Planárias

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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Planárias são vermes platelmintos achatados de vida livre da classe Rhabditophora (que inclui seres vivos anteriormente agrupados na classe obsoleta Turbellaria). Existem espécies de planaria habitando corpos d’água doce e salgada em todo o mundo, bem como alguns exemplares terrestres que sobrevivem em locais extremamente úmidos, como florestas tropicais.

Os sistemas corporais das planarias são extremamente simples, facilitando seu uso em diversas pesquisas cientificas sobre desenvolvimento corporal e funções fisiológicas. Seu trato digestório é composto por boca, faringe e cavidade gastrovascular. Sua abertura oral fica no centro da porção ventral do corpo e é responsável tanto por internalizar alimento quanto por liberar enzimas digestivas que realizam parte do processo digestivo fora do corpo do animal. Através da faringe, os nutrientes pré-digeridos são carreados para a cavidade gastrointestinal que tem a função de terminar a digestão e difundir os nutrientes para todo o corpo. Sua respiração é feita por difusão de gases na superfície do pequeno corpo achatado. Células flama e poros excretórios liberam desejos corporais indesejados e regulam o volume corporal das planarias. Na porção anterior de seus corpos existe uma diferenciação identificada como cabeça, onde se concentram órgãos sensórias (olhos, quimiorreceptores e até mesmo poros auriculares em algumas espécies).

Uma planária. Foto: Rattiya Thongdumhyu / Shutterstock.com

Com relação ao sistema nervoso, a cabeça das planarias possui um gânglio cerebral bilobado próximo aos olhos. Desta massa de tecido nervoso saem duas cordas neurais que atravessam o corpo do animal até sua cauda. Nervos transversais conectam estas cordas, criando um sistema nervoso similar a uma escada. Curiosamente, o “cérebro” das planárias emite atividade eletrofisiológica oscilatória, similar as emissões eletroencefalográficas de animais mais complexos. Quanto a reprodução, existem espécies de planaria assexuais e sexuais. As que se reproduzem sexuadamente são hermafroditas, possuindo ovários e testículos. Os adultos trocam gametas entre si, fecundado um ao outro com esperma. Os ovos têm desenvolvimento interno e são expelidos em capsulas para proteção. Nas espécies assexuais, a reprodução ocorre através de regeneração, uma habilidade surpreendente encontrada em planarias. Através deste processo, estes seres liberam suas caudas e ambas as partes conseguem regenerar um organismo completo. Isto ocorre graças a ação de células tronco chamadas de neoblastos, que se dividem e se diferenciam em todos os tecidos do corpo da planaria adulta.

Planária da espécie Prostheceraeus roseus. Foto: LABETAA Andre / Shutterstock.com

Mesmo as espécies que se reproduzem de modo sexuado apresentam habilidade regenerativa quando danificadas ou propositalmente fracionadas, fazendo da planaria um forte candidato a modelo biológico para estudos médicos e biotecnológicos. Outros fatores que favorecem seu uso em pesquisas é a facilidade de manter os adultos vivos em condições laboratoriais, seu organismo simples e tipos celulares homólogos aos de vertebrados como o ser humano. Contudo, a capacidade de regeneração é o que mais atrai os pesquisadores, incluindo atualmente pesquisas sobre envelhecimento e decaimento celular. Um indicio de que as planarias podem possuir informações chave sobre o prolongamento da vida através da manutenção da “jovialidade” celular é a atividade de sua enzima telomerase, responsável por evitar o encurtamento dos telomeros. Outros experimentos muito interessantes realizados com planarias envolve a ideia da transmissão de memória bioquímica entre indivíduos. Segundo alguns resultados, mesmo após regenerar uma nova cabeça, os indivíduos adultos apresentam padrões de comportamento similar aos apresentados pelo verme original, o que pode auxiliar pesquisas sobre formação e perda de memória em animais.

Referências:

Pellettieri, J., Fitzgerald, P., Watanabe, S., Mancuso, J., Green, D.R. and Alvarado, A.S., 2010. Cell death and tissue remodeling in planarian regeneration. Developmental biology338(1), pp.76-85.

Shomrat, T. and Levin, M., 2013. An automated training paradigm reveals long-term memory in planarians and its persistence through head regeneration. Journal of Experimental Biology216(20), pp.3799-3810.

Tan, T.C., Rahman, R., Jaber-Hijazi, F., Felix, D.A., Chen, C., Louis, E.J. and Aboobaker, A., 2012. Telomere maintenance and telomerase activity are differentially regulated in asexual and sexual worms. Proceedings of the National Academy of Sciences109(11), pp.4209-4214.

Arquivado em: Platelmintos
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