Falácia

Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

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Falácias são argumentos que têm a pretensão de ser corretos e conclusivos mas que, no entanto, possuem algum erro em sua estrutura ou seu conteúdo. São majoritariamente encontradas em pensamentos envolvendo maus raciocínios ou ilusões que fazem com que um mau argumento pareça adequado quando, na verdade, é frágil ou inconsistente. Também podem ser chamadas sofismas, que são raciocínios elaborados maliciosamente a fim de enganar o interlocutor, ou paralogismos, que são raciocínios falsos mas, diferentemente dos sofismas, sem a intenção de enganar.

São diversos os modos de uso do termo ‘falácia’. De maneira mais geral, é utilizada para fazer referência a qualquer falsa crença ou ideia equivocada, como quando alguém afirma que “todos os patos são brancos.” Em filosofia, as falácias fazem parte do campo de estudos da lógica e nesse campo são definidas, mais estrita e tecnicamente, como erro de argumentação ou de raciocínio e são, geralmente, aplicados pelos lógicos àqueles argumentos que, apesar de incorretos, podem parecer convincentes, de modo que apenas um exame cuidadoso é capaz de revelar seu erro. Contudo, alguns argumentos são tão claramente falaciosos que não são capazes de enganar a ninguém. O termo também foi utilizado por filósofos da Escolástica para se referir à obra Refutações sofísticas, de Aristóteles, onde o autor se põe a analisar as falácias de seu tempo.

A respeito da classificação das falácias, o matemático e lógico moderno Augustus De Morgan afirma que “não coisa alguma que possa ter o nome de uma classificação dos modos como os homens chegam a um erro; e é muito duvidoso que possa haver alguma.” No entanto, conhecer e classificar as falácias é muito útil para que as mesmas possam ser identificadas. As falácias são, portanto, divididas em dois grupos: falácias formais e falácias não-formais.

Falácias formais

Falácias formais são erros que dizem respeito à forma de um raciocínio, independentemente de seu conteúdo, violando, assim, alguma regra formal das diversas que são tratadas no campo da lógica. O seguinte exemplo apresenta uma falácia formal:

Messi é craque

Cristiano Ronaldo é craque

Logo, Messi é Cristiano Ronaldo

O exemplo acima é um tipo do que chamamos de inferência lógica e pode ser logicamente apresentado da seguinte maneira:

A = B
C = B
C = A

É possível perceber a falácia desta inferência apenas pela observação de sua forma, não importando qual é o contexto, o tema ou os elementos que são tratados na argumentação. Neste exemplo, a falácia é encontrada na identificação de A (Messi) com C (Cristiano Ronaldo) por meio de sua relação com B (craque). Ou seja, não é porque tanto Messi quanto Cristiano Ronaldo são craques que Messi e Cristiano Ronaldo são o mesmo craque.

Falácias não-formais

Diferentemente das falácias formais, as falácias não-formais são os erros de raciocínio em que é possível incorrer por falta de atenção, de cuidado, de conhecimento, por um engano provocado por alguma ambiguidade da linguagem ou, ainda, por uso de alguma argumentação maliciosa no que diz respeito ao tema tratado. Veja-se o exemplo abaixo:

Todos os prédios são plantas

Todas as plantas têm clorofila

Portanto, todos os prédios têm clorofila

Esta inferência possui a seguinte forma lógica:

A = B
B = C
A = C

Pode-se ver que a forma acima está correta, não possui falácia formal. Contudo, há no conteúdo da argumentação um engano provocado pelo duplo sentido da palavra ‘planta’, que pode significar tanto uma espécie de vegetal quanto o projeto de um determinado edifício. É, portanto, uma falácia não-formal.

As falácias não-formais possuem uma quantidade considerável de classificações que se acumularam no decorrer da história da lógica, de maneira a dificultar seu agrupamento em um único campo. Aristóteles as havia dividido em dois grupos, chamados pelos escolásticos de in dictione, quer dizer, os de acordo com o modo de se expressar, e extra dictionem, ou seja, aqueles que são independentes do modo de expressão. Estas somavam treze diferentes classificações de falácia. Posteriormente, diversas variações das classificações de Aristóteles foram identificadas como falácias não-formais, além de novas classificações, de modo que os manuais de lógica ainda não estabeleceram nenhum sistema definitivo de classificações dos tipos de falácias não-formais.

Exemplos de falácias não-formais

Apesar dos problemas em se estabelecer uma sistematização geral das falácias não-formais, pode-se recorrer àquela utilizada pelo lógico norte-americano Irving M. Copi (1917 – 2002) que, em sua Introdução à lógica as separou em dois grupos: falácias de relevância e falácias de ambiguidade. Alguns exemplos do primeiro caso, são: Argumentum ad Hominem (literalmente, argumento contra o homem), Argumentum ad Ignorantiam (argumento por ignorância), Argumentum ad Populum (argumento ao povo) e Argumentum ad Verecundiam (apelo à autoridade); do segundo caso, podemos elencar a falácia do equívoco, a Anfibiologia, a falácia da composição e a falácia da ênfase.

Leia também:

Bibliografia:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. New York: Cambridge University Press, 1999.

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1974.

JOSEPH, Horace William Brindley. An Introduction to Logic. Oxford: Claredon Press, 1906.

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