Botulismo em bovinos

Mestre em Ciência Animal (UFG, 2013)
Graduada em Medicina Veterinária (UFG, 2010)

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O botulismo ou Mal das Palhaças é uma enfermidade não-contagiosa, de origem tóxica, que ocorre por ação das neurotoxinas de Clostridium botulinum (C. botulinum). É uma doença de importância sócio-econômica, em razão de ocorrer nas diversas espécies, inclusive na humana e pela perda dos animais acometidos.

Bactérias Clostridium botulinum. Foto: CDC

A doença é relatada no mundo todo e os animais adultos são os mais afetados, em decorrência de fatores como ingestão de alimentos contaminados ou deficiência nutricional. O armazenamento errôneo de ração, silagem e milho pode propiciar um ambiente anaeróbio favorável à proliferação do agente. Os solos deficientes em fósforo, juntamente com a suplementação mineral inadequada dos animais, induz os bovinos de manejo extensivo, principalmente as fêmeas reprodutoras, à osteofagia de cadáveres presentes nas pastagens, que são fonte de contaminação por C. botulinum.

Outro fator relevante na ocorrência do botulismo é a construção de bebedouros artificiais nas áreas de pastagem; essa prática é bastante comum na região Centro-Oeste e popularmente denominada de cacimba. Entretanto, a literatura cita surtos e mortes de animais associados à presença da toxina botulínica no sedimento dessas águas estagnadas.

Agente causador

O agente etiológico do botulismo é da família Bacillaceae, um grupo de bactérias Gram-positivas, anaeróbias, em formato de bastonetes, com flagelos peritríquios, que permitem mobilidade. São saprófitas e podem ser encontradas no solo, na água e no trato digestivo de alguns animais. Apresentam a capacidade de formar esporos, característica que lhes conferem maior resistência, entretanto são sensíveis a hipoclorito de sódio 1% e etanol 70%. Seus esporos são destruídos sob temperatura de 121°C, durante 15 minutos, já suas toxinas são eliminadas por hipoclorito de sódio 0,1%, hidróxido de sódio (NaOH) 0,1N e também a 100°C por 20 minutos.

Em condições ideais de pH, temperatura, acidez e umidade, a bactéria produz e libera toxinas, que se classificam de A à G, de acordo com suas diferenças antigênicas. Os bovinos são mais acometidos pelos tipos C e D.

Intoxicação

A intoxicação decorre da ingestão das toxinas pré formadas pelo C. botulinum, que são resistentes a ação do suco gástrico e alcançam rapidamente o intestino. Em seguida, elas invadem os enterócitos e atingem a corrente sanguínea e os vasos linfáticos. A toxina não é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica, porém se acopla às terminações nervosas periféricas, principalmente as colinérgicas e inibe a liberação da acetilcolina. Essa, é um neurotransmissor excitatório, utilizado pelos neurônios que inervam os músculos. Por consequência, a neurotoxina gera uma paralisia flácida progressiva, que ao atingir a musculatura do diafragma, promove a morte do animal por incapacidade respiratória.

O período de incubação e a intensidade dos sinais clínicos variam conforme a quantidade de toxina absorvida. A paralisia flácida se inicia pela musculatura dos membros posteriores e progride para os anteriores, pescoço e cabeça. Observa-se dificuldade de locomoção, hipotonia de língua, sialorréia, dificuldade respiratória e, na fase final, o animal entra em decúbito lateral e coma. A doença não cursa com hipertermia ou alterações sensoriais, fatores que podem auxiliar no diagnóstico diferencial.

Diagnóstico

O diagnóstico dessa enfermidade é construído a partir de dados da anamnese, epidemiologia, exame clínico e inspeção da pastagem, pois as alterações post mortem são inespecíficas e a análise laboratorial pode não detectar a toxina. Relata-se, ao exame macroscópico, a ocorrência de petéquias no intestino delgado, no endocárdio e edema pulmonar; pode-se encontrar fragmentos de ossos no aparelho digestivo, o que caracteriza a osteofagia. A técnica de soroneutralização é realizada em laboratórios oficiais e se baseia na inoculação de amostras de materiais suspeitos (previamente preparados), em camundongos, pela via intraperitoneal, com observação por 96h.

Tratamento

O tratamento com antitoxina nem sempre é possível de ser realizado ou viável economicamente. A profilaxia deve ser o foco principal contra o botulismo. O monitoramento e a remoção das carcaças das pastagens e das cacimbas precisam ser constantes, para se evitar a contaminação. Os alimentos a serem oferecidos aos animais devem ser manipulados ou armazenados com o máximo de higiene possível. O rebanho precisa ser suplementado com fósforo para a prevenção da osteofagia e, a partir dos quatro meses de idade, é recomendável imunizar os animais com a vacina contendo a toxina inativada.

Referências

NASSAR, A.F.C. et al. Identificação da toxina botulínica tipo C e D em bovino – Relato de caso. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.76, n.3, p.449-451, 2009.

SOUZA, A. M. et al. Esporos e toxinas de Clostridium botulinum dos tipos C e D em cacimbas no Vale do Araguaia, Goiás. Pesq. Vet. Bras., Rio de Janeiro , v. 26, n. 3, p. 133-138, set. 2006. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2006000300001

Miyashiro, S; Esper, R. H. Botulismo. São Paulo: CRMV-SP. Disponível em https://www.crmvsp.gov.br/arquivo_zoonoses/BOTULISMO.pdf. Acesso em: 2 de out. 2019.

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