Coprofagia canina

Mestre em Ciência Animal (UFG, 2013)
Graduada em Medicina Veterinária (UFG, 2010)

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A coprofagia é um distúrbio alimentar apresentado por alguns cães, que é caracterizado pela ingestão de suas próprias fezes ou de outros animais. Esse ato pode ser decorrente de doenças metabólicas, carências nutricionais, mas sobretudo, derivado de alterações comportamentais.

Nos animais carnívoros selvagens a coprofagia pode ser comum, seja pela necessidade de ingerir fezes de animais ungulados como fonte de produtos microbiológicos e nutrientes, ou pelo hábito de devorarerm suas presas a partir das vísceras, onde ocorre a presença de fezes. Suspeita-se que essa herança pode ser remetida aos animais de companhia, que podem expressar esse comportamento.

Na clínica médica, a coprofagia pode ser classificada de acordo com a origem das fezes ingeridas e as causas dessa ingestão. Os cães podem restringir o consumo à suas próprias fezes ou apenas de herbívoros, de gatos, de humanos ou a todas elas. Sabe-se que as cadelas recém-paridas também podem comer as fezes de seus filhotes.

Dentre as causas da ingestão, cita-se a deficiência nutricional, a restrição alimentar, os distúrbios digestivos, a ansiedade, a carência afetiva, a predisposição racial e instinto de proteção. As fêmeas, assim que concebem seus filhotes, passam a expressar a coprofagia no intuito de manter o ninho limpo e também para não atraírem possíveis predadores.

A superpopulação de animais numa determinada área também pode induzir a ingestão de fezes pela baixa distribuição de alimento ou pela hierarquia, em que os cães dominantes se alimentam primeiro, restando quantidades insuficientes para os demais. Isso também pode ocorrer em animais alimentados apenas uma vez ao dia, os quais podem recorrer às fezes para suprirem a fome posteriormente.

Relata-se que os animais jovens, principalmente os filhotes e das raças Lhasa Apso e Shih-Tzu apresentam recorrentemente a coprofagia. Esse hábito se deve à predisposição racial e ao comportamento ativo, agitado, investigativo e lúdico que os filhotes exprimem. Em geral, com o amadurecimento do cão essa prática é corrigida. Os animais também podem ingerir excretas por estresse, ansiedade ou carência de seu tutor, uma vez que alguns animais passam muito tempo sozinhos, esse comportamento pode surtir o efeito de chamar a atenção do seu cuidador e também como forma de entretenimento.

Algumas afecções do sistema digestivo dos cães, cursam com um déficit na capacidade de absorção de nutrientes da dieta. Como consequência o animal pode recorrer à coprofagia, na tentativa de suprir essa deficiência. A literatura cita como exemplo a gastrite, a deficiência de tiamina, a pancreatite exócrina ou síndrome de má absorção e algumas parasitoses. O pâncreas é responsável pela secreção de substâncias digestivas, a nível intestinal, que auxiliam na absorção de nutrientes, vitaminas e minerais provenientes da dieta, além da produção dos hormônios do metabolismo (insulina e glucagon). Dessa forma, a não absorção desses componentes pelo organismo, faz com que esses sejam eliminados nas fezes, tornando-as atrativas, quer seja pelo odor convidativo, devido a presença de proteínas e gorduras não digeridas, ou pela carência de nutrientes.

A vitamina B1 (tiamina) não é produzida pelo organismo animal e, portanto deve ser suplementada via alimentação; a irritação estomacal desencadeada pela gastrite induz a necessidade da ingestão de fibras solúveis, as quais podem ser encontradas nas fezes. Alguns vermes intestinais, dependem de sua ingestão para manterem seu ciclo de vida, assim, o animal que ingere fezes pode se manter constantemente infectado pelo hábito errôneo.

A coprofagia é uma queixa bastante relatada na clínica médica de pequenos animais. Os tutores reclamam da halitose do animal e do incômodo desse hábito constrangedor. É importante esclarecer ao responsável as possíveis causas do comportamento e solicitar exames específicos para concluir o diagnóstico. Ao serem eliminadas as causas fisiológicas, é importante adequar a dieta do cão, quanto aos componentes nutricionais e os períodos corretos de oferta de alimentos. Também é preciso manter a desverminação atualizada, enriquecer o ambiente em que o animal vive, para diminuir seu estresse, além de reforçar o vínculo afetivo com esse cão, por meio de passeios e brincadeiras que supram suas necessidades psicológicas.

Referências:

VILLA PMS. Coprofagia canina relacionada às causas nutricionais. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Federal do Paraná. Curso de Zootecnia. Paraná. 2016.

Manutenção nutricional dos cães. Informativo Organnact. Informações Importantes. Online. [acesso 13 jan 2020]. Disponível em: http://www.organnact.com.br/arquivos/Informativo_Organnact_P._O_._.pdf

Melo & Scheraiber. COPROFAGIA EM CÃES – ARTIGO DE REVISÃO. Revista Eletrônica Biociências, Biotecnologia e Saúde, Curitiba, n12:142-44p. 2015.

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