Literatura no Enem

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As questões literárias do Enem estão incluídas na prova de Redação e de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Esta matriz engloba, além da criação de um texto dissertativo-argumentativo, avaliação do conhecimento de uma língua estrangeira – aqui o aluno pode optar por Inglês ou Espanhol -, testes de Literatura, Língua Portuguesa, análise textual, esportes, dança, expressão corporal, códigos e tecnologias virtuais, semiótica, comunicação, artes plásticas, música, artes visuais e teatro.

Predomina neste exame o caráter interdisciplinar. Mesclam-se, por exemplo, ilustrações e obras literárias; um texto de literatura e a criação de um pintor; uma história em quadrinhos e um poema; uma canção e o trecho de um conto, e muitas vezes uma questão de língua portuguesa é alicerçada em uma passagem de um livro.

Isso permite que o estudante seja avaliado simultaneamente em várias esferas do conhecimento. Assim ele tem a oportunidade de articular suas várias leituras, conquistas intelectuais e saberes, conectando até mesmo dados sobre eras, escolas e autores antigos a eventos atuais.

As questões exploram todas as vertentes desta matriz e para isso utilizam inúmeros recursos e ferramentas. Assim, o aluno poderá encontrar, ao longo da prova, individualmente ou nas combinações mais díspares, quadrinhos, ilustrações, pinturas, letras de músicas, passagens de obras literárias, analogias de trechos de obras da literatura com artigos jornalísticos ou análises literárias, fragmentos de e-mails, postagens ou twitters, reproduções de esculturas e outras obras de arte, charges, anúncios publicitários, entre outros meios. Com a ajuda desses instrumentos, os enunciados verificam a bagagem cultural, linguística e tecnológica do candidato.

O ano de 2009 marca uma mudança nas provas do Enem. Daí em diante o exame é dividido em dois cadernos, um por dia, com 90 questões cada. As perguntas objetivas passam a ser estruturadas em quatro blocos, representando as esferas do saber, avaliadas em 45 questões por área. É então que a prova de literatura passa a ser inclusa na matriz Linguagem, Códigos e suas Tecnologias.

O único porém é que a maior parte das questões não avalia, de fato, o conhecimento do estudante sobre Literatura, ou seja, seu domínio sobre a história, os períodos, as escolas, os movimentos, os autores e características de cada um deles. Raras são as perguntas que exigem do candidato esse saber.

As demais exigem a leitura atenta dos enunciados, dos textos e de outros meios utilizados, sejam eles verbais ou visuais. Lógico que, mesmo assim, há um grau de dificuldade, pois o aluno precisa ter o hábito de ler e também de articular seus vários conhecimentos e experiências de vida.

Mas a insistência dos avaliadores em desprezar o conhecimento da literatura pode ter repercussões muito negativas. Melhor dizendo, professores e alunos não se preocuparão em aprofundar os estudos literários, especialmente os que abrangem períodos mais remotos. Até porque as questões giram mais em torno do Modernismo, das poesias concretas, da literatura contemporânea e de movimentos de vanguarda. Sem falar no predomínio das letras de músicas e das histórias em quadrinhos.

Friso novamente. Isso não significa que a prova é fácil. O candidato deve ser capaz de ler atentamente as perguntas, os textos e outros recursos utilizados em seu âmbito. É imprescindível, também, que tenha um bom poder de concentração, pois a escolha da resposta correta exige que ele analise e interprete minuciosamente os elementos presentes em cada questão.

Não basta ler, estudar, ter uma boa vivência cultural. É necessário, igualmente, que o estudante saiba relacionar os textos entre si e com outros ingredientes culturais, tenha a capacidade de articular este saber, as leituras e a experiência existencial e cultural, sem falar na interação de todo esse arsenal com os temas atuais. Mas, antes de tudo, ele tem que compreender exatamente qual a finalidade de cada pergunta.

Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Hilda Hilst, funções e figuras de linguagem, análise dos quadros de Tarsila do Amaral, a poesia de Camões, tiras de histórias em quadrinhos, especialmente Calvin e Haroldo, Rachel de Queiroz, João Cabral de Melo Neto, Manoel de Barros, Cacaso, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Modernismo, Literatura Contemporânea, canções de Noel Rosa, são temas recorrentes nas provas.

Quando o relógio anda para trás e aponta para escolas mais antigas, a tendência é abordar o Romantismo, o Arcadismo, o Simbolismo e o Classicismo de Camões. Mas estas são questões mais raras. É preocupante a ausência de foco nas outras escolas, as quais acabam sendo menos estudadas e conhecidas.

As análises de texto são muito importantes, pois obrigam o aluno a cultivar a leitura, mas elas devem estar em harmonia com a exigência de um conhecimento mais profundo da história da Literatura. Deve haver um espaço para cada uma dessas modalidades; aliás, elas podem até caminhar lado a lado no interior da mesma questão. O que não pode se tornar uma tendência é o descaso com os estudos literários.

Geralmente os enunciados são muito longos e alguns atingem uma grande complexidade, daí a necessidade de uma leitura atenciosa e da interpretação da própria questão, para que ao abordar os textos, charges, quadrinhos ou imagens presentes no seu circuito, o aluno saiba o que deve buscar em cada um deles. Assim, ao partir para as alternativas, encontrará mais facilmente a resposta correta. Se o candidato não compreender o que está sendo requisitado em uma dada questão, ficará difícil encontrar a solução ideal. Portanto, quem está sempre com um livro nas mãos terá muitas vantagens sobre quem não costuma ler.

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Arquivado em: Educação, Literatura
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