Anestesia em animais

Por Juliana Carvalho de Almeida Borges

Mestre em Ciência Animal (UFG, 2013)
Graduada em Medicina Veterinária (UFG, 2010)

Categorias: Medicina Veterinária
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Em medicina veterinária a eficácia dos procedimentos cirúrgicos ou exploratórios são dependentes do processo de anestesia, que visam conter, suprimir a dor e insensibilizar o paciente. O agente anestésico é uma substância capaz de bloquear de forma reversível a percepção de um estímulo nervoso. Sua ação pode ser geral, local ou regional.

Foto: GaiBru Photo / Shutterstock.com

O processo anestésico contempla condutas antes, durante e após se injetar o fármaco no animal, com o objetivo de manter sua estabilidade até sua completa recuperação. Exceto em situações emergenciais, o indivíduo a ser submetido à anestesia deve passar por uma avaliação pré-anestésica, para que seu estado de saúde seja mensurado por exames clínicos, laboratoriais e de imagem. Conforme os resultados, elabora-se o protocolo farmacológico mais apropriado.

A anestesia geral é bastante usada em animais e ela atua no sistema nervoso central, o que induz a perda da consciência, mas mantém a proteção neurovegetativa. Sua associação com as medicações pré-anestésica (MPA) tem a finalidade de facilitar o processo de indução, promover analgesia, miorrelaxamento e reduzir a quantidade e os efeitos adversos da droga anestésica. Dentre as MPA tem-se as drogas anticolinérgicas, fenotiazínicas, ansiolíticas, sedativas e hipnoanalgésicas. A escolha do fármaco poderá variar de acordo com a espécie e a higidez do animal.

A anestesia geral pode ser ou injetável ou inalatória. A primeira divide-se em três categorias, conforme composição farmacológica: barbitúrica, não-barbitúrica e dissociativa. A vantagem é a possibilidade de se utilizar mais de uma via de administração, conforme as características físico-químicas do fármaco. Os barbitúricos são práticos de serem aplicados e o valor é acessível, porém é inviável em animais cardiopatas, hepatopatas, nefropatas, chocados e idosos, além disso, eles não promovem o relaxamento muscular e o animal demora a recuperar-se da anestesia.

O propofol é um anestésico não-barbitúrico de rápida indução e recuperação do animal, porém os felinos são mais sensíveis a esse fármaco, o qual apresenta metabolização basicamente pelo fígado, o que inviabiliza o uso por indivíduos hepatopatas. Deve-se ter cuidado com a formulação comercial do propofol, pois ela inclui substâncias orgânicas, que favorecem o desenvolvimento de bactérias e produção de endotoxinas, assim o fármaco não pode ser utilizado por muito tempo, após a abertura do frasco.

A anestesia geral dissociativa é representada pelo fármaco cloridrato de quetamina, que dissocia o córtex cerebral de maneira seletiva, promovendo analgesia sem perda dos reflexos protetores. Sua associação com a MPA xilazina viabiliza a realização de cirurgias extensas ou aberturas de cavidade, sem dor aguda ou crônica. Suas ações no organismo incluem o estímulo da freqüência cardíaca e da vasoconstrição periférica, ademais induz um estado cataleptóide. Tem-se metabolismo hepático e eliminação renal. A quetamina não deve ser usada em animais idosos ou hipertensos.

O uso da anestesia inalatória em animais ganhou bastante espaço nos últimos anos por ser considerada mais segura e eficaz. Apesar de qualquer intervenção anestésica envolver eventuais intercorrências, a aparelhagem usada na inalatória permite maior controle do plano anestésico e o monitoramento dos parâmetros vitais do animal. O isoflurano e o sevoflurano são alguns dos representantes desse grupo, os quais apresentam eliminação pulmonar e efeito mínimo na função cardiopulmonar, por isso podem ser indicados para animais neonatos, idosos ou que apresentem comorbidades.

Alguns procedimentos cirúrgicos podem ser satisfatoriamente efetuados sob efeito da anestesia loco-regional. Ela atua no sistema nervoso periférico e inibe a sensibilidade por bloqueio de um pequeno nervo, um tronco nervoso ou até mesmo um plexo nervoso (perineurais). Alguns exemplos incluem: a lidocaína, tetracaína e bupivacaína, que podem ser usadas isoladas ou com sedação prévia do animal. As perineurais são bastante empregadas em descornas, recalques dentários e intervenções nos membros.

Em animais de grande porte, esse método de anestesia permite que as laparotomias sejam efetuadas em posição de estação (quadrupedal), evitando o decúbito prolongado. Há também bloqueios regionais nas proximidades da medula espinhal e eles são conhecidos como raquianestesia e epidural.

Portanto tem-se muitas técnicas e protocolos anestésicos, que devem ser usados de acordo com as necessidades específicas de cada animal, pois desse modo a obtenção de um procedimento tranquilo e bem sucedido é mais garantido.

Referências:

Berriel, B. et al. Anestesia total intravenosa em gato com grave doença periodontal: Relato de caso. IN: Anais Do 10º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unipampa: v.2, 2018.

Massone F. Anestesiologia Veterinária: farmacologia e técnicas. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan 1999:7.

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