Os verbos anômalos são os que apresentam radicais diferentes quando conjugados. Mas, o que é um radical? É o elemento básico da palavra, a partir do qual outras são formadas. Quando há uma mudança de radicais na conjugação de um mesmo verbo, dizemos que esse verbo é anômalo. Veja um exemplo desse tipo de verbo no texto abaixo sobre o livro “O Menino da Terra”, escrito por Ziraldo:
Qual será o futuro do nosso planeta se as pessoas não respeitarem o mundo em que vivem? Precisaremos buscar outro mundo para viver? Essas são questões com as quais crianças e adultos se deparam todos os dias. O Menino da Terra é um livro que fala de um possível recomeço para a humanidade; com criatividade e sensibilidade, reconta uma bela história que pode vir a acontecer se o meio ambiente for respeitado e tratado com carinho.
Observe que, no texto acima, aparecem diferentes formas do verbo “ser”. Os verbos “é” e “são” (3ª pessoa do singular e 3ª pessoa do plural do tempo presente do modo indicativo). Vale destacar, também, a presença dos verbos que indicam tempo futuro, mas em modos diferentes:
“Qual será o futuro do nosso planeta se as pessoas não respeitarem o mundo em que vivem?”
(“será”: 3ª pessoa do singular do futuro do presente do modo indicativo).
“[...] se o meio ambiente for respeitado e tratado com carinho.”
(“for”: 3ª pessoa do singular do futuro do modo subjuntivo).
Note que os verbos “será” e “for” têm radicais muito diferentes, embora sejam conjugações de um mesmo verbo (o verbo “ser”). Por isso, esse verbo é anômalo. O primeiro exprime uma certeza, ao passo que o segundo exprime uma possibilidade.
Veja exemplos de verbos que não são anômalos, já que as conjugações seguem um radical, nos diferentes tempos e modos verbais:
- Eu amo o meio ambiente.
- Se ele amasse o meio ambiente...
- Amem o meio ambiente!
- Eu vivo bem.
- Se viverem bem...
- Viva bem!
- Ela insiste na ideia.
- Se insistíssemos na ideia...
- Insista na ideia!
O verbo “ir” assim como o verbo “ser” é anômalo
- Eu vou a pé todos os dias para o trabalho.
- Não fui à faculdade ontem, pois não estava me sentindo bem.
- Ele anda muito impaciente com o filho, mas se esquece de que fora uma criança difícil!
- Nós iremos visitá-la assim que encerrarmos o expediente.
- Se ele fosse mais atento às aulas, não teria um desempenho tão ruim!
- Se eu não for à festa, ligarei para ela e pedirei desculpas.
- Vá correndo para você não perder a carona, viu?
Um desafio: complete o espaço com “ia” ou “iria”:
Mal tinha conseguido dormir à noite... Amanheceu e o meu nervosismo aumentava e aumentava... Era o dia! O grande dia! Não, não era o dia do meu casamento... Era o dia da apresentação do meu Trabalho Final de Curso... Ensaiei umas duzentas vezes... O meu trabalho estava bom, sim. Aliás, muito bom, segundo a minha orientadora... Mas, instalava-se em mim aquela ansiedade... Temia gaguejar; temia não conseguir expor com clareza o tema, as minhas ideias, os meus argumentos... Bom, tinha de encarar o desafio... Cheguei mais cedo à faculdade. A sala já estava montada... Quando faltava meia hora para começar a defesa, chega à sala a minha orientadora... Meu coração acelerou! Porém, ela me disse que eu não ________ apresentar naquele dia, pois um dos membros da banca não poderia comparecer, devido a um problema de saúde... Ai, meu Deus, prorrogação do sofrimento!
(Texto elaborado pela autora deste artigo para a abordagem dos verbos anômalos).
É comum no dia a dia o uso de “ia” no lugar de “iria”. Porém, esses verbos pertencem a tempos diferentes. Em outras palavras, eles exprimem noções de tempo diferentes. Repare que a narradora se refere a algo que estava para acontecer, mas não aconteceu. Nesse contexto, emprega-se o futuro do pretérito do modo indicativo. Portanto, a forma correta é: “iria”. Já o verbo “ia” é utilizado para exprimir um fato contínuo no passado, isto é, um fato inacabado no passado. Nesse caso, “ia” é uma das formas do pretérito imperfeito do modo indicativo. Observe:
Eu ia todos os dias à cachoeira quando morava no interior!
Para concluir
Os verbos anômalos inserem-se no grupo dos verbos irregulares. Contudo, eles apresentam radicais diferentes quando são conjugados. Os verbos “ir” e “ser” são verbos anômalos.
Referência:
CEGALLA, Domingos Paschoal. Verbos regulares, irregulares e defectivos. In: ___ Novíssima gramática da língua portuguesa. 48.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. p.200-201.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/portugues/verbos-anomalos/