Função poética

Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF)
Graduação em Letras (Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira, FUNCESI)

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A função poética centra-se na mensagem para apresentar um texto cuidadosamente elaborado, que atraia pelo novo e pela beleza. Para tal, rompe-se com o padrão linguístico, por meio do uso de figuras de estilo, ritmos, sonoridade de palavras, entre outros recursos. Vamos compreender melhor esse tipo de função, lendo este poema de Carlos Drummond de Andrade:

Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
Pomar amor cantar

Um homem vai devagar
Um burro vai devagar
Um cachorro vai devagar

Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus!

O poema acima busca evidenciar a rotina, de vagarosidade, que caracteriza a vida em uma cidadezinha do interior. Observe que a primeira estrofe (“Casas entre bananeiras/ Mulheres entre laranjeiras/ Pomar amor cantar”) tem um efeito pictórico. Em outras palavras, é como se o eu poético estivesse pintando um quadro das imagens evocadas pelos versos. A soma de imagens cria um cenário marcado por uma atmosfera estática.

Na segunda estrofe, a repetição da expressão verbal “vai devagar” sugere a lentidão e o caráter imutável da vida na cidadezinha. É essencial enfatizar que, fora dos domínios poéticos, a repetição de termos deve ser evitada, para manter a coesão textual. Daí dizermos que a função poética rompe com a normalidade no que se refere à linguagem, a fim de gerar efeitos de sentidos variados.

Em “Devagar... as janelas olham.”, registra-se o emprego da metonímia, figura de linguagem que consiste na substituição de uma palavra por outra, com a qual estabelece uma relação de proximidade. Quando diz “as janelas olham”, o eu poético refere-se ao hábito das pessoas de cidadezinhas de ficarem olhando pela janela. Por fim, ele exprime, em tom informal,um pensamento ou um desabafo sobre a vida na “cidadezinha qualquer” (“Eta vida besta, meu Deus!”). Nesse caso, ocorre a função emotiva. Porém, cumpre ressaltar que a função poética predomina no texto, tendo em vista os efeitos de sentido gerados pelas escolhas linguísticas feitas.

É importante acrescentar que a função poética, embora predomine na poesia, não se realiza somente nela. Veja esse tipo de função no texto:

Uma pessoa pode ter uma infância triste e mesmo assim chegar a ser muito feliz na maturidade... Da mesma forma pode nascer num berço de ouro e sentir-se enjaulada pelo resto da vida. (Charles Chaplin)

O texto acima (uma máxima) expõe um pensamento sobre a relação entre uma infância triste e uma infância feliz com a posteridade da vida. Nesse contexto, a função emotiva ou expressiva da linguagem predomina. Contudo, a linguagem poética também se faz presente, por meio do emprego de expressões como “nascer num berço de ouro” e “sentir-se enjaulada” que funcionam como metáforas no contexto comunicativo.

Para concluir

A função poética acontece quando há ruptura com a linguagem padrão, de forma a criar algo novo. Figuras de estilo, ritmos, sonoridades de palavras, entre outros elementos, entram em cena na construção do texto que preza pelo extraordinário. A função poética predomina na poesia, mas ocorre em outras esferas da comunicação.

Leia também:

Referências:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 12.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978. p.34.

CHAPLIN, Charles. Disponível em: <https://www.pensador.com/autor/charles_chaplin/2/>.

BARROS, Diana Pessoa de. A comunicação humana. In: FIORIN, José Luiz. (org.) et al. Introdução à Linguística. 6.ed. 7ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2019. p. 25-53.

Arquivado em: Linguística, Português
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