Reducionismo

Mestre em Filosofia (UFPR, 2013)
Bacharel em Filosofia (UFPR, 2010)

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Reducionismo é a posição filosófica caracterizada pela tese de que as propriedades do todo podem ser reduzidas às propriedades das suas partes, reduzindo assim o número de elementos em uma teoria ou conclusão, podendo ser aplicada a fenômenos, teorias, significados, objetos e mesmo explicações. São reconhecidas três formas de reducionismo: metodológico, que trata da redução das explicações científicas e filosóficas ao menor enunciado possível, teórico, que trata da redução do  poder de explicação e predição de uma teoria a outra, e ontológico, que procura reduzir a realidade ao menor número possível de substâncias ou entidades. Em termos filosóficos no entanto, o reducionismo ontológico é o mais relevante e debatido.

É uma posição metafísica que consiste na hipótese de que a realidade é composta por um número mínimo de tipos de entidades ou substâncias. Em sua versão radical, identificada como monismo ou dualismo, o reducionismo ontológico afirmará que todas as propriedades, objetos e eventos existentes no mundo podem ser reduzidos a uma única substância, ou a duas, no caso do dualismo. Como exemplos deste tipo de redução temos, no monismo, a redução das propriedades da mente às propriedades da matéria, de modo que só há a matéria como substância fundamental,  e, no dualismo, a manutenção da matéria e mente (ou matéria e espirito) como substâncias fundamentais. Ambos, neste caso, funcionam de forma semelhante, variando em quantidade de substâncias.

Ainda, filósofos contemporâneos oferecem três conjuntos de formas nas quais o reducionismo ontológico pode ser dividido. Em todas elas no entanto, está presente a negação da emergência ontológica, defendendo que a emergência é um conceito epistemológico e que o fenômeno a ela associado só existe quando da análise e descrição de um sistema, nunca em um nível ontológico. Argumentação neste sentido é oferecida por Michael Silberstein e John McGeever em seu "The Search for Ontological Emergence".

O primeiro conjunto refere-se a divisão entre, de um lado, a negação de que o todo seja algo além das suas partes, e de outro, a negação da existência do todo como "realmente real". A expressão "realmente real" tem origem no trabalho de Nancey Murphy que admite soar aparentemente sem sentido, mas ainda defende sua utilidade na distinção entre duas formas de reducionismo.

Richard Jones apresenta o reducionismo ontológico como dividido entre o reducionismo das substâncias e o reducionismo do número de estruturas operando na natureza. Esta distinção leva em conta o quão amplo é o escopo do conhecimento humano e objetiva particularmente permitir que cientistas e filósofos possam ser reducionistas quanto a um aspecto e anti-reducionistas quanto a outro aspecto do mundo, sofisticando suas teorias. Em exemplo oferecido em seu Reductionism: Analysis and the Fuullness of Reality, de 2000, Jones o significado e aplicação desta distinção. Ela permite que um cientista ou filósofo reduza as propriedades da mente às propriedades da matéria, sendo portanto um monista no que se refere a questão mente-corpo, aceitando o reducionismo das substâncias, ao mesmo tempo em que permite recusar a redução de uma força física a outra, recusando o reducionismo do número de estruturas operando na natureza.

Finalmente, estuda-se a divisão do reducionismo em type e token. O reducionismo type é a defesa de que todo tipo de item é uma soma de tipos de itens em níveis de complexidade menores. Esta posição poderia reduzir itens biológicos a itens químicos, embora isto seja geralmente recusado por autores como Michael Ruse. O reducionismo token, por outro lado, defenderá que todo item existente é uma soma de itens em um nível menor de complexidade. Neste caso, o reducionismo é mais comumente aceito para a redução de itens biológico em itens químicos.

Referências bibliográficas:

MARTÍNEZ, S. Reducionismo em biologia: uma tomografia da relação biologia-sociedade, in ABRANTES, P. (org.) Filosofia da Biologia. Porto Alegre: Artmed, 2011.

MAYR, E. Biologia: Ciência Única. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Michael Silberstein, John McGeever, "The Search for Ontological Emergence", The Philosophical Quarterly, Vol. 49, No. 195. 1999

Ruse, Michael. "Do Organisms Exist?", Amer. Zool., 1989.

Ruse, Michael. Sociobiologia: senso ou contra-senso. editora Itatiaia; Volume 13 da coleção "O Homem e a Ciência". Tradução de Cláudia Regis Junqueira. 1983.

Newton, Isaac. Princípios matemáticos da filosofia natural, 1687.

Richard H. Jones (2000). "Clarification of terminology". Reductionism: Analysis and the Fullness of Reality. Bucknell University Press.

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