Diferenças entre Protestantismo e Catolicismo

Pós-doutorado em História da Cultura (Unicamp, 2011)
Doutor em Ciências da Religião (Umesp, 2001)
Mestre em Teologia e História (Umesp, 1996)
Licenciado em Filosofia (Unicamp, 1992)
Bacharel em Teologia (Mackenzie, 1985)

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O protestantismo tem seu início em 1517, com Lutero, e no século 16 ocorreu o movimento de Reforma Protestante, tanto a Reforma Magisterial, dos luteranos, calvinistas e anglicanos, quanto a Reforma Radical dos anabatistas. Este foi o protestantismo histórico ou tradicional. O protestantismo recente se desenvolveu nos EUA e originou também movimentos chamados primitivistas ou restauracionistas, como os Mórmons, Adventistas, Testemunhas de Jeová e o pentecostalismo.

O diálogo entre católicos e protestantes históricos ou tradicionais tem sido realizado num clima sereno e de compreensão mútua. Mas, o mesmo não se dá com os diversos segmentos do protestantismo recente, principalmente com aqueles que têm novas Bíblias, como o Livro dos Mórmons, os adventistas e Testemunhas de Jeová.

Alguns pontos principais se destacam nas diferenças existentes entre os católicos e os protestantes. Em primeiro lugar, no que diz respeito à Bíblia. No protestantismo, o traço mais característico da liturgia e da teologia é a Bíblia considerada como a Palavra de Deus e a suprema autoridade da Igreja, segundo o conceito de sola fides (somente as Escrituras), do qual se aprende que foi Deus quem amou a humanidade e salvou seus fiéis tão somente pela graça divina (sola gratia), sem a interposição de méritos obtidos por obras praticadas. Portanto, o culto protestante se destaca por leituras bíblicas, cânticos e a pregação extraída de textos bíblicos.

Para o catolicismo, não há oposição às posições protestantes clássicas, mas o uso do latim devido às necessidades contingentes, dificultava a compreensão dos fiéis quanto às Escrituras. Nos mosteiros, a leitura meditativa sobre as coisas de Deus (lectio divina) tratava de Bíblia, oração e era o alimento espiritual. Também consideram a bíblia como Palavra de Deus viva e eficaz, que o catolicismo chama de sacramental, pois santifica na medida da compreensão humana e na proporção da fé com que se lê. Não é, portanto, o amor à Bíblia uma característica exclusiva dos protestantes. Mas, como os protestantes tiraram da Bíblia seu arsenal de posições teológicas, os católicos as consideram como heresias e passaram a suspeitar da Bíblia. A Igreja católica chegou a proibir seus fiéis de lerem e utilizarem as Escrituras traduzidas para suas línguas vernáculas, até mesmo marcando assim a piedade católica a partir daquela época. Atualmente o catolicismo entende que aquela foi uma atitude inconveniente e desnecessária.

Para o catolicismo, não é necessário negar a autoridade da Igreja para salvaguardar a autoridade da Bíblia. O protestantismo não reconhece senão a autoridade das Escrituras, negando a tradição católica e apregoa o livre exame das Bíblia sem a intermediação da Igreja. A experiência do Protestantismo indica que nenhum texto bíblico, tomado a sós, fora do seu contexto originário, é capaz de se defender contra as interpretações subjetivas ou arbitrárias, com o risco de minimizarem essa autoridade das Escrituras.

Outra diferença temática entre o Protestantismo e o Catolicismo está em seus conceitos divergentes de Igreja: a dificuldade dos protestantes em relação à Igreja Católica é a autoridade doutrinária que ela reivindica. Julgam que tudo o que se conceda à autoridade da Igreja, é subtraído à autoridade da Palavra de Deus na Bíblia e uma forma de opressão das consciências individuais. Para Lutero se a religião é oficial, ao Estado cabe zelar pela preservação das verdades da fé e autoridade da Bíblia, tal como Lutero a interpretava. Na Renânia, foi estipulado que magistrados eleitos pelo povo luterano teriam a incumbência de defender a autoridade da Palavra de Deus. Calvino buscou algo mais bíblico, um colégio de presbíteros ou anciãos, que ficavam responsáveis pela respectiva comunidade sob a jurisdição do Apóstolo; então, instituiu presbíteros ou anciãos nas comunidades calvinistas, encarregados de tutelar a autoridade das Escrituras e a organização eclesial.

Na Inglaterra e na Nova Inglaterra, a autoridade foi confiada à própria congregação dos crentes: estes não poderiam desfazer-se dela em benefício de pessoa alguma. Assim teve origem o Congregacionalismo, segundo o qual os fiéis, de comum acordo, devem submeter-se à autoridade das Escrituras e dela tirar as diretrizes concretas, dia por dia, para a vida da Igreja. Algumas comunidades protestantes conservam o episcopado: Prússia e Escandinávia (Luteranas) e as anglicanas.

A Igreja Católica atribui a si uma autoridade doutrinária pelo fato de ser a Igreja instituída por Cristo sobre o fundamento dos Apóstolos, mas não afirma que os bispos e os Papas sejam outros Apóstolos no sentido de fundadores da Igreja, independentes da primeira geração, mas que o Papa são apenas guardiães e transmissores, credenciados por Cristo, do depósito sagrado que receberam dos Apóstolos.

Outra diferença está nos Sacramentos, porque são considerados sete no Catolicismo e apenas dois no protestantismo. Os sacramentos católicos vão desde o nascimento até à morte do fiel: o batismo, a crisma ou confirmação, confissão de pecados, eucaristia ou ceia da comunhão, casamento, ordem ou ordenação, extrema unção. Para o protestantismo são consideradas como ordenanças ou sacramentos apenas aqueles que o próprio Cristo ordenou: o batismo e a ceia eucarística (comunhão), entendida como transubstanciação, ou seja, o pão e o vinho simbolizados na hóstia se transformam no próprio corpo e sangue de Cristo.

Em algumas denominações protestantes, o batismo é apenas ministrado aos jovens e adultos convertidos. Outras denominações batizam crianças como garantia do pacto ou aliança cristã que seus pais têm com a Igreja. Ao crescerem, as crianças batizadas farão uma espécie de confirmação, chamada de profissão de fé (ou confissão pública de fé).

A ceia do Senhor, comunhão, eucaristia ou santa ceia é ministrada a todos os já batizados. Os luteranos creem na consubstanciação ou empanação (presença de Cristo no pão consagrado), Zwínglio e os reformados entendiam a ceia apenas como um memorial ou recordação simbólica da última ceia, os calvinistas ou presbiterianos creem na ceia como meio de graça, isto é, na presença espiritual de Jesus no pão e no vinho que são tipificações do corpo e da carne do Senhor.

Portanto, enquanto os protestantes ou reformados magisteriais (luteranos, calvinistas e anglicanos), já no século 16 buscaram restaurar a estima e o culto da Palavra de Deus, com todos os predicados de santificação que ela possui e que estavam sendo trocadas por mentalidades e escolas filosóficas decadentes no fim da Idade Média. Modernamente ultrapassaram os limites das próprias Escrituras por conta de interpretações humanas, subjetivismo e até por intuições imaginosas do protestantismo moderno restauracionista ou pelos princípios racionalistas do protestantismo liberal. Mas, o protestantismo histórico ou tradicional tem avançado no diálogo ecumênico com o catolicismo, ressaltando mais os pontos de concordância que suas diferenças, como duas expressões da mesma realidade.

Referências bibliográficas:

CHAUNU, Pierre. O tempo das reformas (1250-1550): a Reforma protestante. Lugar na História, v. 49-50, Edições 70, 1993.

MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero aos nossos dias. V. 1: A era da Reforma. São Paulo: Loyola, 1997.

GAARDER, J.; HELLEN, V.; NOTAKER, H. O livro das religiões. São Paulo: Editora Schwarcz, 2000.

ZILLES, Urbano. Religiões crenças e crendices. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

Arquivado em: Cristianismo
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