diagonal seca atua como importante barreira biogeográfica às linhagens de animais típicos desses ambientes florestais. Embora Caatinga, Cerrado e Chaco tenham suas particularidades, a existência de táxons endêmicos da região formada por esses biomas atesta a íntima relação biogeográfica entre eles.

Essa ampla faixa de clima sazonal, com restrição hídrica em parte do ano, apresenta uma variedade de formações de vegetação como a vegetação aberta, na qual grande parte da luminosidade incidente atinge o solo; e a vegetação herbácea, com maior contraste ecológico e de composição de sua biota em relação às de vegetação floresta densa e fechada, típicas das florestas tropicais úmidas. As diferenças entre estes tipos de formações de vegetação também é influenciada pelos níveis de precipitação anual de cada bioma, o qual o Cerrado apresenta os maiores valores e é considerado hotspost da biodiversidade mundial, definido pela sua imensa diversidade, alta taxa de endemismo e as grandes ameaças humanas. Resultam assim, na diagonal de formações abertas, dois polos de maior aridez: a Caatinga, isolada entre áreas mais chuvosas, e o Chaco, vizinho a áreas mais úmidas a leste e oeste, mas representando o ponto extremo a nordeste de um conjunto de áreas secas denominado de diagonal arreica, e sendo contíguo ao deserto do Monte, na Argentina.

No entanto, características do solo são também importantes para a ocorrência de vegetação de Cerrado. Isto é demonstrado pela existência desse tipo de ecossistema em locais com padrões climáticos muito distintos, incluindo áreas de pluviosidade acima de 2.000 milímetros anuais e áreas próximas à Caatinga, com menos de 650 milímetros anuais. Ocorre também em locais próximos vegetações de Cerrado e florestas secas, com sutis variações de textura de solo ou com diferentes níveis de acúmulo de água. O Cerrado se encontra majoritariamente sobre o Planalto Central Brasileiro, em locais com 500 a 1200 metros de altitude e os solos são quase sempre mais intensamente lixiviados, ácidos e pobres em nutrientes em comparação aos da Caatinga e Chaco, além de apresentarem elevada concentração de alumínio, que é tóxico para as plantas.

As paisagens típicas de Caatinga e Chaco correspondem a terras baixas, sendo que na Caatinga, em geral, depressões interplanálticas de solos rasos e pedregosos, sem ou com lençol freático de distribuição restrita, mas com setores de solo sedimentar. O Chaco se encontra em ampla planície muito mais uniforme, que corresponde a uma bacia sedimentar de solos de sedimentos finos transportados pelo vento, profundos e compactada, quase sem rochas, o que dificulta a infiltração e deixa o lençol freático usualmente fora do alcance das raízes das plantas.

Referências Bibliográficas:

COHEN, M.; DUQUE, G. 2001. Le deux visages Du Sertão: Stratégies paysannes face aux sécheresses (Nordeste du Brésil). Paris, Édition de L’IRD.

SÃO PEDRO, Vinícius de Avelar. Filogeografia de anfíbios da diagonal de áreas abertas da América do Sul. 2014. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Natal. 110p.

ZANELLA, Fernando César Vieira. Evolução da Biota da Diagonal de formações abertas secas da América do Sul. In: Biogeografia da América do Sul: padrões e processos. Claudio J. B. de Carvalho, Eduardo A. B. Almeida (Orgs.). São Paulo: Roca, 2010. 198-219 p.

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