Cangaço

Graduada em História (UVA-RJ, 2014)

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O termo cangaço deriva da palavra canga, objeto usado no trato com os bois na roça. A canga era uma madeira que passava no pescoço do boi e lhe prende ao arreio. Os cangaceiros viviam de forma errante e traziam consigo tudo que possuíam.

O cangaço manifestou-se na sociedade brasileira como uma forma de protesto diante das injustiças sociais observadas nas regiões mais retiradas do país. O nordeste perdeu seu prestigio nacional ainda durante a colônia quando a capital deslocou-se para o sudeste na cidade do Rio de Janeiro. Pouco ou nada mudou durante o Império o que gestou na população local nordestina uma grande insatisfação, principalmente diante do poderio dos grandes proprietários de terras que se apropriavam das melhores terras legando a população serem seus empregados ou manterem terras improdutivas.

Cangaceiros do bando de Virgulino Lampião (centro). Foto: Benjamin Abrahão Botto.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, “o banditismo é uma forma bastante primitiva de protesto social organizado”. O movimento do cangaço sertanejo deve ser lido como manifestação de um banditismo nacional diante das injustiças sociais vividas pela população pobre nordestina.

O primeiro cangaceiro reconhecido como tal foi José Gomes, vulgo Cabeleira, tendo aterrorizado a região do Recife nos anos finais do século XVIII. O movimento só toma corpo, porém a partir do fim do século XIX, quando em grande crise na região do nordeste a população se torna arredia aos líderes, crescem as figuras chamadas de “cangaceiros”.

O primeiro grupo de cangaceiros aparece com Jesuíno Alves de Melo Calado, vulgo Jesuíno Brilhante, também do fim do século XVIII.

A situação fundiária propiciava disputas sociais intensas e isso se manifestava através dos cangaceiros que se dividiam em ao menos três tipos:

O primeiro tipo eram os mercenários que trabalhavam para os latifundiários, proprietários de terras, mais interessados em combater fortemente os cangaceiros “bandidos”. Os primeiros formavam uma espécie de milícia e não eram tão reprimidos quando os cangaceiros tradicionais, por estarem amparados por homens poderosos.

O segundo tipo também de forma mercenária tinham nos políticos seus patrões, o que também lhes garantia proteção mediante trabalho realizado. As disputas se resolviam entre milícias e na ponta da peixeira.

O terceiro tipo foi aquele que ficou mais conhecido com a literatura, principalmente na figura de Virgulino Lampião. Eram os bandidos reprimidos e inimigos públicos. No entanto esses viviam a sua própria sorte, visto que não tinham o apoio de “padrinhos” poderosos que lhes aparassem nas dificuldades. Tudo que possuíam carregavam consigo pelas estradas do sertão e retiravam da natureza tudo que precisavam.

O cangaço dura até a década de 1930, só termina após uma ampla campanha instituída por Getúlio Vargas. Até aquele momento o cangaço era mantido pelos próprios latifundiários, pois esses se beneficiavam dos movimentos e grupos que preferiam associação e proteção e para isso lhes faziam serviços como a cobrança de impostos, ou ações violentas para garantia de voto. Com Vargas os cangaceiros passam a ser considerados como desordem à paz nacional e por isso inimigos públicos declarados.

Bibliografia.

ARAÚJO, Bernardo Goytacazes. A Instabilidade Política na Primeira República Brasileira. Juiz de Fora: Ibérica. 2009.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1995.

JASMIN, Élise, Cangaceiros. Ed. Terceiro Nome, São Paulo, 2006.

LINHARES, Maria Yedda (ORG.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.

NONATO, Raimundo, Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico. Mossoró: Fund. Vingt-un Rosado, 2000.

Arquivado em: História do Brasil
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