Helena

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Esta obra foi dividida em 28 capítulos.

Foco Narrativo

helenaTerceira Pessoa - A trama é conduzida na terceira pessoa, por um narrador onisciente.

Tipo de Linguagem

O texto é bem elaborado e segue um estilo culto. Ele é marcado por um humor tipicamente britânico, meio discreto, perpassado por um tom irônico, negativista, sombrio.

Tempo

A trama se passa no século XIX. A história transcorre em uma sequência linear; ela se inicia com o falecimento de um dos personagens, O Conselheiro Vale, e encerra com a morte da protagonista, Helena.

Cenário

A cidade do Rio de Janeiro é o cenário principal. Além disso, há a chácara do Andaraí, onde morava o Conselheiro Vale. O Dr. Camargo, médico da família, mora no Rio Comprido; a amante do Conselheiro e mãe de Helena, protagonista da trama, residia em São Cristóvão. No livro algumas passagens transcorrem na região central da metrópole e outras se passam na escola freqüentada pela personagem principal, localizada em Botafogo.

Personagens

  • Helena – É a personagem central do enredo. Ela é uma bela jovem, na faixa de dezesseis, dezessete anos. Helena é meiga, delicada e tem uma inteligência bem desenvolvida.
  • Estácio – É o protagonista masculino, tinha cerca de 27 anos e é hipoteticamente considerado irmão de Helena. Ele é o herdeiro de um clã familiar conservador e de estilo patriarcal; o garoto teve uma formação tradicional.
  • Conselheiro Vale – Pai de Estácio. Era infiel o tempo todo, o que perturbava sua esposa.
  • D. Úrsula – Irmã de Vale. Ela tinha por volta de cinquenta anos, era solteirona convicta e sempre dividiu a mesma casa com seu irmão. A partir da morte da esposa do Conselheiro ela passou a administrar a residência de seu irmão.
  • Dr. Camargo – Médico e antigo amigo da família do Conselheiro.
  • Eugênia – Filha do médico e noiva de Estácio.
  • Padre Melchior – Orientador espiritual da família de Vale.
  • Luís Mendonça – Grande amigo de Estácio.
  • Salvador – Pai verdadeiro de Helena.

Outras Informações

Esse livro foi publicado em 1876. Ele se filia ao Romantismo, mais especificamente ao gênero romance urbano. A história gira particularmente em torno de um amor proibido e da profanação de um dogma religioso.

O autor o lançou inicialmente nas páginas do jornal O Globo, no estilo folhetinesco, entre agosto e novembro de 1876. A trama se desenrola de 1850 a 1851, durante cerca de um ano, do falecimento do Conselheiro Vale à morte de Helena. Neste livro Machado de Assis enfoca uma temática muito comum no círculo dos escritores do Romantismo, a fixação por um romance proibido e o que isso representava em termos de heresia. Afinal, era necessário seguir as normas vigentes na esfera social e também os princípios da moralidade.

Machado traça uma análise psicológica de seus personagens. O ser humano é flagrado como uma criatura fatalmente degenerada e sem perspectivas ante a inevitabilidade do destino. Além disso, o autor também faz questão de revelar a sordidez do Homem e a fragilidade da fortuna da Humanidade. Mais uma vez as personagens femininas são as mais intensas.

Enredo

Tudo tem início com a morte do Conselheiro Vale. Ele deixa para a família um testamento. Quando ele é aberto, uma surpresa aguarda o até então filho único, Estácio, e a tia dele, D. Úrsula. Essa senhora, irmã de Vale, solteirona, passou a viver na mesma casa após o falecimento da esposa do Conselheiro, a qual morrera em virtude de enfermidade agravada pela compulsiva infidelidade do marido.

Úrsula cuidava de tudo com afinco e alimentava certo sentimento de posse pela propriedade e por seus habitantes. Seu sobrinho se submetia constantemente aos arbítrios da tia. De repente, o Doutor Camargo, médico e amigo da família há muito tempo, traz uma notícia perturbadora. Junto com a herança vinha também uma suposta filha do Conselheiro, Helena. Ela teria os mesmos direitos que Estácio e o morto ainda impôs que a jovem fosse acolhida e recebesse todo afeto que os familiares lhe deviam. Todos ficaram atônitos.

A situação deixa Úrsula exasperada. Como pode uma completa estranha vir morar na mesma casa que ela e sua família? Porém a protagonista, a despeito da reação de todos, segue para a residência do suposto pai. Eles descobrem que Helena é uma garota cortês, doce e tem uma inteligência esmerada, além de estar na flor da idade. Suas qualidades logo atraem Estácio.

Em uma determinada ocasião, o destino conspira a favor de Helena. Dona Úrsula adoece e a jovem se dedica a cuidar dela como se ela fosse sua própria mãe. A garota não saía um só momento do seu lado e ficava durante horas em vigília, sempre devotada ao bem-estar da doente. Após se restabelecer, a tia passa a vê-la de outra forma e começa a cuidar dela como se Helena fosse sua própria filha. A partir dessa data Úrsula passou a providenciar todo conforto necessário para a jovem.

Outra vez Helena quis aprender a andar a cavalo com Estácio, mas o irmão logo percebeu que ela já sabia cavalgar muito bem. Ele não compreende porque ela inventou essa história. Naquele dia a garota viu uma propriedade antiga à distância, encimada por uma bandeira. Ela desejou conhecer o lugar, mas Estácio se recusou. Helena então saiu a galope e foi até o casarão por conta própria. Porém retornou em pouco tempo.

O jovem começa a se habituar a conviver com a irmã caçula, e ela já era aceita por D. Úrsula. Enquanto isso, o médico tecia planos para unir Estácio e sua filha Eugênia; ele também tinha a intenção de convencer o garoto a entrar para a política. O filho do Conselheiro não pretendia aceitar nada disso. Eugênia, sua amiga de infância, era bela, bem-educada, mas ele não sentia nada por ela além de uma profunda amizade. Além disso, o jovem não tinha a menor vontade de ser político, menos ainda de ocupara a posição de deputado.

Porém o Doutor Camargo era persistente e ganancioso. Ele desejava alcançar, através de Estácio e Eugênia, o poder e a fama com os quais tanto sonhava. Padre Melchior, outro velho amigo da família e orientador espiritual, era aliado do médico em seus propósitos. Ele também apoiava a ideia da união conjugal das duas famílias e fazia de tudo para dissuadir Estácio de sua rejeição à proposta do Doutor.

Porém o rapaz se mostrava cada vez mais fascinado por Helena, pelas suas atitudes e comportamentos. Neste momento ele foi informado de que seu amigo de longa data, Luís Mendonça, retornara do continente europeu e chegava ao Brasil. O pai dele era negociante e o rapaz, solteiro, tinha uma vida social intensa.

Nesse meio tempo Helena prosseguia em suas cavalgadas na direção do casarão, porém agora seguia apenas na companhia de um escravo. Estácio reprovava sempre esse passeio, preocupado com a integridade de sua irmã. Porém a menina o tranqüilizava e insistia que não havia perigo algum, ainda mais porque ela não ia sozinha.

Estácio teve que partir em uma viagem, pois tinha o dever de escoltar Eugênia até a casa da tia dela, que se encontrava enferma. Ele não sentiu confiança alguma ao deixar Helena e sua tia desacompanhadas, mas não tinha escolha. O jovem teve a ideia de deixar o amigo Luís encarregado de ir todos os dias à sua propriedade para zelar pela segurança das duas mulheres. Dia a dia ele enviava e recebia correspondências de Helena e Úrsula. Estácio ficava cada vez mais saudoso de todos e ansiava por voltar para casa.

Porém a tia de Eugênia teimava em não morrer, e dessa forma o tempo passava e ele já não suportava mais sentir a falta de sua irmã. Mas, nesse período, Luís se apaixonou por Helena, sempre incentivado pelo Padre Melchior. Ele já pensava em se casar com a jovem, e ela acabou acatando essa decisão.

O amigo contou as boas novas a Estácio. Perplexo, ele detestou as notícias, porém evitou deixar que as pessoas percebessem seu desagrado. Com a insistência de Helena em freqüentar a antiga propriedade, Estácio começou a acreditar que havia algo suspeito nessa história. Ele decidiu sair à caça de algum animal e acabou se ferindo. Então foi até o casarão pedir socorro. Ali um homem muito afável e civilizado o recepcionou.

O homem misterioso resolveu limpar os ferimentos de Estácio e contou que vivia na pobreza e por isso não tinha como ajudá-lo. O jovem observa seu anfitrião e seus temores crescem. Helena estará traindo a confiança de todos e se relacionando com esse indivíduo? Ou seu amante será o escravo?  Ele parte com essa inquietação em sua mente e decide ir até o Padre. O sacerdote ouve o rapaz e o acusa de estar alimentando um sentimento incestuoso. Ele afirma que o melhor caminho para eles é Helena se unir a Luís, pois assim os sentimentos de Estácio se tranqüilizariam.

Mendonça surpreende os dois no meio da conversa e seu amigo o trata com indiferença. Estácio lhe diz que se ele se unir à Helena, irá mergulhar em um caminho de dor, pois a jovem já tem outro amor. Após essa revelação os jovens partem e o sacerdote fica triste por eles. Ao mesmo tempo, o médico procura Helena e lhe pede que intervenha junto a Estácio, para que ele se case com Eugênia. A jovem rejeita a proposta, porém Dr. Camargo, que acompanha a vida dela desde que ela era muito nova, e também compartilhava das histórias íntimas do Conselheiro, revela que conhece a verdadeira trajetória de Helena.

A garota fica atemorizada com essa descoberta e resolve cumprir os desígnios do médico. Estácio, perplexo, divide suas suspeitas com D. Úrsula, mas sua tia procura tranqüilizá-lo.  Em vão. Ele está enlouquecido de ciúmes e não sabe se seu amor por Helena é filial ou se está apaixonado por ela. Helena se fecha no seu quarto. O padre vai até a casa e, junto com Estácio, resolve ir até o casarão.

Lá acham mais uma vez o desconhecido. Ele se apresenta como Salvador e resolve esclarecer toda a história. O homem morava com a mãe de Helena, Ângela, e ambos viviam na miséria. Eles sobreviviam graças a alguns bicos e às vezes passavam fome. Helena era sua filha verdadeira, não de Vale. Ela era a alegria de sua existência. Os visitantes ficam perplexos com as revelações.

Salvador prosseguiu, contando que em certa ocasião ele foi obrigado a fazer uma viagem que se prolongou por muito tempo. Assim que ele voltou, descobriu que sua mulher estava casada com o Conselheiro Vale. Ele ficou sem rumo e foi à procura de Ângela, exigindo que sua filha ficasse ao seu lado. A mãe dela retrucou desesperada, alegando que na sua companhia a garota poderia estudar e ter maiores perspectivas de vida.  Ele então aceitou seu destino e partiu, mas sempre a observava à distância, sem chegar mais perto. Por sua vez, Vale acreditava que Salvador estava morto e, dessa forma, resolveu educar a menina como se fosse sua filha.

Antes da morte de Ângela, ele procurou sua filha, então com 12 anos, e contou a verdade. Porém não queria se contrapor aos projetos de sua ex-esposa e sumiu mais uma vez. Vale tinha morrido e ele tinha certeza de que Helena seria contemplada com parte da herança. Salvador sabia que teria de permanecer longe dela. Ele fez tudo isso para que a filha não sofresse as agruras da vida, como ele e Ângela.

Estácio e Melchior meditam sobre o assunto e quando Salvador deixa uma mensagem dizendo que decidiu sumir mais uma vez, eles aceitam dar sequência à encenação e continuar fingindo que ela é da família. Helena se angustia em seu quarto. Úrsula procura amenizar os fatos.  A condição para Salvador nunca mais procurar Helena é que ela tenha seu futuro garantido.

Assim, todos escolhem deixar tudo como está. Até mesmo o casamento de Helena e Mendonça, mas Luís agora rejeita a moça. Enquanto isso, a protagonista só deseja ficar longe de todo mundo. Mergulhada na solidão e na tristeza, ela vai definhando e morre. Estácio não se conforma e o sacerdote o conforta. Úrsula também sofre com a partida da garota. No início ela só encontrara desprezo, mas agora partia deixando dor e saudades nos corações de todos. E também o desgosto de ter protagonizado uma vida falsa e repleta de renúncia.

Considerações sobre o livro

A leitura dessa história é eletrizante e fluente. Ela cativa o leitor desde o início. Os personagens são carismáticos e sedutores, apesar de terem condutas bem diferentes. Cada um deles apresenta um lado luminoso e uma face sombria. O Doutor Camargo, por exemplo, é leal e fiel aos amigos, porém também é dissimulado e ambicioso, capaz de qualquer coisa para se destacar na sociedade de sua época.

Helena é doce e inocente, mas ao mesmo tempo se deixa envolver pelas mentiras da família e não hesita em levar adiante a falsa história de sua vida, mesmo sabendo que Estácio está apaixonado por ela. Ele, por sua vez, não consegue dominar sua paixão pela protagonista, mesmo ciente de que pode incorrer em uma relação incestuosa. Dona Úrsula inicialmente rejeita Helena, mas se mostra flexível ao modificar sua forma de pensar e ao adotar a jovem, tratando-a como se fosse sua própria filha.

Ao longo da trama os personagens, apesar de suas qualidades, acabam escolhendo sempre o caminho da hipocrisia, até mesmo o sacerdote, sempre disposto a defender com ardor os dogmas da Igreja.

Biografia do Autor

Machado de Assis é considerado um dos melhores autores da história literária brasileira. Alguns o definem como o maior escritor de nosso país. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro, e faleceu no ano de 1908, em sua terra natal.

O autor era mestiço em uma época de grande preconceito e, além disso, provinha de família simples; dessa forma, estudou apenas até o primário. Mesmo assim ele atingiu o status de funcionário público e dessa forma cativou a sociedade em um período histórico no qual ainda vigorava a escravidão em nosso país.

Em 1869 o escritor contraiu matrimônio com a portuguesa Carolina Xavier, ao lado de quem ele permaneceu até o momento de sua morte. Ela o incentivou o tempo todo em sua jornada pelo universo da literatura. Os dois não tiveram filhos e o autor passou o fim de sua existência sozinho. Sua mulher foi a inspiração para criação da Dona Carmo, do livro Memorial de Aires.

Ele foi o criador e o primeiro escritor a presidir a Academia Brasileira de Letras, no ano de 1897. Machado é famoso por seus inúmeros contos e ficções, porém produziu igualmente poemas, dramaturgia, crônicas e críticas literárias.  Seu primeiro romance, “Ressurreição”, foi lançado em 1872.

Sua obra é classificada pelos críticos em várias etapas de criação. Histórias como “Ressurreição”, “A Mão e a Luva”, “Helena” e “Iaiá Garcia”, encaixam-se na primeira fase da carreira do autor. Porém elas já apresentam elementos do período realista de Machado: a preocupação em analisar as características psicológicas dos personagens, a ironia, o solilóquio interior e as rupturas narrativas.

Arquivado em: Livros
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