A Paixão segundo G. H.

Por Ana Paula de Araújo
Categorias: Livros
Ouça este artigo:
Este artigo foi útil? Considere fazer uma contribuição!

Romance da escritora Clarice Lispector, foi publicado em 1954 e compõe a bibliografia da autora em suas características mais profundas.

O enredo trata de uma mulher que é identifica pelas inicias G.H. que após demitir a empregada vai arrumar o próprio quarto. Em um determinado momento, ela esmaga uma barata que estava na porta do guarda-roupa, daí inicia-se o momento epifânico da personagem.

Ela, em um longo monólogo em primeira pessoa constrói um labirinto de palavras, em A Paixão Segundo G.H. os fluxos de consciência permeiam o livro.

A narrativa foge ao padrão convencional ao tratar dos problemas do ser consigo mesmo e com o mundo, resultando daí o chamado romance introspectivo. Os pensamentos são transcritos conforme eles surgem à cabeça da personagem. Assim, a literatura introspectiva e intimista de Clarice Lispector fixa-se na crise do próprio indivíduo. Tal forma de narrar é um convite para que o leitor se atire nessa atmosfera que busca, acima de tudo, a compreensão do ser humano.

A inquietação da personagem e da linguagem da obra é percebida logo no início da narrativa, no momento em que a narradora está começando a escrever. Ela bate várias vezes a mesma tecla da máquina, o que, de certa forma, revela o estado inquietante de espírito. Esse primeiro contato demonstra preocupação e incerteza diante daquilo que ela quer contar e cujo sentido não se esgota exclusivamente nas palavras, mas depende do que não está sendo dito, daquilo que está escrito nas entrelinhas, daquilo que é indizível.

Sem nome, G.H. identifica-se com todos os seres. Entre suas vias possíveis está a mística, aberta a múltiplos temas, como a linguagem e a arte, que se fundem na busca espiritual.

O momento maior de revelação se dá na cena mais famosa do romance. A barata, após perder sua casca, expele a secreção branca que aparece como sua última essência. G.H., então, a come. Estaria aí a renúncia que a personagem faz a seu próprio ser como linguagem, que, logo após o ato, entrega-se ao silêncio.

Fonte:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/a/a_paixao_segundo_g_h

Este artigo foi útil? Considere fazer uma contribuição!