A participação do professor no processo de desinteresse do aluno pelas aulas de Química

Licenciatura Plena em Química (Universidade de Cruz Alta, 2004)
Mestrado em Química Inorgânica (Universidade Federal de Santa Maria, 2007)

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No depoimento dos alunos transparece a associação entre a atuação do professor e os motivos que causam sua desmotivação pelas aulas. Inicialmente, a crítica dos alunos aborda a postura autoritária de alguns professores. O uso de chantagem que inclui desconto de notas nas avaliações também causa desgosto dos alunos pelas aulas de Química. Entretanto, a maior incidência nos comentários dos alunos é relacionada à prática dos professores. Aulas repetitivas, transmissivas, o afastamento de situações cotidianas ou de interesse do aluno acabam por distanciá-lo de suas aulas. O excesso de cobrança dos conteúdos, aliado a uma grande dificuldade das questões, também contribuem para a desmotivação dos alunos.

A opção do professor em usar longas listas de exercícios é  outro fator de desmotivação. O conteúdo escolhido pelo professor – e pela escola – também é destacado pelos alunos. Aulas expositivas em alto grau de dificuldade, acompanhada de “explicações” insuficientes apresentadas pelos educadores aumentam o desinteresse dos alunos pelas aulas. A vinculação dos conceitos químicos com ferramentas matemáticas aumenta a dificuldade de compreensão dos alunos. O excesso de cálculos associados a conteúdos descontextualizados trabalham por piorar essa situação. Da mesma forma, conteúdos vinculados a classificações e fórmulas também tornam a aula monótona e desmotivadora.

Essa abstração dos assuntos tratados aumenta as dificuldades encontradas pelos alunos, provocando ainda maior desinteresse pelas aulas. Essa observação coincide com a de Willingham (2011, p. 119), que afirma que “[...] não é fácil aos alunos compreender ideias abstratas. Embora a abstração seja o objetivo do ensino, o professor quer que o aluno seja capaz de aplicar o que aprende em novos contextos e também fora do ambiente escolar”.

Outra situação de desconforto observada é  a inapropriação da linguagem usada pelo professor. Quando o profissional opta por usar uma linguagem acadêmica e que não está ao alcance dos alunos, causa outra dificuldade que se acrescenta às que o próprio conteúdo já traz. É necessário que o aluno possa compreender o que está sendo dito e proposto pelo professor. Dessa forma, ele poderá argumentar e reconstruir significados, provocando sua aprendizagem. Segundo Moraes, Ramos e Galiazzi (2007), o aluno que consegue atribuir significados àquilo que interage com o professor, cria condições para atribuir novos significados às palavras que já conhecia a partir de seu próprio conhecimento. Maldaner (2006, p. 142) ao dizer que “ao conceber assim o conhecimento, a linguagem torna-se o ponto de partida do conhecimento e a própria constituição do sujeito como ser social e político”.

Há, ainda, uma grande dificuldade do aluno em estabelecer algum vínculo entre o conteúdo trabalhado em sala de aula e o seu cotidiano. Por isso, argumentamos em função de investir em artefatos culturais como a escrita, a leitura, a relação dialógica no espaço da sala de aula de Química entre professor e alunos e entre os próprios alunos potencializa um processo de aprendizagem mais significativo.

Referências:
GALIAZZI, Maria do Carmo; GARCIA, Fabiane Ávila & LINDEMANN, Renata Hernandez. Construindo Caleidoscópios – organizando unidades de aprendizagem. IN: MORAES, Roque & MANCUSO, Ronaldo. Educação em Ciências – produção de currículos e formação de professores. Ijuí: Editora da UNIJUÍ, 2004. p.65-84.

MALDANER, Otavio A. A formação inicial e continuada de professores de Química: professores/pesquisadores. 3 ed.. Ijuí: Editora Unijuí, 2006.

WILLINGHAM, Daniel T. ¿Por qué a los niños no les gusta ir a la escuela? Barcelona: Editora Graó. 2011.

Arquivado em: Educação, Pedagogia
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