Genocídio tibetano

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

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O termo genocídio tibetano é normalmente associado aos eventos relacionados com a invasão chinesa ao Tibete iniciada em 1949, que seria acompanhada de opressão política e cultural.

A história do Tibete tem pelo menos 2000 anos, e em sua maior parte esteve interligada com a de sua poderosa vizinha, a China. Após dois séculos de luta pela independência após uma anexação formal durante o século XVII, em 1913 os representantes do governo chinês foram expulsos do país em uma afirmação de autonomia. O movimento fora liderado pelo 13º Dalai Lama, líder político e religioso atuante há séculos por meio de sucessivas reencarnações, de acordo com a crença budista.

Thubten Gyatso, o 13º Dalai Lama, em 1910.

A declaração de autonomia do Tibete não foi reconhecida no plano internacional, abrindo espaço para a China procurar retomar o território. A partir do fim da Guerra Civil Chinesa e do início do governo comunista liderada por Mao Tse-Tung, iniciou-se forte invasão intervenção chinesa no Tibete. Monges foram massacrados ao liderar a resistência, e muitos mosteiros seriam queimados por tropas chinesas à medida que avançavam.

Justificativas para a invasão chinesa

A rápida investida contra o Tibete justifica-se para o governo chinês por meio de quatro interesses principais: um geográfico, um econômico, um político e um populacional. Geograficamente, a posse do Tibete garante aos chineses uma salvaguarda contra possíveis movimentos militares ameaçadores de outra potência local: a Índia. A China também usou a ocupação tibetana para instalar mísseis intercontinentais, incluindo alguns do tipo nuclear. Economicamente, a China está interessada nas riquezas minerais que o solo tibetano apresenta, além das importantes fontes de água doce. Politicamente, a posse tibetana ajuda a combater outras alegações de independência dentro do próprio território chinês, que é composto por diversas etnias em suas várias províncias. Do ponto de vista populacional, por fim, a China vê o Tibete como um território que pode aliviar a população de mais de um bilhão que pressiona os recursos internos, mesmo após várias décadas da política do filho único.

Em 1951, o exército chinês tomou a capital tibetana, Lhasa, prosseguindo para uma nova anexação do Tibete por meio do Acordo de Dezessete Pontos sobre a Libertação Pacífica do Tibete. Feito sem participação ou consentimento formal do governo tibetano, o documento oficializou a nova união do Tibete com a China. O jovem 14º Dalai Lama, nascido com o nome de Lhamo Dhondrub, continuou a viver na capital tibetana até 1959, quando o temor de sua captura iminente por agentes do governo chinês motivou sua fuga a pé para a Índia com mais milhares de cidadãos tibetanos, onde organizou um governo exilado.

O 14º Dalai Lama. Foto: Liudmila Kotvitckaia / Shutterstock.com

O Tibete atualmente

Desde então, o 14º Dalai Lama vive no exílio, apesar de já ter recebido convites oficiais do governo chinês para voltar ao Tibete, que desde então perdeu cerca de 1/5 de sua população por perseguições políticas e religiosas. O país também sofre do ponto de vista econômico e ecológico, com muitas espécies animais em risco de extinção. Qualquer negociação que envolve a autonomia do Tibete é considerada como sendo separatista pela China, que por meio de sua posição de membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) pôde bloquear conversas diplomáticas mais sérias sobre o assunto, apesar de tribunais locais em alguns países já tenham reconhecido o processo de dominação chinesa no Tibete como genocídio.

Em 1995, iniciou-se novo capítulo da crise tibetana quando o governo chinês sequestrou a reencarnação identificada da segunda figura mais importante do budismo: o Panchen Lama. Desde então, ele encontra-se desaparecido. Tendo em vista que o Panchen Lama desempenha um papel importantíssimo na identificação na nova reencarnação do Dalai Lama, e a atual encarnação já tem 83 anos de idade, as consequências do evento para o Tibete provavelmente serão testemunhadas em breve.

Bibliografia:

http://www.humanas.ufpr.br/portal/conjunturaglobal/files/2013/04/Dossi%C3%AA-Tibete-an%C3%A1lise-dos-conflitos-sino-tibetanos.pdf

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-china-ocupa-o-tibete/

https://revistaforum.com.br/revista/2/a-tragedia-tibetana/

http://centrodireitointernacional.com.br/wp-content/uploads/2014/05/Artigo-Julia-Caligiorne-Santos-32.pdf

https://www.360meridianos.com/especial/invasao-tibet-china

https://www.epochtimes.com.br/veredito-genocidio-vinga-sofrimento-tibete-mas-sem-alivio/

http://br.rfi.fr/mundo/20160915-dalai-lama-faz-apelo-para-que-europeus-nao-deixem-de-apoiar-tibete-genocidio

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-48132993

Arquivado em: História da Ásia
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