A Caçada - conto de Lygia Fagundes Telles

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Em A Caçada, de 1965, é um conto da obra “Antes do Baile Verde” de Lygia Fagundes Telles.

O cenário é uma loja de antiguidades e é apresentado ao leitor por meio do discurso narrativizado.  Para compor o espaço físico onde a ação irá se desenvolver, o narrador emprega imagens de percepção sensória. Assim, o leitor sente o cheiro da loja: “tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus panos embolorados e livros comidos de traça”; tem a sensação do tato, por intermédio da personagem, que, “com a ponta dos dedos”,toca em uma pilha de livros; vê detalhes do lugar, “uma mariposa levantou vôo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas”.

As imagens literárias produzidas com o uso de detalhes transferem maior verossimilhança à narrativa.

Existem duas personagens, uma velha, provavelmente a dona da loja, ou então uma funcionária, há muito tempo no estabelecimento, e um homem, que vai ao estabelecimento atraído por uma tapeçaria antiga, com a representação de uma caçada.

As personagens não têm nome e o narrador não faz descrições sobre seus aspectos físicos para caracterizá-las.

O tempo da história abrange um período de dois dias. No primeiro dia, o homem vai à loja de antiguidades.

No dia seguinte, o segundo dia da história, o homem vai, novamente, à loja de antiguidades, mais cedo do que de costume, "– Hoje o senhor madrugou.”. Essa mesma personagem diz para o homem “Pode entrar, pode entrar, o senhor conhece o caminho...”, referindo-se ao local onde está pendurada a tapeçaria, na loja. O homem murmura “Conheço o caminho”, referindo-se ao caminho do bosque, representado na tapeçaria.

Chega-se, então, ao clímax da narrativa. Mais uma vez, são empregadas imagens sensoriais: “aquele cheiro de folhagem e terra”, “a loja foi ficando embaçada”, “seus dedos afundaram por entre galhos e resvalaram pelo tronco de uma árvore”.

Nesse trecho se alternam as focalizações externa e interna, caracterizando a mistura do real e do fantástico, e retratando o possível delírio pelo qual passa o homem. “Imensa, real só a tapeçaria a se alastrar sorrateiramente pelo chão”, passa a impressão de que apenas a tapeçaria é real, tudo o mais são elementos do delírio da personagem. Observe-se o segmento em discurso indireto livre: “Era o caçador? Ou a caça? Nãoimportava, não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado?...”.

Então, ele sentiu a flecha atravessar o peito.

Fontes:
http://www.revistaaopedaletra.net
http://www.pactoaudiovisual.com.br

Arquivado em: Contos
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