O Ateneu

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Publicado em 1888, “O Ateneu” é uma das obras mais importantes do Realismo Brasileiro. Nela, Raul Pompéia sintetizou e incorporou todas as tendências literárias de seu tempo, numa linguagem peculiar e nova. Essas tendências, a saber: realista, naturalista, psicologista e parnasiana evidenciam sua singularidade e complexidade.

Revoltado, mas inteligente e atento aos acontecimentos, Pompéia forjou sua expressão literária na participação direta no cotidiano, cujos conflitos e angústias expressou nas páginas de “O Ateneu”. Autobiográfico, o livro mostra um jovem com personalidade sensível, mas desajustada ao meio ambiente e aos valores de uma educação deformadora – que se transformou em um crítico impiedoso do que viveu e viu na adolescência passada no Colégio Interno.

Narrado em 1ª pessoa, o romance inicia-se com as palavras do pai de Sérgio, o protagonista, à porta do Ateneu: “Vais encontrar o mundo. Coragem para a luta”. O que se segue a partir daí são recordações e impressões vividas por Sérgio no Ateneu, reconstituídas e comunicadas do ponto de vista subjetivo dele.

Por conta disso, o romance adquire um caráter memorialista, que é indicado pelo subtítulo: “Crônicas de saudades”. Desta forma, o universo escolar é sempre retratado e visto da perspectiva particular, irônica e deformadora de Sérgio. Assim, a instituição, os professores, os colegas e o diretor da escola, “Aristarco”, são representados de forma caricatural, destacando seus erros, hipocrisias e ambições.

Isso o narrador faz mesclando alegrias e tristezas, decepções e entusiasmos, indignação e ressentimento, como querendo vingar-se por ter perdido toda a sua adolescência entre as paredes do Ateneu.

“O Ateneu” é visto assim, como um romance introspectivo, de análise psicológica do frágil e sensível Sérgio que, retirado do aconchego do lar, viu-se deslocado no ambiente agressivo e sensual do colégio, representação da sociedade e do mundo. As palavras do pai, à porta do Ateneu, evidenciam esse caráter simbólico da escola.

Devido ao seu tom agressivo e intenção demolidora, Raul Pompéia foi severamente acusado de ter ressaltado em “O Ateneu”, com excesso, os avessos, o mau dos homens e das instituições. “Mas é na autenticidade de seu ódio que se concentra seu talento”, afirma Zenir Campos num ensaio sobre a obra do autor. “Talvez ele quisesse mostrar que o avesso, no entanto, tem o seu reverso: ‘opostos, mas justapostos’”, enfatiza.

Fontes
CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Literatura Brasileira em diálogo com outras literaturas. 3 ed. São Paulo, Atual editora, 2005, p.307.
REIS, Zenir Campos. Opostos, mas justapostos. IN: POMPÉIA, Raul. O Ateneu. 20 ed. São Paulo, Ática, 1998, p.3-7.

Arquivado em: Livros
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