Argumentum ad Populum

Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

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O Argumentum ad Populum (argumento ou apelo ao povo, em latim) é um tipo de falácia não-formal e é a tentativa de, ao despertar as paixões e o entusiasmo da multidão, ganhar o apoio do público ouvinte ou leitor para uma determinada conclusão. Publicitários e políticos estão entre aqueles que mais fazem uso desse tipo de falácia.

Esse tipo de falácia envolve duas diferentes abordagens, a direta e a indireta.

Na abordagem direta, a pessoa que tem a palavra dirige-se à multidão a fim de despertar um sentimento humano de pertencimento, de modo que todas as pessoas presentes se unam para a aprovação do que lhe está sendo dito, dando a sensação de que o argumento ou conclusão apresentada está correta. Esta abordagem desperta uma espécie de mentalidade de massa e qualquer indivíduo se vê compelido a concordar com a multidão, sob o risco de ser excluído e perder a identidade e a segurança.

Ilustração: ivector / Shutterstock.com

A forma direta é mais comum em discursos políticos. Aquele que talvez tenha dado maior visibilidade a esta forma de argumentação foi Adolf Hitler, em seus discursos para o povo alemão durante a ascensão e o regime do partido nazista na Alemanha. Contudo, não é somente através da fala que se pode utilizar a abordagem direta. Ela também é aplicada a campanhas e propagandas escritas. Frases como “somos todos trabalhadores” ou “este é o desejo do povo brasileiro” provocam o mesmo efeito.

A abordagem indireta, por sua vez, não se dirige diretamente à multidão, mas a um indivíduo ou a um grupo seleto e é frequentemente utilizada em campanhas publicitárias. Esta abordagem possui três formas específicas de uso: o argumento “eleiçoeiro” (Bandwagon argument, em inglês), o apelo à vaidade e o apelo ao esnobismo.

O argumento eleiçoeiro é utilizado para dar a impressão de que alguém será deixado para trás ou de fora de um determinado grupo se não se comportar da mesma forma. Seu termo em inglês faz referência aos carros de som, comumente utilizado em anúncios e campanhas. Como nos exemplos abaixo:

É claro que você quer almoçar em nosso restaurante. 99% das pessoas almoçam aqui!

O povo brasileiro quer me eleger. Só você não quer?

O apelo à vaidade associa um produto a personalidades que a sociedade segue e admira e provoca a sensação de que, se alguém adquirir aquele produto, será igualmente admirado. Assim, uma atriz famosa é apresentada em um comercial utilizando um vestido e dizendo: “use este vestido e seja como eu.”.

Por fim, o apelo ao esnobismo associa um determinado produto ou uma ideia a uma condição especial, fazendo com que o espectador se sinta uma pessoa diferenciada. Podemos encontrá-lo em campanhas publicitárias, como de bancos ou de carros, que afirmam que uma pessoa será especial se for seu cliente. Mas também é utilizado em diversos casos cotidianos. Por exemplo:

Este carro não para qualquer um. É para pessoas especiais e admiráveis!

Se você comer toda a sua comida vai ficar forte igual ao Super-homem!

Em todos os casos, portanto, a abordagem indireta desperta no ouvinte ou leitor uma sensação de nobreza, caso possua aquele produto ou aja de uma determinada maneira.

Então, enquanto a abordagem direta fala ao grupo como um todo, a abordagem indireta se dirige a cada indivíduo, fazendo-o se sentir imediatamente forte e seguro por fazer parte de um grupo.

O Argumentum ad Populum é uma falácia porque, apesar de ser bastante efetivo ao ser utilizado, a aprovação da maioria não é suficiente para comprovar a verdade de um argumento.

Bibliografia:

COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1978.

HURLEY, Patrick J. A Concise Introduction to Logic. California: Wadsworth/Thomson Learning, 2000.

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