O Egito é considerado uma das civilizações antigas mais preocupada com as questões espirituais. Eles se iniciam cedo nas práticas religiosas; sabe-se que suas expressões místicas mais antigas provêm de quatro a cinco mil anos a.C. A princípio este povo exercitava o animismo, que consiste no culto à Natureza, e assim persistiu até meados de 3.000 a.C, quando evoluiu para a prática de uma espiritualidade mais sofisticada, repleta de deuses, embora ainda houvessem vestígios anímicos, uma vez que estas divindades eram zooantropomórficas, ou seja, eram constituídas de elementos humanos e de uma fração animal.
O faraó Amenófis IV, pertencente à XVIII dinastia, tentou implantar o monoteísmo, elegendo o sol, deus Áton, como único ser supremo que seria cultuado. O politeísmo, porém, estava enraizado nas estruturas clericais, sociais e políticas do Antigo Egito, o que provocou uma intensa resistência, principalmente por parte do clero. Assim, após sua morte, a adoração de várias divindades novamente se estabeleceu entre os egípcios.
Este povo, ainda em tempos remotos, criou uma estrutura intelectualmente requintada para compreender a essência humana. O Homem seria formado por oito elementos fundamentais: o Khat, correspondente ao corpo físico; o Ca, duplo humano, detentor de uma existência autônoma, a quem as ofertas de água, alimento e incenso são dirigidas; o Ba, que representava a alma e habitava o Ca, normalmente simbolizada na arte egípcia e nos papiros como um falcão com cabeça de homem; o AB indicava o coração, então considerado como fonte da vida; o Cu, símbolo da luz sutil que emana do ser, a inteligência espiritual ou espírito humano, residia junto aos deuses; o Sequem ou força vital, que também morava no céu; sua sombra, ou Caibit, vizinha da alma; e o Ren, o nome de cada ser, essencial para a existência do Homem, pois se ele fosse destruído, o indivíduo poderia ser eliminado. Podia-se, porém, esquecer cinco destas partes e considerar tão somente o corpo, a alma e o espírito.
A Civilização egípcia tinha uma visão muito pessoal da criação do mundo. Naquela época não havia nada, a não ser a água primitiva, envolta em trevas. Ela assim permaneceu por muito tempo, contendo em si as sementes de tudo que viria a existir, até que Nu, o pai de todas as divindades, o espírito que habitava esta região, desejou exercitar seu poder criativo e, através da palavra primordial, gerou o universo. Logo depois, surgiu um ovo, do qual nasceu Ra, o deus solar, detentor do poder divino supremo. Esta entidade era idolatrada desde a era pré-histórica, atingindo o ápice de seu poder no ano 3.800 a.C., quando era conhecido como o rei de todos os deuses. Posteriormente ele é superado por Osíris.
Osíris é o símbolo da crença fundamental dos egípcios na imortalidade da alma e na vida após a morte. Segundo a lenda este deus era filho da Terra, Geb, e casado com Ísis. Ele e a esposa ensinam ao Homem a técnica agrícola, principal prática econômica desta época. Seu irmão Seth, enciumado, mata Osíris, afogando-o e esquartejando-o; mas Ísis coleta todos os pedaços, disseminados pelo Egito, une-os e dá vida novamente ao marido, que retorna para o céu. Seu filho Hórus, sedento de vingança, assassina o tio e recebe como recompensa o trono egípcio, o que justifica o poder divino dos faraós, os quais descenderiam de Osíris. Seu renascimento, por sua vez, simboliza a imortalidade da alma e a existência da reencarnação. Depois de estagiar na terra, a alma retornava à vida espiritual e, dependendo de suas atitudes boas ou más, ela iria para uma esfera abençoada, ou para uma região de dores e aflições. Posteriormente ela reencarnaria no mundo material para conquistar novas experiências.
O Homem tinha, porém, como guia, o Livro dos Mortos, o qual lhe orientava e guiava na estrada que conduzia a Osíris, ajudando-o a transpor todos os desafios e as adversidades que o separavam da esfera de venturas; seguindo suas instruções, ele se transformaria em um Espírito Santificado. Era um estímulo para os egípcios saber que as divindades também detinham imperfeições e qualidades inerentes ao Homem, com a diferença de que eram mais sábios e poderosos.
A religião no Antigo Egito era indissociável da vida política e da rotina dos egípcios. Tudo era uma expressão da vontade divina e os faraós eram sempre reverenciados como deuses encarnados. O caráter elitista da espiritualidade praticada pelos sacerdotes, restrita e iniciática, distante do povo, permitia a este cultuar outros deuses e exercitar outras práticas, o que incrementa a qualidade politeísta da religião do Egito. Atualmente, os egípcios se converteram ao Islamismo, embora os conhecimentos ancestrais estejam presentes, de alguma forma, no exercício das religiões modernas, propiciando a este povo uma maior percepção das realidades espirituais.
Leia também:
Fontes
https://web.archive.org/web/20210419130029/http://historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=673
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/religioes-do-egito-antigo/