Falácia da falsa equivalência

Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

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Existem muitas questões que não possuem necessariamente uma verdade, são questões que, na maioria das vezes, dependem do gosto de quem os avalia. Por exemplo: “qual a melhor música de Chico Buarque: Construção ou Geni e o Zeppelin?” ou “Qual é o melhor super-herói do cinema, Capitão América ou Homem de ferro?” Estes são exemplos simples, que não afetam direta ou gravemente a ninguém. No entanto, esse tipo de questão também existe em temas mais complexos que afetam uma grande variedade de pessoas, são temas que exigem uma análise mais profunda, como discussões sobre políticas públicas. Por exemplo: devem ser aplicadas cotas raciais para o ingresso em universidades públicas? Deve ser criado um imposto sobre as grandes fortunas? Estas são questões em que se faz necessária uma análise séria e rigorosa, mas não há sobre elas um consenso sobre onde (ou com quem) está a verdade, de modo que em alguns contextos uma alternativa é mais adequada que a outra e vice-versa.

Entretanto, não são todos os casos que devem ser considerados a partir de dois ou mais pontos de vista. Alguns debates não devem ser levados em conta porque um dos lados não possui respaldo para a discussão, quer dizer, não possui o conhecimento científico necessário para assumir um posicionamento sério a respeito da questão. Um exemplo é a discussão sobre o verdadeiro formato da Terra. Desde a antiguidade diversos pensadores realizaram análises científicas que confirmavam a forma esférica da Terra até que o ser humano pudesse ir ao espaço e confirmar com seus próprios olhos o formato do planeta. Todavia, pessoas de diversas partes do mundo tem questionado essa verdade fundamentados em crenças ideológicas, preconceitos e opiniões divulgadas nas redes sociais que não possuem nenhum suporte científico. Sendo assim, dar lugar a um debate como esse é atribuir o mesmo valor de relevância aos dois lados quando, na verdade, essa igualdade não existe. A esse tipo de erro dá-se o nome de falácia da falsa equivalência.

A falácia da falsa equivalência é uma falácia não-formal e acontece quando dois lados opostos de um argumento são apresentados como equivalentes quando, na verdade, não o são. É bastante recorrente em discussões políticas e científicas, como no exemplo anterior. Um exemplo político de falsa equivalência pode ser encontrado em argumentos que tendem a equiparar dois personagens políticos, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro ao ditador nazista Adolf Hitler, como se ambos fossem equivalentes quando, na verdade, não o são.

No âmbito dessa falácia pode-se encontrar também a falácia do equilíbrio (balance fallacy, em inglês), que é bastante comum em debates promovidos por programas de auditório e jornais televisivos. Nesse caso, a falácia se dá em inserir na discussão alguém que não possui autoridade sobre o assunto a fim de discutir com uma pessoa devidamente qualificada. Um exemplo desse caso são as frequentes discussões a respeito do meio ambiente em que, para debater com um cientista devidamente qualificado, que apresenta dados preocupantes sobre incêndios e desmatamentos em regiões florestais, coloca-se em oposição uma pessoa sem a devida qualificação para o debate, apenas para provocar uma tensão no debate.

As falácias de equivalência e de equilíbrio não produzem nenhum conhecimento verdadeiro e, na maioria das vezes, deixam o espectador ainda mais confuso ou provocam a confiança em crenças equivocadas.

Referências:

ABOVE THE NOISE. False Equivalence: Why It’s So Dangerous. Disponível em: https://youtu.be/oFC-0FR2hko. Acesso em: 16 de nov. 2019.

SKEPTICAL RAPTOR. False equivalence and false balance. Disponível em: https://www.skepticalraptor.com/skepticalraptorblog.php/logical-fallacies/false-equivalence-logical-fallacies/. Acesso em: 16 de nov. 2019.

Arquivado em: Filosofia
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