Morfologização

Mestre em Linguística (USP, 2019)
Graduada em Letras (USP, 2016)

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O que é a morfologização

O morfologização é um dos subprocessos da gramaticalização. Esta última, por sua vez, segundo os linguistas, pode ser dividida em três subprocessos que ocorrem de maneira simultânea e sem hierarquia.

  • Fonologização: quando ocorre alterações no corpo fônico das palavras;
  • Morfologização: são alterações que afetam o radical e os afixos;
  • Sintaticização: as alterações que afetam os arranjos sintagmático e sentencial.

Apesar de fazer parte do processo, nem todo caso de morfologização pressupõe um processo de gramaticalização.

Isso acontece, pois, a passagem de uma estrutura sintática para o nível lexical, por exemplo, não implica, necessariamente, uma mudança do estatuto lexical para outro gramatical ou de um estatuto menos gramatical para outro mais gramatical.

De maneira resumida, o processo de morfologização diz respeito a ação de alterar a constituição de determinada palavra ou expressão com o intuito de criar novas palavras. Essas palavras, por sua vez, são objetos de estudo da morfologia.

Exemplos de morfologização

Aglutinação

A aglutinação da preposição “em + a” (na) é observada no lugar da crase em sentenças e, com isso, antepondo-se o local a que se vai:

- “Fui até lá na escola pedir o meu histórico escolar”

Aglutinação “na” substituindo a locução prepositiva:

- “Eu fiquei irritada na hora em que ele começou a falar”.

Uso de “aonde” ao invés de “onde”

Para indicar a retomada a um lugar físico a gramática indica o uso do pronome relativo “onde”, já a palavra “aonde” indica a ideia de movimento:

- “Comece a procura por onde você viu pela última vez”;

- “Aonde eu vou não há tristeza”.

No entanto, em situações de conversação, ocorre a morfologização com o intuito de fazer referência a um objeto:

- “Este é o contrato, aonde foi estabelecido que eu sou a dona prioritária dessa empresa”.

Utilização do “adjetivo” no lugar de um “advérbio”

A gramática determina que é preciso usar o advérbio para indicar situações em que ocorre uma ação verbal:

- “Maria falou suavemente”.

Porém, em situações informais há uma morfologização em que um adjetivo é usado na do lugar do advérbio, com isso, é retirado o sufixo designador de “modo”, “mente” da construção:

- “Ela fala suave”.

Substituição do verbo na forma imperativa pela conjugação no presente do indicativo

Durante a fala, os falantes podem acabar por substituir a forma do verbo imperativo por uma forma do indicativo, porém, buscando manter a mesma ideia:

- “Fale o alfabeto árabe”;

- “Fala o alfabeto árabe” (morfologização do verbo).

Uso do substantivo feminino “gente” como substantivo masculino

A palavra “gente” pode ser usada no sentido de “homem” ou de “ser humano”, quando isso acontece os elementos que se referem a palavra que, originalmente, é feminina são flexionadas no masculino:

- “A gente foi chamado na recepção do hotel”.

Aqui o item “chamado” aparece como masculino, mesmo que o substantivo seja feminino.

- “A gente não tinha que ser desclassificado”.

Nesse caso, a palavra “desclassificado”, que se refere a “gente”, aparece conjugada no masculino, o que mostra que a relação estabelecida aqui é com a ideia de “ser humano” e não com o substantivo feminino.

Conclusão

A partir do que foi apresentado, vimos que a morfologização é um processo pelo qual palavras podem ser criadas tendo por base unidades linguísticas pré-existentes.

O que motiva o processo dessas criações e a dinamicidade da língua, o que, além de motivar, permite essas mudanças.

Essas novas palavras passam a ser usadas em contextos formais e informais da comunicação de todos os falantes.

Por fim, esse é um processo comum a todas as línguas.

Referência:

FORTUNATO, Isabella Venceslau. Universidade Federal da Bahia – FAPESB. Gramaticalização elexicalização das lexias complexas no português arcaico. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_456.pdf >. Acesso em: 18 de janeiro de 2021.

Arquivado em: Linguística, Português
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