A posição em filosofia da mente que irá defender a mente e os fenômenos mentais como, ao menos em algum aspecto, não-físicos, ou não-materiais, é conhecida como antimaterialismo, ou dualismo mente-corpo, por afirmar que a mente e o corpo não são idênticos, constituindo duas substâncias. Tomando posição central nas discussões acerca do dualismo mente-corpo encontramos o "problema mente-corpo", que trata da forma como uma substância física material, o corpo, e uma substância não-física imaterial, a mente, se comunicam. Também as posições que se opõe ao dualismo, com destaque para as diversas formas de fisicalismo, baseados na ideia de que, quando falamos em mente e corpo, na verdade falamos de uma mesma substância, uma substância física, sendo a mente redutível ao corpo, dele derivada ou dependente. O dualismo, por outro lado, como o nome leva a pensar, defenderá que há duas substâncias independentes, uma material e uma imaterial, ou ao menos que a substância se manifesta de duas formas diferentes.
As formas básicas do dualismo mente-corpo são três: Dualismo de substância, dualismo de propriedade e dualismo de predicado.
Para o dualismo de substância, a forma mais radical de dualismo, existem de fato duas substâncias separadas e independentes, a mente e o corpo, em geral esta posição defenderá que a mente pode existir sem o corpo e que o corpo não é capaz de pensar. Tendo em René Descartes o seu mais famoso defensor, o dualismo de substância é ainda compatível com a maioria das teologias ocidentais. As principais críticas a esta forma de dualismo, em geral, argumentam que ela não oferece uma solução satisfatória para o problema mente-corpo, como a mente imaterial pode conectar-se e relacionar-se com o corpo material. O problema mente-corpo foi originalmente identificado por Descartes, até hoje nenhum filósofo foi capaz de oferecer uma solução satisfatória para o problema mente-corpo enquanto mantendo uma posição dualista com relação à substância.
No dualismo de propriedade, filósofos e cientistas cognitivos defenderão que, embora a mente não se constitua como uma entidade substancial distinta , esta possui um conjunto de propriedades que são distintas daquelas propriedades atribuídas ao corpo, não podendo ser reduzidas às propriedades do cérebro em particular ou do corpo em geral, sendo ainda completamente independentes. De acordo com filósofo Donald Davidson, a consciência é ontologicamente irredutível à física e neurobiologia.
O dualismo de predicado, por outro lado, aceita a proposta fisicalista de que há apenas uma categoria de substâncias e propriedades das substâncias, sendo estas físicas, porém defenderá que os predicados que utilizamos para descrever eventos mentais não podem ser re-descritos em termos de predicados físicos da linguagem natural. Esta posição, defendida por filósofos como Jerry Fodor e Donald Davidson, é conhecida também como fisicalismo não redutivo, pois aceita que há apenas a substância física, mas a descrição dos eventos exige algo que difere dela. Para tais filósofos, eventos mentais são eventos físicos, mas todas as propostas reducionistas são insatisfatórias, os estados mentais não podem ser reduzidos a estados funcionais, cerebrais ou comportamentais. Embora não seja uma redução, Davidson defenderá a existência de uma relação de "superveniência", uma espécie de dependência dos estados mentais para com os estados físicos.
Entre os grandes opositores do dualismo encontramos o filósofo John Searle, que considera a distinção entre corpo e mente um erro. Para Searle as razões não são suficientes para caracterizar duas substâncias e a posição monista, segundo a qual há apenas uma substância, não tem qualquer perda explicativa em relação à posição dualista. O autor defende que o dualismo é uma inflação ontológica desnecessária, uma posição que postula substâncias desnecessariamente, inflacionando a ontologia, apenas para justificar a própria posição.
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Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/antimaterialismo/