Dom Hélder Câmara

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Hélder Pessoa Câmara, futuramente Dom Hélder Câmara, nasceu em Fortaleza, no dia 7 de fevereiro de 1909, em uma família pobre, de treze filhos, dos quais ele era o décimo primeiro; desta prole sobreviveram oito crianças, pois o restante sucumbiu a uma epidemia de gripe então vigente nesta região. Ele era fruto da união entre o maçom, jornalista, crítico teatral e trabalhador de uma empresa comercial, João Eduardo Torres Câmara Filho, e a professora do ensino primário Adelaide Pessoa Câmara.

Seu nome foi uma escolha paterna, referência a um singelo porto holandês. Sua tendência para o sacerdócio manifestou-se logo cedo, aos quatro anos, provavelmente pelo poder carismático dos padres da ordem lazarista, que serviam ao Senhor na Arquidiocese de Fortaleza, considerada por todos como o Seminário da Prainha. Nesta mesma instituição o menino Hélder entrou em 1923, aí realizando os estudos de preparação, e posteriormente se formando em filosofia e em teologia. Ele foi consagrado padre aos 22 anos, em 15 de agosto de 1931, com uma licença extraordinária da Santa Sé, pois ele não tinha ainda a idade mínima necessária para a ordenação, a de 24 anos.

Um dia depois ele já rezava sua primeira missa; logo depois assumiu o cargo de diretor do Departamento de Educação do Ceará, permanecendo neste posto por cinco anos. No mesmo ano em que se ordenou ele criou a Legião Cearense do Trabalho, em 1933, e a Sindicalização Operária Feminina Católica, que reunia lavadeiras, passadeiras e empregadas domésticas. Dom Hélder também integrou as discussões e elaborações de políticas de Estado voltadas para a esfera educacional pública.

Em 1936 ele seguiu para o Rio de Janeiro, aí se fixando por 28 anos. Durante sua permanência nesta cidade ele escreveu para periódicos católicos, exercitou tarefas de teor apostólico, coordenou o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, trabalhou como Diretor Técnico do Ensino da Religião, criou a Cruzada São Sebastião, com o objetivo de oferecer moradia digna aos favelados cariocas, um impulso inicial para a construção de outros complexos habitacionais, e instituiu o Banco da Providência, em 1959, que tinha por meta auxíliar os que viviam em condições precárias.

No dia 3 de março de 1952 ele foi consagrado como bispo auxiliar do Rio de Janeiro, sendo nomeado bispo em 20 de abril de 1952, quando tinha ainda 43 anos, por Dom Jaime de Barros Câmara, Dom Rosalvo Costa Rego e Dom Jorge Marcos de Oliveira. Neste período ele contribuiu para revigorar a CNBB – Conselho Nacional dos Bispos do Brasil -, onde atuou como Secretário Geral, incrementando a união entre os bispos de todo o país, ajustando os ideais da Igreja Católica aos padrões modernos, principalmente envolvendo esta instituição na defesa da justiça e da cidadania.

Dom Hélder também exerceu ação de destaque no Concílio Ecumênico Vaticano II, criando e assinando o Pacto das Catacumbas, texto subscrito por aproximadamente 40 padres participantes deste encontro, no dia 16 de novembro de 1965, nas catacumbas de Domitila, na cidade de Roma. Este movimento marcou profundamente a Teologia da Libertação.

Ele foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife em 12 de março de 1964, cargo que ocupou até dia 2 de abril de 1985. Durante este apostolado ele organizou um governo colegiado na diocese pela qual era responsável, dividindo-a em esferas pastorais; instituiu o Movimento Encontro de Irmãos, o Banco da Providência e a Comissão de Justiça e Paz desta circunscrição territorial; bem como consolidou as Comunidades Eclesiais de Base. Por sua clara atuação na luta pelos direitos humanos, pela justiça e contra o autoritarismo, Dom Hélder entrou em choque com a Ditadura Militar.

Perseguido pelos militares, impedido de se expressar na mídia e considerado comunista pelo governo, não deixou de resistir aos abusos estatais e de se comprometer com os explorados e com os condenados pela Ditadura. Carismático orador, celebrizou-se rapidamente, especialmente fora do país, onde suas idéias disseminaram-se amplamente. Elaborou vários projetos e instituições, muitas delas não-governamentais, voltadas para combater a fome no Nordeste, ao mesmo tempo que defendia os ideais cristãos de humildade e caridade.

Nos anos 90 ele inaugurou, com o auxílio de várias organizações filantrópicas, na Fundação Joaquim Nabuco, a campanha Ano 2000 Sem Miséria. Dom Hélder publicou inúmeras obras, posteriormente traduzidas em diversos idiomas, entre os quais o japonês, o inglês, o alemão, o francês, o espanhol, o italiano, o norueguês, o sueco, o dinamarquês, o holandês, o finlandês.

Dom Hélder faleceu no dia 28 de agosto de 1999, em Recife, aos 90 anos, depois de ser indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz, e de receber pelo menos seiscentas condecorações, entre placas, diplomas, medalhas, certificados, troféus e comendas. Em fevereiro de 2008 a Congregação para a Causa dos Santos recebeu o pedido de beatificação de Dom Hélder, enviado pela Comissão Nacional de Presbíteros (CNP), ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Em 2009, no dia 7 de fevereiro, a Regional Nordeste 2 da CNBB, a arquidiocese de Olinda e Recife, o Instituto Dom Hélder Câmara (IDHeC) e a Universidade Católica de Pernambuco celebrarão o centenário de nascimento de Dom Hélder, visando preservar sua memória e sua trajetória em prol da justiça e da prática dos verdadeiros preceitos cristãos.

Arquivado em: Biografias
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