Deísmo

Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

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O deísmo é a doutrina de uma religião racional ou natural, não fundamentada na revelação histórica, como é comum entre religiões positivas tais quais o Islamismo ou o Cristianismo, mas na manifestação natural de Deus à razão humana. No entanto, alguns pensadores cristãos aceitavam o deísmo por considerarem que a religião natural e o cristianismo seriam a mesma coisa. Contudo, a maioria dos deístas considera a chamada religião revelada (que, naturalmente, faz oposição à religião natural) como mera ficção. No final do século XVIII, o termo passou a significar a crença em um “Deus ausente”, que criou o mundo, estabeleceu suas leis e foi embora, deixando o mundo funcionando em seus mecanismos e ordens. Essa característica divina é frequentemente relacionada com o ofício do relojoeiro que, ao concluir a fabricação de um relógio, não interfere mais em seu funcionamento. Muitos filósofos iluministas foram considerados deístas, dentre eles Voltaire (1694 – 1778) e Diderot (1713 – 1784).

As discussões a respeito do deísmo começaram ainda no século XVII, por um grupo de pensadores ingleses conhecidos como “platônicos de Cambridge”. A principal obra referente ao deísmo inglês foi o Cristianismo sem mistérios, de John Toland (1670 – 1722) publicada em 1696, e foi através do Iluminismo que o deísmo se disseminou para o restante da Europa, sendo deístas a maioria dos iluministas franceses, italianos e alemães. Voltaire, citado acima, referia-se a seu deísmo através do termo “teísmo”, mas a distinção entre estes dois termos foi, mais tarde, estabelecida por Kant.

Podem ser divididas em três as teses fundamentais da doutrina deísta: em primeiro lugar, a religião não contém nem pode conter nada de irracional; em segundo, a verdade da religião se revela diretamente à razão humana, sendo supérflua a revelação histórica; e, por fim, as crenças da religião natural são: a existência de Deus, embora essa seja uma existência absolutamente transcendente, quer dizer, Deus está completamente for a do mundo; a criação e o governo divino do mundo e a retribuição do mal e do bem na vida futura. A prática dessas teses pode ser pensada da seguinte maneira: Deus deseja que os seres humanos e todas as criaturas sejam felizes. Para tanto, ele ordenou as virtudes como meio para a felicidade. A bondade de Deus é completamente desinteressada, quer dizer, não exige nada em troca. Desse modo, Deus garante que o conhecimento das virtudes seja universalmente acessível. A salvação não pode, portanto, depender de qualquer revelação especial.

Entretanto, o que se pensava a respeito de Deus entre os deístas não era um consenso. Os deístas ingleses, por um lado, acreditavam que Deus governava tanto o mundo físico (a lei e os fenômenos naturais) quanto o mundo moral (os valores). Os deístas franceses, por sua vez, negavam que Deus se ocupasse de qualquer tema que dissesse respeito ao ser humano e que era completamente indiferente ao seu destino. Dentre os franceses, no entanto, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) desenvolveu uma religião natural bastante próxima do deísmo inglês, pois atribuía a Deus também a garantia da ordem moral do mundo.

Para os filósofos deístas, a verdadeira religião é uma expressão universal da natureza humana, da qual a essência é a razão e que ela é a mesma em qualquer tempo e lugar. Desse modo, a existência de Deus pode ser comprovada pela razão, Acreditavam também que as tradições religiosas, como o Cristianismo e o Islamismos, citados acima, produzem crenças, sacerdócios e tiranias políticas prejudiciais, que corrompem a razão e adicionam impurezas na religião natural.

Referências:

AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. New York: Cambridge University Press, 1999.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

Arquivado em: Filosofia, Religião
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