Atentado do Aeroporto dos Guararapes

Mestre em História (UERJ, 2016)
Graduada em História (UERJ, 2014)

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O Atentado do Aeroporto dos Guararapes foi a explosão de uma bomba no Aeroporto Internacional do Recife com o propósito de atingir o general Artur da Costa e Silva, em 25 de julho de 1966. Costa e Silva ocupava o ministério do Exército e fazia parte dos militares da linha dura que pretendiam o recrudescimento do regime militar, fatores que colaboraram para a escolha dele como alvo. Na data do atentado, viajava para Pernambuco para uma atividade política na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e a chegada do voo a Recife estava prevista para 8h e 30m, no entanto, houve um desvio de rota, impedindo que a explosão vitimasse Costa e Silva (cf. GASPARI, 2002, p.243). O disparo da bomba ocasionou a morte de duas pessoas e deixou treze feridos.

A explosão no Aeroporto de Recife não foi a única ocorrida naquele dia de 1966, houve também explosões na sede na União Estadual dos Estudantes e no Consulado dos Estados Unidos. Essas ações foram atribuídas a Fidel Castro e a Conferência Tricontinental de Havana. Essas acusações foram feitas pelo Ministro da Guerra, marechal Ademar de Queiroz, pelo embaixador em Washington, Vasco Leitão da Cunha, e pelo próprio Costa e Silva pouco após o atentado. E um peruano suspeito de realizá-lo foi preso, apesar de não haver nenhuma relação evidente com a ação (cf. Idem, p.244). A forja de culpados não cessou, e em 1968, o delegado Moacir Sales acusou os militantes de esquerda Ednaldo Miranda e Ricardo Zarattini de elaboração e execução do atentado do Aeroporto dos Guararapes. Recentemente, em 2013, a Comissão da Verdade de Pernambuco inocentou Ednaldo e Zarattini (cf. Relatório CNV, 2017, p.313).

O autor mais provável da ação no aeroporto e do lançamento das demais bombas era um militante da organização católica Ação Popular (AP), Raimundo Gonçalves Figueiredo. A Ação Popular aproximava-se da extrema esquerda, tendo militantes que mantinham contatos em Havana e Pequim, alguns deles foram até mesmo treinados na China e em Cuba. A Ação Popular possuía duas frentes: uma combatia o regime por meio de discursos e a outra se aproximava da ação guerrilheira e atuava sigilosamente. Depois do Atentado do Aeroporto dos Guararapes, a direção da AP reviu suas ações e procurou afastar-se das relações com Havana e condenou o ato no aeroporto. Raimundo Gonçalves Figueiredo não agiu arregimentado pela direção da AP, organizou o atentado do aeroporto de modo destacado com mais cinco estudantes. (cf. GASPARI, 2002, p.245)

A Ação Popular não assumiu oficialmente a autoria do atentado, contudo, a declaração do militante ex-padre Alípio de Freitas tornou mais evidente a origem da ação no aeroporto. Em entrevista, após mais de três décadas do ocorrido no aeroporto, Alípio de Freitas falou sobre o atentado: “Morreu gente, nós lamentamos. Mas era uma guerra, tinha que haver vítimas” (Apud, Idem). Alípio de Freitas montou um núcleo de tiro na Bahia e recrutou os militantes que atuaram no Recife, inclusive, Raimundo Gonçalves Figueiredo. (cf. Idem)

A Ação Popular afastou Raimundo após o atentado. Depois do afastamento, Raimundo atuou na Ala Vermelha do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e na Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares). Em 1971, o Departamento de Ordem Política e Social de Pernambuco (DOPS/PE) descobriu a organização da VAR-Palmares que atuava no município de Paulista e prendeu Raimundo e outros militantes da organização. No cárcere, Raimundo foi torturado até a morte, em 28 de abril de 1971 (cf. Relatório CNV, 2017, p. 250-252). O Atentado do Aeroporto dos Guararapes foi o precursor das ações armadas da extrema esquerda durante o Regime Militar (1964-1985) no Brasil.

Referências:

GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 242-245.

PERNAMBUCO. Secretaria da Casa Civil Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara: relatório final: volume I / Secretaria da Casa Civil. Recife: CEPE, 2017.

______________. Secretaria da Casa Civil Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara: relatório final: volume II/ Secretaria da Casa Civil. Recife: CEPE, 2017.

Arquivado em: Ditadura Militar
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