A Formação Diminuta dos Cursos de Pedagogia

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Introdução

Os campos de discussões da educação são muitos e permitem-nos fazer uma viagem no tempo, conhecer os primórdios das diversas didáticas – ou da falta delas -, seus grandes pensadores – homens e mulheres que contribuíram para o desenvolvimento dos métodos e teorias de como ensinar e de como se aprende -, nos possibilita também o reconhecimento de que somos atores e atrizes das turnês educacionais.

Este trabalho nos leva a análise dos cursos de pedagogia ofertados nas Instituições brasileiras de Ensino Superior e suas reais contribuições para a formação inicial do professor que atuará na Educação Infantil, nas séries iniciais do Ensino Fundamental e, também, na Educação de Jovens e Adultos. Lembro que este é apenas um artigo/ensaio, limitado, mas com possibilidades de expansão através de pesquisas futuras e da reformulação das ideias camaleônicas circundantes no mundo.

O currículo

Todo curso tem a sua plataforma sustentada num currículo. Neste, por sua vez, deverão constar todos os conhecimentos, organizados e bem distribuídos, necessários à formação do profissional que futuramente será incluído no mercado de trabalho. Este é, sem dúvida, o principal vilão dos cursos de formação para o magistério brasileiro. O problema é que o mercado de trabalho do futuro docente é muito delicado, carente de cuidados e não passível de falhas. Creio que nem preciso lembrar – mas mesmo assim lembrarei – que dependentes do professor são todos aqueles que estão, também, em processo de formação, em busca da realização pessoal, pessoas que buscam o conhecimento global por meio da sistematização e compressão realizada pela educação. Se o professor não é bem preparado, seus alunos também não serão.

É nesse contexto que o currículo ganha destaque, empurrado pela certeza de sua vaga composição. Aqui também nasce a insuficiência e as limitações dos cursos de pedagogia. “Um curso que tem como missão formar profissionais tão diversos como professores de diferentes segmentos, além de coordenadores pedagógicos, gestores, supervisores de ensino e pesquisadores, não tem como prioridade no currículo o ‘quê’ e o ‘como’ ensinar determinadas faixas etárias”. (GURGEL, 2008)

Sem dúvida, partindo das reflexões feitas acima, para o professor, é muito importante o conhecimento prático de suas atribuições em sala de aula do que todos os saberes transmitidos nos cursos de pedagogia relativos à legislação escolar e toda superficialidade da educação. É surreal saber que numa formação tão importante aprende-se o necessário para ser aprovado em concursos públicos, mas jamais para conduzir as atividades necessárias ao aprendizado dos jovens aprendizes. Sim, consegue-se o conhecimento exigido nos concursos públicos, pois parece que há uma convenção entre as organizadoras dos concursos e IES, mesmo sabendo que através do ingresso na carreira pública, mediado pelo concurso, o professor vivenciará uma realidade totalmente divergente de sua formação inicial – o que por si só já é bastante controverso.

Certeiro é o fato de que ter ingressado na carreira pública através de concurso público não garante ao docente a excelência profissional, visto que o que se é cobrado nos concursos é apenas um reflexo das n teorias transmitidas nos cursos de formação. Pouco se cobra nos concursos as didáticas específicas das áreas dos saberes que serão trabalhadas em sala de aula. Os “quês” e os “comos” ensinar são cada vez mais banalizados e o preço a se pagar por esse fato é a decadência do ensino brasileiro.

A experiência docente

Com uma formação bastante teórica, o profissional da pedagogia – como os das demais áreas da docência – chega à sala de aula com a certeza da aplicação de todas as filosofias e conceitos aprendidos na graduação. Porém, quando passam a conviver com as diferenças, os vários credos, as preferências, os diversos planos de vida e o contexto social divergente dos divulgados nas referências bibliográficas, o professor percebe uma ruptura do conhecido, a necessidade de absorver o máximo das divulgações emergentes de sua turma e se (re) programar para tentar manter-se ativo e não abandonar a carreira conquistada com tanta dedicação.

Com certeza uma grande importância deve ser dada, nesse sentido, ao Estágio. Este é responsável por colocar o futuro docente em contato com a realidade educacional, podendo retornar à sua Instituição Formadora com as múltiplas demandas encontradas naquele novo cenário. É importante que o estagiário conflite a realidade escolar com os métodos formativos adotados nas IES, trazendo o debate para dentro do ambiente em que estão sendo formados, comparando a escola da vida real com as ilustradas pelas teorias da educação e corrigindo as falhas existentes no currículo formativo do docente.

É preciso frisar que a teoria é muito importante para a nossa prática docente. Digo até que sem teoria não existe prática e vice-versa. A teoria nos dar sustentação na aplicação de conteúdos, no contato com o aluno, nos métodos de avaliação, enfim, no convívio escolar. O que devemos fazer então é moldar as teorias à realidade na qual a nossa prática está inserida, ou seja, moldá-las para torna-las utilizáveis.

Sobre o estágio, sem dúvida ele deve acontecer, sob pena de não se ter uma formação sólida e baseada na realidade da educação, e ainda pior, de abandono total da carreira docente. Porém, é necessário um acompanhamento ao estagiário, assim será facilitada a sua iniciação docente, fase mais difícil de toda carreira profissional, visto que o contato com o desconhecido é motivo de medo e, em alguns casos, de pânico.

Considerações finais

Com certeza os Cursos de Formação em Pedagogia – e em muitas outras áreas do conhecimento humano – devem passar por sérias reformulações. É justo que o pedagogo que, em sua maioria, dedica sua vida a docência, seja um profissional em excelência, conhecedor das didáticas específicas das disciplinas objetos de trabalho e de um conhecimento que transcenda os limites das áreas do saber.

Para tornar isso possível, será primordial investir na agregação da teoria com a prática, uma dando suporte à outra e complementando-se entre si. A excelência profissional deve ter como precedente um curso formativo, também, excelente, pois do contrário continuaremos andando através do caminho controverso da educação.

As empresas organizadoras de concursos públicos deverão investir em questões inerentes a realidade escolar, ambiente onde o professor verdadeiramente está inserido e exerce sua prática docente. Isso tudo sem esquecer-se da importância de se ter um robusto estágio nos cursos de formação, pois este possibilitará o contato primeiro do futuro professor com sua plataforma de trabalho.

Aqui não posso esquecer-me de tornar evidente que a minha intenção não é criticar os profissionais da pedagogia, pelos quais eu tenho grande admiração e afinidade, mas sim fazer uma dura crítica aos cursos de formação inicial, neste ensaio o de pedagogia, porém aplicável a quase todos os demais. O debate sobre as questões emergentes da educação é muito importante. É através dele que tentamos chegar ao diagnóstico dos fracassos educacionais, mas também celebrar os muitos êxitos conquistados nesse mesmo palco.

“A boa formação é aquela que prioriza a prática, mas que sustenta-se na teoria num ciclo de interdependência e reciprocidade”.

Robison Sá.

Referência bibliográfica

GURGEL, Thais. A origem do sucesso (e do fracasso) escolar. Revista Nova Escola, São Paulo, n.16, p. 50-53, 2008.

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