A Teoria das Situações Didáticas

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Introdução

Houve um tempo em que as maiores preocupações relacionadas com os processos educativos se referiam unicamente ao ensino. A aprendizagem, produto final das inferências do ensino, não figurava nesse cenário, onde os métodos e a didática preocupavam-se com a eficiência do ato de ensinar. Embora a expansão das concepções modernas de ensino só ocorreu a partir do século 20, os estudos e teorias concebidos por Comênio já continha em seu cerne uma visão inovadora e moderna, onde “as crianças eram respeitadas como seres humanos dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites” (...).  (Márcio Ferrari, 2012)

Jan Amos Komensky (1592-1670), foi um pensador tcheco responsável pelo desenvolvimento da nova didática. Ele, que ficou conhecido como o Pai da Didática Moderna, é também considerado o primeiro grande nome da história da educação. Sem dúvida, o seu nome de batismo não condiz com o seu reconhecimento mundial, sendo amplamente conhecido pelo aportuguesamento da assinatura latina, Comenius. Sua obra mais importante é a Didática Magna, obra a qual ele dedicou toda sua vida. A nomenclatura escolhida por ele representa sua vastidão, sua irrestrição, uma abrangência que engloba os vários aspectos da pedagogia, “indo da teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula”. (Márcio Ferrari, 2012)

O objetivo deste trabalho é mostrar a importância e aplicação da didática moderna, especificamente, no campo das matemáticas. Hoje, sabe-se que somente conteúdos ou programas curriculares acabados não são suficientes para efetivar o aprendizado, sendo amplamente relevante, a didática que será utilizada para mediar o conhecimento, produto final da intenção de ensinar.

O mentor

A Teoria das Situações Didáticas foi concebida pelo educador francês Guy Brosseau. Nascido em 1933 em Tarza, no Marrocos, começou a lecionar aos 20 anos numa pequena aldeia da região de Lot et Garone. Lá, sua turma era composta por crianças com idade entre 5 e 14 anos. Em 1960 formou-se em matemática, passando a lecionar na Universidade de Bordeaux, onde, em dias atuais, "é diretor do Laboratório de Didática das Ciências e das Tecnologias e professor emérito".

Porém, foi aos 17 anos, três anos antes de sua iniciação na docência, que Brosseau ganhou uma bolsa para estudar Matemática Avançada na Universidade de Toulouse. Mas seu espírito inquieto de pesquisador, fortalecido pelo forte desejo de educar, o trouxe de volta a Escola Normal de Agen, onde tivera estudado no passado. Dessa vez buscava compreender as maneiras pelas quais as crianças aprendem os conteúdos disciplinares. Mesmo numa época cognitivista, alicerçada pelas descobertas de Jean Piaget, Brosseau buscou desenvolver uma teoria que priorizasse a relação entre aluno, professor e o conhecimento.

Com mais de 40 anos de dedicação a Didática da Matemática, Brosseau desenvolve seus trabalhos de investigação no Centro de Observação e Pesquisa em Educação Matemática, mais uma de suas criações realizada em 1972. Por fim, se Comênio é tido como o Pai da Didática Moderna, Ruy Brosseau é o Pai da Didática da Matemática.

A Teoria das Situações Didáticas

O campo de pesquisa em relação à Didática tem crescido bastante, ampliando o leque de conhecimentos sobre a relação entre os conteúdos de ensino, os alunos e os métodos utilizados para sua apropriação. No século 20, através dos estudos de Lev Vygotsky e Jean Piaget, as crianças ganharam posição de destaque num cenário onde o nascer do aprendizado destas era objeto de estudo e meticulosa investigação.

Guy Brosseau tem feito avanços importantes no campo da Didática das Matemáticas. Sendo um dos maiores estudiosos nesse sentido, ele desenvolveu uma teoria que abrange a relação entre os conteúdos de ensino, o discente e os métodos utilizados pelo professor para efetivar o aprendizado. Todas essas observações acontecem em sala de aula e, nesse sentido, ele também introduziu algumas teorias já comprovadas cientificamente para amplificar os seus estudos.

Brosseau e o mundo sabiam que o professor e o aluno eram - e são - indispensáveis ao processo de ensino, que eram atores protagonistas nos palcos da educação, mas faltava algo que seus questionamentos transformavam em inquietude: qual a contribuição do meio em que a situação evolui para o processo Ensino-Aprendizagem? Daí parte o seu estudo.

A Teoria das Situações Didáticas parte da ideia de que "cada conhecimento ou saber pode ser determinado por uma situação, entendida como uma ação entre duas ou mais pessoas". Nessa ótica, para solucionar determinada questão, o aprendiz deverá recorrer a conhecimentos desenvolvidos previamente, mesmo fora do âmbito educacional, que corresponda à expectativa do problema em ação.

É importante que o professor não apresente as respostas das questões propostas imediatamente, pois o aluno deverá pensar, agir, refletir sobre a ação e validar os argumentos usados para sustentar as suas respostas. Estamos falando de um aluno capaz de criar caminhos diversos na busca por soluções, capaz de vasculhar a mente a procura de micro ou macro conhecimentos adquiridos no pretérito e utilizá-los na situação presente. A Teoria das Situações Didáticas visa à criação de alunos autônomos, reflexivos, ativos e argumentativos. Situações dessa natureza foram batizadas por Brosseau por Situações Adidáticas. "Mas, segundo o pesquisador, a criança ainda não terá adquirido de fato, um saber até que consiga usá-lo fora do contexto de ensino e sem nenhuma indicação intencional".

Não há como separar as situações adidáticas das situações didáticas, pois a primeira faz parte da segunda e se complementam entre si. Elas são divididas, segundo Brosseau, em quatros tipos: Ação, Formulação, Validação e Institucionalização.

Ação - é o momento das tomadas de decisões, a prática do saber. É o momento em que surgem os conhecimentos não matemáticos como modelos basilares.

Formulação - Aqui os alunos formulam suas estratégias e explicitam-nas verbalmente, recorrendo à ação anterior, chegando à apropriação cônscia do conhecimento.

Validação – é a demonstração dos argumentos utilizados na resolução do problema. “O aluno não só deve comunicar uma informação como também precisa afirmar que o que diz é verdadeiro dentro de um sistema determinado”, afirma Brosseau.

Institucionalização – Nesse momento todos os procedimentos adotados pelos alunos no decorrer do debate, desde a ação até a validação, são devidamente registrados e organizados com a ajuda do professor, sempre com a presença explícita do caráter matemático validado pelos discentes.

Na Teoria das Situações Didáticas o erro aparece envolto em um novo conceito. Reconhece-se seu valor no processo de aquisição de novos saberes, onde ele “é visto como o efeito de um conhecimento anterior, que já teve sua utilidade, mas agora se revela inadequado ou falso”.

Claramente quando se trabalha com a concepção pedagógica propostas por Brosseau, tem-se uma inversão do ensino tradicional da Matemática, onde o ensino parte de conteúdos acabados, não oferecendo a possibilidade de criação por parte do aluno.

Considerações Finais

Os processos de ensino-aprendizagem não se encerram nas explanações vivenciadas nos cursos de graduação, ou até mesmo, de pós-graduação. É de responsabilidade do bom educador a atualização dos seus conhecimentos e a aquisição dos vários outros parturidos nos campos da educação moderna.

A Educação como um todo requer competências múltiplas para elevar a sua qualidade e surtir efeito no aprendiz. Em especial, a Educação Matemática, objeto central deste artigo, disponibiliza várias tendências recém-concebidas e que auxiliam na aprendizagem discente. Para isso o professor-pesquisador deverá lançar-se ao mundo novo do saber que nasce das mentes preocupadas com o desenvolvimento das práticas pedagógicas, para que estas tornem-se efetivas em suas propostas e possam transformar simples seres humanos em cidadãos voltados a propagação do bem-estar e da paz entre os seus pares.

Foi pensando nisso que apresentei aos leitores uma abordagem introdutória sobre a Teoria das Situações Didáticas. Essa é mais uma possibilidade, concebida a partir de anos de pesquisa pelo educador francês Guy Brosseau e compartilhada com o público interessado em tornar o ensino da matemática cada vez mais acessível e funcional, onde os alunos são seres ativos, capazes de criar, validar e explanar suas ideias dentro de um diálogo incialmente adidático, mas posteriormente encaixado nas plataformas da didática formal responsável por alicerçar o ensino-aprendizagem da ciência das quantidades, das formas, do raciocínio e da lógica.

“Educador é o que abre a mente às novas possibilidades, inova e renova os seus métodos de ensino a fim de tornar possível o aprendizado do discente”.

Robison Sá.

Referências Bibliográficas

O Pai da Didática da Matemática. Revista Nova Escola, São Paulo, N° 219, p. 28-29, 2009.

Comênio, o pai da didática moderna, Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/pai-didatica-moderna-423273.shtml?page=0#>. Acesso em: 15 de Janeiro de 2013.

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