Dualismo

Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

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O dualismo é uma visão filosófica que afirma que a realidade é constituída por duas partes que não podem ser reduzidas uma à outra. O ponto crucial do dualismo demonstra-se da seguinte maneira: caso compreenda-se ser necessária a justificação do universo como algo compreensível, essas duas partes devem ser reconciliadas. O dualismo é um dos elementos fundamentais da metafísica.

Já na filosofia dos pré-socráticos o dualismo aparece sob a forma de aparência e realidade. Em Platão, ele se mostra na crença na existência de um mundo ideal, que contém ideias eternas, e de um mundo sensível, onde as coisas estão em constante transformação. Na visão de mundo medieval, o dualismo aparece como a divisão entre seres humanos finitos e um Deus infinito ou entre essência e existência, enquanto no que se assume como o início do pensamento moderno, René Descartes (1596 – 1650) afirma a existência de uma mente pensante e uma matéria extensa, apresentando, assim, a fonte da discussão posterior a respeito do problema da relação entre a mente e o corpo. Já no âmbito da filosofia moderna propriamente dito, o filósofo escocês David Hume (1711 – 1776) divide o mundo entre fato e valor, enquanto o alemão Immanuel Kant (1724 – 1804) fenômenos empíricos e coisas-em-si transcendentais. Já no século XX, Martin Heidegger (1889 – 1976) divide o mundo em Ser e Tempo, influenciando o pensamento do existencialista francês Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), que estabeleceu o contraste entre o Ser e o Nada. No âmbito das discussões religiosas, o dualismo aparece sob a forma da relação entre o sagrado e o profano ou entre o religioso e o secular. Pode-se perceber, portanto, que em toda a história da filosofia o dualismo esteve efetivamente presente, embasando a construção dos mais diversos sistemas filosóficos.

O termo dualismo foi cunhado no século XVIII para se referir à doutrina de Zoroastro, que admitia a existência de dois princípios ou divindades, uma do bem e outra do mal, que lutavam constantemente entre si. Neste mesmo modo, o dualismo foi compreendido também por outros filósofos, como o alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1714). Essa forma de dualismo religioso para a compreensão da realidade pode ser igualmente encontrada em outras tradições, como o maniqueísmo, doutrina da qual Santo Agostinho foi um adepto e que posteriormente criticou após sua conversão ao cristianismo. O maniqueísmo também acreditava na existência de dois deuses em conflito, um bom e um mal, sendo o primeiro o criador das almas e o segundo o criador do mundo físico.

O significado mais comum do dualismo, contudo, foi estabelecido pelo filósofo alemão Christian Wolff (1679 – 1754), que identificava como dualistas aqueles admitiam a existência de substâncias materiais e substâncias espirituais. Este é o significado de dualismo mais comum e difundido no decorrer da tradição filosófica. Apesar dos diferentes modos de dualismos da história da filosofia apresentados nos parágrafos anteriores, Wolff afirmava que o criador do dualismo foi Descartes, quando identificou a existência de duas diferentes espécies de substâncias, a corpórea e a espiritual (a mente). Foi a partir da difusão dessa compreensão de Wolff que foi possível aos filósofos posteriores identificarem a presença do dualismo na tradição filosófica, seguindo-a mesmo até à antiga filosofia pré-socrática.

Esta definição tradicional do dualismo é comumente intitulada “dualismo cartesiano” e é um dualismo de substância. Há, no entanto, um outro tipo de dualismo, chamado “dualismo causal”, sustentado pelo filósofo inglês Bertrand Russell, que afirmava que o dualismo não era entre duas substâncias mas entre dois tipos de leis: leis causais físicas e leis causais psicológicas.

A doutrina que se opõe diametralmente ao dualismo é chamada de monismo.

Referências:

AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. New York: Cambridge University Press, 1999.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

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