Tartaruga-de-couro

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Tartaruga-de-couro. Foto: Stephanie Rousseau / Shutterstock.com

A espécie Dermochelys coriacea, ocorre nos oceanos tropicais e temperados de todo o mundo, chegando próximo de águas sub-árticas. Vive usualmente na zona oceânica durante a maior parte da vida. A única área regular de desova conhecida no Brasil situa-se no litoral norte do Espírito Santo.

A principal ameaça para D. coriacea no passado foi a coleta de ovos e o abate de fêmeas, o que não acontece mais nas áreas principais de reprodução. Desde a implantação do Projeto TAMAR/ICMBio em 1982, quando as desovas em numerosas praias passaram a estar protegidas, o desenvolvimento e a ocupação desordenada da zona costeira e a pesca artesanal e industrial aumentaram vertiginosamente – principalmente nos últimos 10-15 anos. As tartarugas-marinhas são capturadas incidentalmente em praticamente todas as pescarias no Brasil, com destaque para a alta mortalidade em rede de emalhe de deriva.

A tartaruga-de-couroDermochelys coriacea, constitui a única espécie da família Dermochelyidae, e difere consistentemente das demais espécies de tartarugas em alguns aspectos. Os indivíduos adultos de D. coriacea podem atingir o tamanho corpóreo de mais de 2m de comprimento do casco e pesar mais de 900kg, sendo o maior dos quelônios e um dos maiores répteis do mundo.

A área conhecida com desovas regulares de D. coriacea situa-se no litoral norte do Espírito Santo, com relatos de desovas ocasionais no Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Há registros de ocorrências reprodutivas no Piauí.

Embora extremamente pelágica, D. coriacea desova, preferencialmente, em praias tropicais com ondas e sem corais ou pedras.

Alterações no ambiente dos ovos podem gerar, desde baixos percentuais de eclosão, até grande número de embriões com deformações morfológicas e alterações na estrutura dos ninhos, no cercado, podem comprometer a emergência dos filhotes e, até mesmo, a própria sobrevivência destes no ambiente marinho.

D. coriacea apresenta uma desova com características peculiares. Junto aos ovos normais (viáveis), ela deposita um conjunto de ovos menores, as vezes com menos de 1 cm de diâmetro e sem vitelo - inférteis - chamados ovos inviáveis.

Outro fator importante e pouco definido são as técnicas de manejo dos ovos e dos recursos, pois ainda faltam informações básicas e técnicas comprovadamente seguras para os mesmos.

Os ovos inviáveis nem sempre apresentam o formato esférico, algumas vezes podem ser deformados, e 2 ou 3 ovos podem estar unidos. Geralmente, são depositados por último, isto é, por cima dos ovos normais, e representam um adicional de 10% a 33% no número de ovos da desova.

Desovas deste táxon concentram-se entre os meses de outubro e fevereiro e em uma mesma temporada reprodutiva as fêmeas podem realizar até 11 desovas.

Conservação de Dermochelys coriacea

Atualmente, a tartaruga-de-couro está incluída na lista oficial de Animais Brasileiros Ameaçados de Extinção.

Características da estratégia de vida das tartarugas marinhas, como a maturação tardia e ciclo de vida longo, tornam a recuperação populacional muito lenta. É possível que os números de desovas observados até o presente não se mantenham no futuro, devido à ação das atuais ameaças sobre o estoque de juvenis a serem recrutados para a população reprodutiva. Além disso, os estudos de tendência de população não cobrem ainda um tempo geracional para este táxon.

O aumento da atividade pesqueira nos últimos anos é considerado a principal ameaça para a população de D. coriacea .

Uma pescaria oceânica de grande impacto para D. coriacea é a pescaria com redes de emalhe de deriva (malhão) direcionada principalmente à captura de tubarões-martelo, realizada de São Paulo ao Rio Grande do Sul por embarcações oriundas dos portos de São Paulo e Santa.

O Plano Nacional para a Redução da Captura Incidental das Tartarugas Marinhas na Pesca foi criado em 2001. Este Plano de Ação é desenvolvido em conjunto com as bases de pesquisa do TAMAR, assim como com parceiros institucionais (como Universidades), pescadores, armadores de pesca e ONG’s e vem sendo desenvolvido para enfrentar o desafio de reduzir o número de capturas incidentais das tartarugas marinhas.

O impacto humano sobre os habitats das tartarugas marinhas é reconhecido há décadas, com os esforços para mitigação concentrados no ambiente terrestre. Apesar de progressos feitos na proteção e recuperação de ecossistemas marinhos em algumas áreas, impactos antropogênicos diretos ou indiretos continuam a ocorrer.

O Projeto Tartaruga Marinha - Tamar foi iniciado em 1980 com o intuito de avaliar a situação das tartarugas marinhas na costa brasileira. Presentemente o Projeto conta com 21 bases instaladas ao longo de mais de 1.000 km de praias nos litorais Nordeste, Sudeste e ilhas oceânicas.

Junto à proteção das tartarugas, outras prioridades do Projeto, que incluem identificação, manejo e administração de áreas costeiras protegidas; monitoramento e atividades de conservação para diversas espécies marinhas e costeiras; e, também, treinamento de estudantes e pessoas das comunidades locais.

D. coriacea forrageia desde a superfície do oceano até grandes profundidades. A dieta é composta por zooplâncton gelatinosos, como celenterados, pyrossomos e salpas.

Maior parte dos encalhes ocorrem nos meses de primavera e verão, influencia aos indivíduos desta espécie a encostar-se à costa para se alimentar. Há também relação com as características migratórias desta espécie.

Os principais fatores ligados ao desenvolvimento costeiro desordenado e que causam um impacto negativo nas populações de tartarugas marinhas são: movimentação da areia da praia (extração de areia e aterros); tráfego de veículos; presença humana nas praias; portos, ancoradouros e molhes; ocupação da orla (hotéis e condomínios); e a exploração (produção e distribuição) de óleo e gás.

Existem diferentes formas de poluição que constituem uma ameaça para os habitats marinhos e terrestres das tartarugas marinhas que incluem som, temperatura, luz, plásticos, produtos químicos, efluentes e outros. De um modo geral, a poluição de qualquer tipo, ocorrendo acima de um certo limiar, pode produzir uma área inabitável. Em níveis abaixos desse limiar, pode significativamente degradar a qualidade do habitat, a capacidade de carga e outros aspectos da função do ecossistema.

Algumas pesquisas já vêm demonstrando o efeito potencial dos poluentes sobre as tartarugas marinhas, em especial os resíduos sólidos, artes de pesca descartadas, metais pesados, pesticidas organoclo e a poluição por hidrocarbonetos

Dermochelys coriacea é totalmente protegida por instrumentos legais nacionais, que proíbem todo e qualquer tipo de uso além de prever medidas de proteção das áreas de desova. Muitas das vezes são encontrados animais mutilados, como não se adaptam a cativeiro recebem tratamento veterinário e logo após são soltos, pois só assim teriam chances de sobreviver.

Existe uma unidade em Comboios – ES que é a única que protege a área de desova da tartaruga gigante e que é de gestão federal. Diversas medidas são tomadas como manter o monitoramento das áreas de desova garantindo a proteção dos ninhos, filhotes e fêmeas; identificar as áreas de alimentação e programar ações de manejo e pesquisa de longa duração; realizar levantamento sobre a interação com as pescarias costeiras; desenvolver e implementar tecnologia para minimizar impactos antropogênicos, dentre outras medidas.

No Brasil, não há comércio de ovos ou carne nas áreas de desova. Desde 1982 quando o Projeto TAMAR-ICMBio foi implantado no Norte do Espírito Santo, não houve registros de abate de fêmeas, mas há registros esporádicos de coleta de ovos, cerca de uma desova por ano.

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Foto: http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-especies/355-tartaruga-de-couro.html

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