Clássicos de Clarice Lispector

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Perto do Coração Selvagem

Esta obra de estreia se tornou marcante não só na trajetória literária de Clarice, mas também na produção ficcional brasileira. Joana é certamente uma das suas personagens mais impressionantes. E a estrutura narrativa deste clássico ainda preserva sua capacidade renovadora. A autora associa estreitamente a esfera subjetiva à objetiva, e reveza os pontos de vistas. Além do mais, ela substitui a temporalidade cronológica pela psicológica. A protagonista, ora garota, ora mulher madura e às vezes amante, perpassa a existência dos outros personagens, sempre reagindo com crueldade diante dos acontecimentos.

A Maçã no Escuro

Neste livro, Clarice mais uma vez enfoca o instinto bárbaro do Homem. Aqui ela leva o leitor a acreditar que as ações humanas, muitas vezes selvagens, são imprescindíveis no seu processo de conquista da racionalidade. Martim se converte em outra pessoa depois de pretensamente ter matado sua esposa. Ao tentar escapar da acusação de assassinato, ele encontra a si mesmo enquanto homem. A partir de então o protagonista rejeita os parâmetros morais que regiam sua existência e emerge em outro estado existencial. Seus esforços para se afastar do cenário do crime não o deixam sozinho, e sim o conduzem a um renascimento bíblico.

A Paixão segundo G. H.

Nesta história surreal, a escultora G.H. narra a vivência angustiante da perda da forma, da desfiguração do ser. Ela adentra o aposento de sua antiga empregada doméstica e aí presencia o aparecimento de uma barata no guarda-roupa. Imediatamente, em um gesto impulsivo, a protagonista aniquila o inseto, deformando-o. Desde então G.H. passa uma eternidade junto ao animal, com a impressão de ter ela própria se despojado de sua estrutura humana. A escultora simplesmente não consegue descrever o que lhe ocorreu, nem se resignar diante desta carência. Esta condição aflitiva cria na protagonista a sensação de que alguém sustenta sua mão.

Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres

Como é comum em seus livros, mais uma vez Clarice atribui o ponto de vista a uma personagem feminina. Aí Lóri tem a oportunidade de expor sua visão da existência humana. Ela se destaca na história, em detrimento de Ulisses, figura coadjuvante na trama. Ele é apenas uma referência para a exposição das meditações e ações da protagonista. Tudo gira em torno da jornada realizada por Lóri à procura do autoconhecimento e das sensações prazerosas desprovidas de qualquer culpa. Nessa trajetória Ulisses atua apenas como um sinal para Lóri; ele revela os riscos do caminho e a trilha mais apropriada para se aprender a amar e a existir.

A Hora da Estrela

Aqui a escritora inova ao narrar a trajetória da nordestina Macabéa por meio de um alter-ego, o autor Rodrigo S.M. Dessa forma é possível testemunhar a criação dessa personagem. Ele retrata a vida de uma mulher nascida em Alagoas, destituída de pai e de mãe, educada por uma tia, sem qualquer atrativo ou habilidade para se relacionar com as outras pessoas. Assim, esse criador vai encontrando a si mesmo enquanto reproduz a rotina de Macabéa no Rio de Janeiro, seu trabalho como datilógrafa, sua relação com Olímpico de Jesus e com seu chefe, a interação com a companheira Glória e o derradeiro encontro com a cartomante.

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