Epístola

Mestra em Literatura e Crítica Literária (PUC-SP, 2012)
Graduada em Letras (PUC-SP, 2008)

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Por epístola se entende todo tipo de escrita que visa um destinatário. O termo foi cunhado na Antiguidade e a sua conceituação ganhou força literária a partir do momento que a coleção de textos do Novo Testamento fica conhecida como epístola.

Diante disso, tenta-se diferenciar as epístolas das cartas alegando que estas são normalmente escritas para relatar fatos de natureza pessoal e aquelas são elaboradas com uma intenção artística e, portanto, com uma formatação e uma linguagem literária. Porém, o termo carta acaba se estendendo para os textos literários, filosóficos, institucionais, religiosos ou políticos, dificultando assim a diferenciação cartesiana.

A atividade de escrita epistolar de assuntos considerados comuns entre indivíduos é chamada de epistolografia. A teorização e a prática de epístolas ficcionais recebe o nome de epistolaridade. Entre muitos dos poetas, a epistolaridade configura uma prática comum de utilização do gênero epistolar na contribuição de discussões de teoria e crítica literária. Para citar um exemplo, há registros de trocas epistolares constantes entre escritores brasileiros Mário de Andrade e Manuel Bandeira.

As primeiras produções epistolares são de procedência latina e têm como referências poetas como Horário, Varrão, Plínio, Ovídio e Cícero. Os textos epistolares de Sêneca são igualmente uma referência do gênero e a sua grande contribuição é inserir a oralidade e coloquialismo traçando uma estilística que se mantém até os dias de hoje, afinal, quando se escreve uma epístola não se quer usar uma linguagem que remeta a um caráter muito formal ou extravagante, ao contrário, busca-se a simplicidade e a coloquialidade.

Na comunidade romana, as cartas são a principal forma de comunicação e, já neste período, surge a noção de carteiro com os chamados tabellari, pessoas responsáveis por garantir que as missivas não literárias chegassem ao destinatário. Na idade Média ocorre a distinção entre arte tida como retórica e a carta. Petrarca é o grande nome desse movimento medieval inaugurando, inclusive, o conceito de carta-prefácio ou carta-prólogo, uma espécie de ensaio que orienta quais os preceitos de escrita da obra prefaciada.

No tocante à estrutura, a carta tradicional obedece ao cânone greco-latino, sendo: saudação do destinatário, prender a atenção do leitor - conquistando a sua benevolência, a narração de apresentação do assunto, súplica para que o leitor cumpra a solicitação do destinatário e a recapitulação ou conclusão.

Sobre as suas intenções, as cartas podem ser consideradas em diversos aspectos: uma ação comunicativa bidirecional (remetente-destinatário), uma escrita pragmática, uma comunicação escrita dilatada no tempo, comunicação escrita produzida entre espaços e povos distintos, uma comunicação direcionada e interpretativa, necessitando do diálogo-resposta do destinatário para concretizar o ciclo comunicacional.

Se a epístola desponta como uma necessidade de comunicação social e, até o surgimento da impressa escrita, ela figura como o noticiário da época, contribuindo até mesmo na formação da opinião pública, na contemporaneidade o gênero epistolar é muito mais voltado ao caráter ficcional/literário.

Referência:

CEIA, Carlos. Epístola. E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia. Disponível em: <http://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/epistola/>. Acesso em 04 mar. 2019.

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