Saul Kripke

Mestre em Filosofia (UFPR, 2013)
Bacharel em Filosofia (UFPR, 2010)

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Figura central em diversos campos da lógica e filosofia desde os anos de 1960, Saul Aaron Kripke é atualmente um dos filósofos mais respeitados no mundo. Embora muito de seu trabalho permaneça não publicado, na forma de fitas gravadas em palestras, foi protagonista de relevantes contribuições para a filosofia analítica e lógica modal, introduzindo uma semântica para lógica modal que tornou-se o padrão desta área, conhecida atualmente como Semântica de Kripke, influenciando ainda Arthur Norman Prior, no desenvolvimento da lógica temporal.

Considerado um prodígio, aos dezessete anos escreveu seu primeiro teorema da completude em lógica modal. Graduado pela Universidade de Harvard, professor em algumas das mais importantes instituições do nosso tempo, membro da American Philosophical Academy e correspondente da British Academy. Foi ainda vencedor do Schock Prize em lógica e filosofia em 2001.

Sua obra mais popular, as conferências Naming and Necessity, publicadas na década de 1970, reestruturou toda a filosofia da linguagem. Nesta obra Kripke estabeleceu o inovador conceito de "designador rígido", como parte de seu argumento modal contra a tese descritivista. Antes da inovação de Kripke, a teoria da referência aceita pela comunidade filosófica era a de que o significado das sentenças que envolvem nomes próprios é dado através da substituição do nome próprio por uma das descrições adequadas contextualmente. O conceito de designador rígido de Kripke é parte de uma bem sucedida estratégia de apresentar uma teoria histórico-causal da referência, na qual o batismo tem papel fundamental, garantindo que os nomes refiram-se aos mesmos objetos em todos os mundos possíveis nos quais os objetos existem. Estabelece que, mesmo se todas as descrições que associamos a um nome forem falsas, a referência se mantém, devido ao batismo e à cadeia histórico-causal que se sucedeu a ele.

Kripke contribuiu ainda com a filosofia da linguagem em particular, e com a filosofia analítica em geral, ao apresentar uma nova forma de leitura de Wittgenstein, que ficou conhecida como "Kripkenstein". Em seu livro Wittgenstein on Rules and Private Languagem, de 1982, Kripke sustenta que o argumento central da obra Investigações Filosóficas de Ludwig Wittgenstein centra-se em um devastador paradoxo de seguir regras, que enfraquece a possibilidade de sempre seguirmos regras em nosso uso da linguagem. Segundo Kripke este é um dos problemas mais radicais que a filosofia já viu, assim, na tentativa de aliviar o poder destrutivo do paradoxo, Wittgenstein oferece uma "solução cética", aproximada dos trabalhos de Hume, não rejeitando uma das premissas, mas trabalhando para demonstrar que o paradoxo não impacta nosso uso corrente da linguagem de modo radical a ponto de impedir a comunicação, uma vez que pensamos nos comunicar de fato. Kripke, no entanto, manifesta preocupação acerca da possibilidade de que Wittgenstein não endossaria sua interpretação, a maioria dos comentadores aceita que a obra Investigações filosóficas contém o paradoxo, mas questiona a solução cética de Kripke como algo que Wittgenstein estaria disposto a propor.

Em termos de filosofia da mente é considerado, juntamente com Hilary Putnam, um filósofo referencialista, posição também conhecida como "externalismo semântico". Tal posição apresenta o significado como equivalente àquelas coisas no mundo que são conectadas ao significado, em outras palavras, os conteúdos mentais dependem dos conteúdos do mundo exterior.

Entre suas contribuições para a filosofia em geral, consta ainda o argumento a favor da separação da "necessidade" da noção de "a priori". De acordo com o autor, a necessidade é uma noção metafísica, enquanto a prior é uma noção epistemológica. Isto permitiu a aceitação da existência de verdades necessárias a posterior, como "água é H2O", algo impossível no modelo Kantiano, que dominou a filosofia neste aspecto em particular até Kripke apresentar sua posição.

Referências bibliográficas:

Blackburn, P.; van Benthem, J.; and Wolter, Frank; Eds. (2006) Handbook of Modal Logic. North Holland.

Christopher Hughes (2004), Kripke : Names, Necessity, and Identity.

GRAÇA, Maria Adriana S. S. Referência e Denotação. Um Ensaio acerca do Sentido e da Referência de Nomes e Descrições, Lisboa, F.C. Gulbenkian, 2003.

GORSKY, Samir. A semântica algébrica para a lógica modal e seu interesse filosófico. Dissertação de mestrado. IFCH-UNICAMP. 2008.

Kusch, Martin. "A Sceptical Guide to Meaning and Rules: Defending Kripke's Wittgenstein". Acumen Publishing. Chesham, 2006.

Kripke, Saul. Naming and Necessity. Harvard UP. 1980.

Kripke, Saul. O Nomear e a Necessidade. Tradução de Ricardo Santos e Teresa Filipe. Gradiva, Lisboa. 2012.

MARI, Hugo. Aspectos da teoria da referência. Belo Horizonte, FALE / UFMG, 2003.

Prior, A. N. (1957) Time and Modality. Oxford University Press.

Wittgenstein, Ludwig. "Wittgenstein on Rules and Private Language: An Elementary Exposition". Harvard University Press. Cambridge, Massachusets, 1982.

Wittgenstein, Ludwig. "Investigações Filosóficas". Editora Vozes. Petrópolis, 2005.

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