Tensões entre China e Taiwan

Licenciatura em História (IFG, 2022)

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O apaziguamento das tensões entre China e Taiwan se configura como um dos maiores desafios geopolíticos enfrentados pelo mundo no século XXI, e cujas raízes históricas remontam ao início do século XX, passando pelo fim da Segunda Guerra Mundial e pela Guerra Fria.

Em agosto de 2022, a visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Estados Unidos, à capital de Taiwan, Taipei, elevou as tensões entre a pequena ilha capitalista e a China de orientação comunista, o que motivou o governo de Taiwan a anunciar o reforço de suas defesas militares e alianças internacionais, para o caso de uma invasão chinesa.

O governo chinês por sua vez, antes da realização do congresso do Partido Comunista da China de 2022, na cidade de Pequim, reiterou seu objetivo de reintegrar à ilha de Taiwan ao seu território, alegando que ela historicamente sempre foi parte da China continental. O governo chinês alegou que lutará para isso de forma pacífica, afirmando que as diferenças ideológicas não seriam uma barreira, relembrando o modelo usado anteriormente com Hong Kong, conhecido como “um país, dois sistemas”.

Em roxo, territórios controlados pela República Popular da China (ou China) e em laranja República da China (ou Taiwan)

Origens

As origens das tensões entre ambas nações remontam a início do século XX, antes da explosão da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), quando a China enfrentava internamente uma guerra civil, marcada pelos conflitos entre dois grupos: O Exército Vermelho Chinês liderado por Mao Tsé-Tung, que desejava a reconfiguração do sistema político e econômico do país, com a instauração de um regime comunista e outro, composto pelo governo e seus aliados, autodenominados nacionalistas, que se opunham a uma transformação dessa natureza.

O conflito cessou por conta da invasão japonesa ao país durante a Segunda Guerra. Mas, com a derrota da Alemanha no Ocidente, o controle do Japão (aliado da Alemanha) sobre regiões do pacífico (no Oriente) começou a declinar. O Japão que dominava áreas da China continental e também as de fora, como a ilha de Taiwan, foi forçado a desocupar as porções territoriais chinesas.

Logo os conflitos internos, deixados de lado momentaneamente, voltaram, e o grupo comunista, contando com o apoio da gigantesca massa de camponeses chineses e com o auxílio da União Soviética, venceu o grupo opositor nacionalista, iniciando uma revolução. Em outubro de 1949, a capital Pequim foi tomada, e anunciou-se então o início de um governo comunista, que renomeou a nação para República Popular da China.

A ilha de Taiwan, também chamada de “Ilha de Formosa”, na época parte da China, surge então como um refúgio para onde foram os opositores do governo, que perderam a guerra, como por exemplo Chiang Kai-Shek, o líder do governo antes da revolução. A ilha se separou então da China continental, passando a se chamar de República da China, e a reivindicar o título de “verdadeira China”, contando para isso, com o apoio dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos não reconheceram, naquele momento, a legitimidade do novo governo comunista chinês. Em contrapartida, reconheceram apenas Taiwan como a única nação representante do povo chinês e facilitou a sua entrada, no lugar da China, na ONU, em 1950.

Em troca desse apoio, Taiwan mantém-se como uma base de atuação americana, considerada como muito estratégica, por estar localizada de forma tão próxima da China, o que foi visto pelo governo chinês como uma ameaça á sua integridade. Em 1971 Taiwan deixou de ocupar o lugar da China dentro da ONU, ao mesmo tempo em que perdeu o reconhecimento de vários países como nação independente, por conta da influência crescente da China, que inclusive normalizou suas relações com os próprios Estados Unidos.

Em 1997, a cidade de Hong Kong, que também era autônoma em relação á China, porém considerada parte do “protetorado” britânico e uma das áreas financeiras mais importantes do mundo, foi reintegrada a China. A peculiaridade é que essa cidade adotara por anos o sistema capitalista, e uma das condições impostas para a sua reintegração, seria o mantimento desse sistema pelo menos até o ano de 2047, como forma de proteger os investimentos privados internacionais feitos na cidade. Tal sistema se tornou famoso através do lema “um país, dois sistemas”. A mesma proposta paira sobre as autoridades de Taiwan, que mesmo assim, não aceitam se reintegrar á China continental.

Durante o final do século XX, a economia de Taiwan se fortaleceu, e a ilha se transformou em uma exportadora de manufaturas. O século se encerrou com a China não reconhecendo a ilha como nação independente, e sim como uma porção rebelde de seu próprio território – que deverá ser reintegrada, da mesma forma que Hong Kong foi. A ação militar direta para executar esse plano não chegou a ser empregada, por conta dos apoios firmados entre Taiwan e Estados Unidos, nos quais, a nação norte-americana se compromete a auxilia-la em caso de invasão militar chinesa.

Dessa maneira, os conflitos se estenderam de forma inconclusa para o século XXI.

Referências:

SCHUTE, Giorgio Romano. Confronto entre nacionalismos: o caso de Taiwan | Clash between nationalisms: the case of Taiwan. Mural Internacional, (S. I.), v. 12, p. e60090, dez. 2021. ISSN 2177 – 7314. Disponível em: < https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/muralinternacional/article/view/60090/40537 > (Acessado dia: 13/12/2022).

LEE, Yimou, BLANCHARD, Ben. Com aumento de tensões na China, Taiwan promete reforçar poder de combate. CNN Brasil, 09/10/2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/com-aumento-de-tensoes-na-china-taiwan-promete-reforcar-poder-de-combate/ ( Acessado dia: 13/12/2022).

BBC NEWS BRASIL. Por que tensão entre China e Taiwan reacende temor de guerra com EUA. 7/10/2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58833762 ( Acessado dia: 13/12/2022).

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