Intoxicação por chumbo

Mestre em Neurologia / Neurociências (UNIFESP, 2019)
Especialista em Farmácia clínica e atenção farmacêutica (UBC, 2019)
Graduação em Farmácia (Universidade Braz Cubas, UBC, 2012)

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O chumbo é um elemento químico pertencente aos metais, possuindo massa atômica de 207,2 u e naturalmente encontrado nas crostas terrestres em estado sólido em temperatura ambiente. Os metais são substâncias com alta condutividade elétrica e característicos pelo seu brilho, no caso do chumbo aspecto prateado brilhante, levemente azulado manchando em contato com o ar. Sua toxicidade é extremamente alta e devido sua utilização generalizada houve extensa contaminação do meio ambiente. Diversos problemas de saúde em diversas partes do mundo foram causados pelo chumbo, gerou tragédias ambientais causando prejuízos praticamente irreparáveis ao meio ambiente como nos desastres de Mariana e Brumadinho.

Amostra de chumbo. Foto: Kim Christensen / Shutterstock.com

Há diversas fontes e origens de exposição a este metal e em sua maioria são de origem antropológica, ou seja, por ação do ser humano, como nos casos dos rejeitos de minérios, produção de metais e plásticos, fertilizantes e pesticidas, derretimento de minérios, extração de petróleo e sistema de exaustão de veículos, rejeitos de baterias, munição de armas, jarros de estanho, brinquedos, torneiras, canos e baterias de armazenamento. Em 1990 a produção global e consumo do chumbo chegaram a passar de 1.500.000 toneladas, e atualmente países como os Estados Unidos chegam a liberar entre 100 a 200 mil toneladas de chumbo por ano na atmosfera através da liberação dos escapamentos dos veículos. A exposição do chumbo no ser humano normalmente se dá pela ingestão de água ou comida contaminada e pela inalação dos gases liberados pela combustão veicular.

Os metais normalmente não são metabolizados nos seres vivos, causando portanto bioacumulação (contaminação por exposição direta) e biomagnificação (contaminação pela cadeia alimentar). O chumbo por ter alta reatividade possui a capacidade de se ligar a diversas estruturas celulares ou macromoléculas sendo portanto muito tóxico. A exposição das plantas ao chumbo pode desencadear diversos processos fisiológicos como o aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (moléculas instáveis e extremamente reativa sendo capazes de transformar outras moléculas com as quais colidem) causando danos às membranas celulares, levando a supressão do crescimento da planta (JAISHANKAR, 2014). No entanto, esses danos causados as plantas não são necessariamente em altas concentrações, de acordo com estudos mesmo a baixa concentração de chumbo pode causar instabilidade na absorção de nutrientes pela planta levando a incapacidade fotossintética e intensa inibição do crescimento vegetal.

Tragédias como os de Mariana e Brumadinho causam aumento da concentração de diversos minerais no meio ambiente, entre eles o chumbo, trazendo danos irreversíveis a flora e a fauna local. A descontaminação desses locais podem durar centenas de anos, uma vez que o solo, a água, as plantas e os animais serão contaminados. Como resultado temos a inutilização do local, uma vez que se a população local voltar a produzir, cultivar, ou utilizar os recursos naturais do local estarão expostos a altos níveis destes metais, podendo levar a danos irreparáveis a saúde.

No ser humano a intoxicação por chumbo pode levar a diversos problemas de saúde, e em muitos casos esses problemas aparecem de forma tardia a exposição, ou seja, após longo período de contato com esse metal. A toxicidade causada pelo chumbo em células causam o estresse oxidativo causada pelo desequilíbrio na produção de radicais livres e na geração de antioxidantes para combate a esses radicais, além da alteração a permeabilidade iônica. O chumbo também pode causar toxicidade devido sua habilidade de substituir cátions como o Cálcio, Magnésio, Sódio e Ferro causando distúrbios em todo o metabolismo, causando morte celular, alterando funções biológicas e processos fisiológicos como liberação de neurotransmissores, regulação enzimática, transporte iônico entre outros.

Os efeitos clínicos mais comuns são: dificuldade de memória e aprendizado, disfunções coordenativas; distúrbios de personalidade, neuropatias motoras periféricas, anemia hipocrômica, nefropatia entre outros. O tratamento é feito com agentes quelantes capazes de se ligar ao chumbo inibindo sua ação, complexantes via endovenosa e o afastamento da fonte de exposição que é fundamental para evitar mais absorção.

Fontes:

Flora SJS, Mittal M, Mehta A. (2008). Heavy metal induced oxidative stress & its possible reversal by chelation therapy. Indian J Med Res 128: 501–523.

Mathew BB, Tiwari A, Jatawa SK. (2011). Free radicals and antioxidants: A review. Journal of Pharmacy Research 4(12): 4340–4343

JAISHANKAR, Monisha et al. Toxicity, mechanism and health effects of some heavy metals. Interdisciplinary toxicology, v. 7, n. 2, p. 60-72, 2014.

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