Internalismo e externalismo

Mestre em Filosofia (UFPR, 2013)
Bacharel em Filosofia (UFPR, 2010)

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Internalismo refere-se a posição filosófica de que explicações, especialmente dos eventos mentais, podem ser dadas ao apontar-se aspectos internos ao indivíduo ou a sua mente. Por outro lado, o externalismo é a posição que defende que são as coisas do mundo externo que nos motivam, determinam significados e justificam nossas crenças. A tese externalista é a de que a mente consciente não é apenas o resultado do que está acontecendo dentro do sistema nervoso ou do cérebro e suas funções, mas estende-se em sua relação com o mundo exterior. O internalismo nega esta tese.

Contemporaneamente, a distinção é utilizada frequentemente em ética, epistemologia e filosofia da mente. Neste contexto, filósofos externalistas defenderão que, ao menos em parte, os estados mentais de uma pessoa dependem de algo externo a mente, um objeto ou evento no seu ambiente. Considerando todos os aspectos dos conteúdos mentais e atividades mentais, o externalismo contemporâneo deixou de ser uma discussão meramente dos aspectos semânticos dos conteúdos mentais, conhecido como "externalismo de conteúdo", passando a ser uma grande coleção de posições filosóficas, constituindo-se em várias formas de externalismo, sendo as divisões mais marcantes aquelas entre os conteúdos e os veículos da mente, bem como aquelas que consideram apenas a cognição e aquelas posições que consideram as questões da consciência.

O filósofo Hilary Putnam, em seu "O Significado de 'Significado' ", de 1975, explica o externalismo de conteúdo com um exemplo, inicialmente proposto em termos particulares, mas também aplicável a categorias, como "água", "arvore" e artefatos. Suponhamos que duas crianças que não se conhecem, Ike e Tina, sejam filhos de duas mulheres gêmeas idênticas. Quando Ike diz "eu quero minha mãe" ele expressa um desejo que só será satisfeito caso ele seja levado até sua mãe. Mas o que acontece se Ike for levado para a mãe de Tina e não perceber a diferença? Ike não satisfez o seu desejo, argumenta Putnam, mas ele sente como se o tivesse feito. Aparentemente, mesmo que sem saber se refiram a mesma pessoa, o que Ike deseja e o que ele diz que deseja quando diz "eu quero minha mãe" é diferente do que Tina deseja e diz desejar quando diz a mesma frase. Mesmo que eles não estejam conscientes disto.

O externalismo de conteúdo defendia que, se assumimos que falantes competentes do idioma sabem o que pensam, de modo que dizem o que pensam, a diferença de significado nestes casos corresponde a uma diferença de pensamento dos falantes, no caso Ike e Tina. No entanto, esta diferença não é necessariamente refletida pelos estados internos dos falantes. Isto gerou a subdivisão entre externalismo de significado, que defendia que os conteúdos mentais dependiam de significados externos, o que é negado pelo experimento mental de Putnam, e o externalismo de estados mentais com conteúdo.

Atualmente, distingue-se os conteúdos amplos dos conteúdos limitados. Filósofos como Jerry Fodor e David Chalmers argumentarão em favor de ambos os tipos de conteúdo, enquanto outros endossarão apenas um ou outro tipo. John Searle, por outro lado, defendeu uma posição internalista, argumentando que as lições do exemplo de Putnam não são evidentes e podem ser rejeitadas. Segundo Searle, o conteúdo do nosso pensamento é definido por descrições que capturam o tipo de objeto ao qual nosso pensamento se refere. No caso de Tina e Ike, externalistas argumentão que o modo de proceder de Searle obrigaria-nos a aceitar que Ike possui o conhecimento de que ele não precisaria necessariamente pensar sobre sua mãe ou referir-se a ela. Assim, acusam Searle de uma posição excessivamente técnica que está em desacordo com a forma como os falantes de fato processam os conteúdos mentais.

Referências bibliográficas:

David Chalmers. 1996. The Conscious Mind. Oxford: Oxford University Press.

Fodor, Jerry (1980) "Methodological Solipsism Considered as a Research Strategy in Cognitive Psychology", Behavioral and Brain Sciences 3:1.

Hilary Putnam. 1975. "O significado de 'significado'".

João de Fernandes Teixeira. Filosofia da Mente: neurociência, cognição e comportamento. Claraluz: São Carlos, 2005.

John R.Searle. 2004. Mind: A Brief Introduction. New York: Oxford University Press.

John R.Searle. O Mistério da Consciência. Tradução de André Yuji Pinheiro Uema e Vladimir Safatle. São Paulo: Paz e Terra, 1998. 1998

Nuccetelli, Susana. 2003. New essays on semantic externalism and self-knowledge. Cambridge, Mass.: MIT Press.

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