Ortotanásia

Por Ana Lucia Santana
Categorias: Ética, Medicina
Este artigo foi útil? Considere fazer uma contribuição!

A ortotanásia é a expressão comumente usada na Medicina em referência à interrupção do uso de terapêuticas consideradas invasivas que distendam a existência de um paciente já considerado irrecuperável, conforme o desejo do enfermo e de seus familiares, uma vez que elas só lhe provocariam sofrimentos vãos.

Este método restitui à morte seu status de naturalidade, do qual ela foi despojada desde a Idade Média. A Ciência, que de fins do século XVIII e princípios do XIX invadiu sem cerimônia o espaço sagrado do morrer, com as técnicas herdadas da Revolução Industrial inglesa, reduz seu poder de intervenção e devolve à morte parte do espaço a ela reservado.

Desta forma, se o paciente ou sua família assim o requerer, o doente pode finalmente ter o direito de morrer dignamente, sem padecimentos excessivos, mais ou menos como partiam seus ancestrais. Para isso, os médicos procuram não recorrer a técnicas extras de apoio à manutenção da vida, como determinadas substâncias e instrumentos, os quais apenas levariam o enfermo à distanásia, ou seja, à morte dolorosa.

Junto com o processo de industrialização surgiram medidas mais eficazes de higiene e de saúde pública; neste contexto foram criados os hospitais de maior porte, os quais aplicavam os mais recentes conhecimentos científicos atingidos nas pesquisas do campo medicinal. É então que os doentes passam a ser retirados do âmbito social e asilados em instituições que os distanciam do olhar alheio, transformando a morte em algo invisível, temido e desprovido de qualquer significado.

O Positivismo, corrente filosófica iniciada por Augusto Comte, contribui para criar uma aura mítica em torno da Ciência, dotando-a de poderes quase sobre-humanos. Em contraposição à Teologia, esfera que sempre dominara a questão da morte ao longo da história do Homem, a doutrina positivista relega este tema ao campo materialista e biológico, extraindo da existência humana e do ser todo e qualquer sentido. Tem início o processo de negação e rejeição da morte.

A ortotanásia – ‘orto’, certo; ‘tanatos’, morte: morte no momento certo – é hoje legalmente aceita em países como Estados Unidos, Itália, Canadá, França, Inglaterra e Japão. No Brasil os debates sobre esta questão tiveram início em 2006, quando o Conselho Federal de Medicina (CFM) ratificou uma deliberação que normatizava a prática deste método. Esta lei esclarecia que os médicos tinham o poder de suspender técnicas dispensáveis quando não havia qualquer possibilidade de recuperação do paciente.

Em 2007 o Ministério Público Federal suspendeu na Justiça esta decisão, reviu o teor da resolução, encontrou alguns mal-entendidos, mas defendeu sem restrições a legalização da ortotanásia. Esta mudança de posição do órgão oficial é um passo fundamental para que esta metodologia seja finalmente aceita neste país.

A adoção deste procedimento não significa que o paciente seja abandonado. A medicina continua a lhe conceder cuidados paliativos, no sentido de amenizar o sofrimento, e permita que o morrer chegue naturalmente a cada enfermo. Portanto, não se pode confundir a ortotanásia com a eutanásia, mecanismo que induz o doente à morte, normalmente com a injeção de uma substância própria para este fim.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortotanásia
https://web.archive.org/web/20120511040213/http://pt.shvoong.com:80/medicine-and-health/1673912-ortotan%C3%A1sia/
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3734/Ortotanasia-decisao-polemica

Franklin Santana Santos.Perspectivas Histórico-Culturais da Morte, in Franklin Santana Santos e Dora Incontri (orgs). A Arte de Morrer – Visões Plurais, Volume 1. Editora Comenius, Bragança Paulista, 2009.

“MP desiste de ação e abre caminho para ortotanásia”, in Primeira Edição Editora Jornalística Publicidade Ltda, Carapicuíba, 10-11 de setembro de 2010.

AVISO LEGAL: As informações disponibilizadas nesta página devem apenas ser utilizadas para fins informacionais, não podendo, jamais, serem utilizadas em substituição a um diagnóstico médico por um profissional habilitado. Os autores deste site se eximem de qualquer responsabilidade legal advinda da má utilização das informações aqui publicadas.
Este artigo foi útil? Considere fazer uma contribuição!