Bandeirantes

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

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Os Bandeirantes empreenderam várias expedições denominadas de bandeiras. Estas reuniam indivíduos que iam aos sertões coloniais com a intenção de capturar indígenas para uso como mão de obra escrava. Nestas primeiras expedições, o armamento básico utilizado eram arco e flecha (mesmo poderio bélico de muitos indígenas que se intencionava capturar). Por conta de seus propósitos, muitas bandeiras se constituíram como verdadeiras expedições de apresamento. No contexto da União Ibérica (1580-1640), os bandeirantes ultrapassaram os limites do Tratado de Tordesilhas (1494) e ampliaram os domínios portugueses na América.

Na segunda metade do século XVII, o contexto de crise econômica que assolou o Império Português na Europa e suas possessões ultramarinas na América e na África foi desencadeado por uma série de investidas de outras nações. Colônias na África foram tomadas pelos holandeses e o açúcar brasileiro enfrentava a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas. Naquela situação, a Coroa portuguesa estimulou a procura por metais preciosos em suas colônias. As bandeiras somaram-se à expedições oficiais financiadas pela própria Coroa denominadas de Entradas. Mas quais eras suas diferenças?

As entradas podem ser consideradas como expedições oficiais de exploração do território na busca por suas potencialidades econômicas. As bandeiras podem ser tomadas como expedições fortemente armadas organizadas por particulares. Os principais objetivos dessas expedições foram a busca por mão de obra indígena; guerras e escravidão de muitos indígenas hostis à colonização; localização e destruição de quilombos formados por negros e indígenas fugidos dos núcleos coloniais e a busca por metais preciosos.

Os mais conhecidos bandeirantes eram, em sua grande maioria, da região paulista. Dentre eles se destacaram: Antônio Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho, Morais Navarro, Domingos Calheiros, Estevão Parente, Fernão Dias Paes, Manuel Borba Gato, Bartolomeu Bueno da Silva, Pascoal Moreira Cabral e André Fernandes. Os bandeirantes encontraram ouro por volta de 1695. Dali em diante, empreenderam outras “descobertas” em regiões dos atuais Estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Quem circular pelas rodovias, avenidas, praças e ruas de São Paulo certamente se verá rodeado de homenagens a esses indivíduos.

Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista. Pintura de Benedito Calixto, 1903.

Na historiografia, as representações de que os bandeirantes foram responsáveis pelas riquezas de nosso país; verdadeiros desbravadores do sertão brasileiro; ampliadores de limites territoriais e incansáveis expedicionários na busca por metais e pedras preciosas acabou por reduzir o caráter muito mais complexo da colonização e do papel desempenhado por estes sujeitos. As representações a eles atribuídas e as homenagens que ainda hoje lhes são feitas dificultam uma compreensão maior sobre o complexo funcionamento da sociedade colonial.

Como dito, desde o início da colonização, os bandeirantes se lançaram ao apresamento de indígenas, chegando muitas vezes a invadir Missões Jesuíticas, onde milhares de índios vivenciavam outros processos de desestruturação cultural com base na evangelização e catequese. Conforme apontou John Monteiro, ao longo do século XVII, colonos de São Paulo, assolaram centenas de aldeias indígenas em várias regiões e trouxeram milhares de índios de diferentes grupos étnicos para suas fazendas, obrigando-os a trabalhar de modo compulsório. As frequentes expedições bandeirantistas alimentaram um verdadeiro sistema de mão de obra indígena no planalto paulista que possibilitou a produção e o transporte de gêneros agrícolas para abastecimento de uma complexa rede comercial que incluía outras partes da América Portuguesa e mesmo outras bandas do Atlântico Meridional. Estas questões ainda precisam ser analisadas com maior atenção pelos pesquisadores contemporâneos.

Referências:

CAMPOS, Flavio de; MIRANDA, Renan Garcia. A escrita da história. São Paulo: Escala Educacional, p. 356-362, 2005.

MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

MOTA, Myriam Becho; BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, v. 1, 1997.

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