Pleonasmo

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

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O pleonasmo compõe o conjunto de figuras de sintaxe. Trata-se dos fenômenos linguísticos relacionados diretamente com a construção frasal, com a estrutura dos elementos sintáticos na oração.

Neste caso, o pleonasmo configura-se por uma repetição, para alguns gramáticos sua característica principal é o excesso.

Dessa forma, define-se o Pleonasmo pela repetição de um termo já expresso ou de uma idéia já sugerida, com a finalidade de enfatizar a mensagem ou torná-la clara e compreensível. Por esta razão, para alguns gramáticos, esta figura de construção ocorre como um excesso na oração, um elemento que não oferece perda de sentido caso seja retirado do contexto. É uma redundância, a repetição de palavras apenas para reforçar a ideia expressa.

Com isso, o pleonasmo pode ocorrer como uma repetição desnecessária. Nesse caso o pleonasmo se torna vício de linguagem e é denominado pleonasmo vicioso. Acontece comumente na interação oral entre os falantes.

Por exemplo: “descer para baixo”, “subir para cima”, “sair para fora”.

O caso do pleonasmo vicioso é a caracterização da superabundância de palavras para expressar uma ideia ou um desejo.

No exemplo à seguir, construiu-se situações para a fala popular, observe como ocorre o pleonasmo vicioso neste tipo de interação lingüística:

São situações cotidianas:

Situação 1: a mãe de uma criança está chamando-o para entrar em casa:

- Entre para dentro, João.

Situação 2: um chefe nervoso com seu funcionário que não realizou uma tarefa:

- Suba lá em cima agora, imediatamente, nesse momento e traga os documentos, Marcos.

Estes são apenas exemplos, situações hipotéticas, de como os falantes se valem desse recurso, muitas vezes de maneira não refletida, mas sim envolvidos pela emoção do contexto, para se comunicar. O que leva à conclusão, que geralmente, o pleonasmo não se trata de um recurso estilístico da linguagem a ser utilizado na literatura, por exemplo, ou em textos rebuscados. Mas sim, um recurso de expressividade da comunicação oral.

O pleonasmo só se justifica para dar maior relevância, para emprestar maior vigor a um pensamento ou sentimento. Nesse sentido, para alguns estudiosos, quando o pleonasmo ocorre sem acrescentar peso ou ênfase às emoções expressas, sem que coloque na situação uma relevância maior, ele se torna desnecessário, e logo significa uso inadequado da linguagem. Alguns autores classificam este tipo de uso como resultado apenas da ignorância do sentido exato aos termos empregados, tornando-se uma falta grosseira. Estão neste caso frases como:

Manter monopólio exclusivo.

Ser o principal personagem protagonista.

Nessas frases o adjetivo denota um exagero condenável, próximo do erro: não há monopólio que não seja exclusivo; o protagonista significa principal personagem.

Pleonasmo e epíteto de natureza

Ocorre uma manifestação do pleonasmo que se distingui da redundância viciosa: trata-se do emprego do adjetivo como efeito de natureza em expressões do tipo “sol claro”, “rio doce”, “céu azul”

Este é um modo do uso do pleonasmo que ocorre com maior freqüência nos contextos poéticos e literários, nesse sentido é tomado como um recurso estilístico, o que não parecia possível no pleonasmo vicioso.

Conforme a “Nova gramática do português contemporâneo”, dos autores Celso Cunha e Lindley Cintra, “não se trata de inútil reiteração da ideia que já se continha no substantivo. O adjetivo insiste sobre o caráter intrínseco normal ou dominante do objeto. É uma forma de ênfase, um recurso literário.” O que significa afirmar, que o pleonasmo pode funcionar como ferramenta para desenvolver um texto com estilo e beleza através do efeito que a repetição de sentidos das palavras confere às orações.

Bibliografia:

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. – 1. Ed., 4ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2016

CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 15. Ed., 4° reimpressão – São Paulo: Ática, 2002.

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.

Koch, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 5 ed. – São Paulo: Contexto, 2000 – Coleção: Repensando a Língua Portuguesa

MARTELOTTA, Mário Eduardo. (org.) – Manual de Linguística. – 1ª ed., 2ª reimpressão.- São Paulo: Contexto, 2009.

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