Verbo intransitivo

Mestre em Linguística (USP, 2019)
Graduada em Letras (USP, 2016)

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O verbo intransitivo é aquele que não necessita de nenhum complemento na oração para que seu sentido seja completo. São exemplos: morrer, acordar, nascer, nadar, cair, mergulhar, correr.

Para entender melhor como o conceito de completude se manifesta nos verbos intransitivos, interessa saber quando um verbo não tem o seu sentido completo de maneira satisfatória, o que acontece quando ele é transitivo.

Exploramos como a transitividade se relaciona com a completude em seguida.

Transitividade e Completude

A transitividade é o conceito que a gramática normativa emprega a fim de explicar a necessidade que alguns verbos apresentam de ter um ou mais elementos que colaborem para a formação de um sentido completo.

No português, há 3 tipos de verbo que manifestam essa necessidade: os verbos transitivos diretos, os verbos transitivos indiretos e os verbos bitransitivos.

Nos verbos transitivos diretos, a transitividade se manifesta de maneira direta. Isso significa que, para ter um sentido completo, tudo que esse tipo de verbo precisa é de um objeto. Assim, não é necessário que a relação entre verbo e objeto seja mediada por um terceiro elemento.

São exemplos de verbos transitivos diretos: comer, beber, amar, querer.

Quando o verbo precisa de uma preposição para mediar sua relação com o objeto, ele é um verbo transitivo indireto. Nesse caso, a transitividade se dá de maneira indireta e a oração não tem um sentido aceitável completo quando algum dos elementos - verbo, preposição ou objeto - está faltando. Esse é o caso dos verbos: gostar, apontar, sentar, saber, obedecer, precisar.

Por fim, há verbos que necessitam tanto de um objeto direto quanto de um objeto indireto para ter um sentido completo. Nesses casos, é necessário que haja a ligação entre o verbo, o objeto direto, a preposição e o objeto indireto. São bons exemplos de verbo bitransitivo: doar, fornecer, dar.

O sentido do verbo intransitivo

Toda essa explicação sobre completude e transitividade é importante para a compreensão do que é a intransitividade porque nos verbos intransitivos a informação necessária para que o verbo faça sentido já está no próprio verbo.

Assim, enquanto verbos transitivos diretos, indiretos e bitransitivos requerem pelo menos um elemento para terem sentido completo, os verbos intransitivos não precisam de nenhum.

Vamos retomar os exemplos que demos no início deste artigo para explicar como se dá essa ausência de necessidade. Os verbos são: morrer, acordar, nascer, nadar, cair, mergulhar, correr.

Vamos inseri-los em orações:

  • Júlia morreu.
  • Acordei!
  • Meu filho nasceu.
  • Amo nadar.
  • O livro caiu.
  • Luís gosta de mergulhar.
  • Odeio correr.

Observe que, em nenhum dos exemplos, é necessário acrescentar qualquer tipo de informação ao verbo para que ele seja compreendido. Por si só, a palavra já faz referência a uma ação completa, que pode ser detalhada, mas não é necessário.

Com relação à possibilidade de detalhar a ação dos verbos intransitivos, é imprescindível ressaltar que os elementos utilizados para isso não podem ser considerados objetos.

Nos exemplos abaixo, observe que nenhum dos acréscimos feitos nas orações pode ser considerado um objeto dos verbos.

  • Júlia morreu ontem.
  • acordei.
  • Meu filho nasceu rápido.
  • Amo nadar na praia.
  • O livro caiu no chão.
  • Luís gosta de mergulhar aos finais de semana.
  • Odeio correr descalço.

As alterações acrescentadas contribuem para a oração com detalhamentos da ação que não são necessários para os verbos. Tratam-se de complementos e adjuntos. Veja que, ainda que preposições estejam presentes e isso indique a transitividade indireta, o principal requisito que define a transitividade não está presente: a necessidade de uma relação de completude.

Referência:

Cunha, C. & Cintra, L. (1985). Nova gramática do português contemporâneo. 2ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

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