Verbos anômalos

Por Denyse Lage Fonseca

Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF)
Graduação em Letras (Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira, FUNCESI)

Categorias: Português
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Os verbos anômalos são os que apresentam radicais diferentes quando conjugados. Mas, o que é um radical? É o elemento básico da palavra, a partir do qual outras são formadas. Quando há uma mudança de radicais na conjugação de um mesmo verbo, dizemos que esse verbo é anômalo. Veja um exemplo desse tipo de verbo no texto abaixo sobre o livro “O Menino da Terra”, escrito por Ziraldo:

Qual será o futuro do nosso planeta se as pessoas não respeitarem o mundo em que vivem? Precisaremos buscar outro mundo para viver? Essas são questões com as quais crianças e adultos se deparam todos os dias. O Menino da Terra é um livro que fala de um possível recomeço para a humanidade; com criatividade e sensibilidade, reconta uma bela história que pode vir a acontecer se o meio ambiente for respeitado e tratado com carinho.

Observe que, no texto acima, aparecem diferentes formas do verbo “ser”. Os verbos “é” e “são” (3ª pessoa do singular e 3ª pessoa do plural do tempo presente do modo indicativo). Vale destacar, também, a presença dos verbos que indicam tempo futuro, mas em modos diferentes:

“Qual será o futuro do nosso planeta se as pessoas não respeitarem o mundo em que vivem?”
(“será”: 3ª pessoa do singular do futuro do presente do modo indicativo).

“[...] se o meio ambiente for respeitado e tratado com carinho.”
(“for”: 3ª pessoa do singular do futuro do modo subjuntivo).

Note que os verbos “será” e “for” têm radicais muito diferentes, embora sejam conjugações de um mesmo verbo (o verbo “ser”). Por isso, esse verbo é anômalo. O primeiro exprime uma certeza, ao passo que o segundo exprime uma possibilidade.

Veja exemplos de verbos que não são anômalos, já que as conjugações seguem um radical, nos diferentes tempos e modos verbais:

 

 

O verbo “ir” assim como o verbo “ser” é anômalo

Um desafio: complete o espaço com “ia” ou “iria”:

Mal tinha conseguido dormir à noite... Amanheceu e o meu nervosismo aumentava e aumentava... Era o dia! O grande dia! Não, não era o dia do meu casamento... Era o dia da apresentação do meu Trabalho Final de Curso... Ensaiei umas duzentas vezes... O meu trabalho estava bom, sim. Aliás, muito bom, segundo a minha orientadora... Mas, instalava-se em mim aquela ansiedade... Temia gaguejar; temia não conseguir expor com clareza o tema, as minhas ideias, os meus argumentos... Bom, tinha de encarar o desafio... Cheguei mais cedo à faculdade. A sala já estava montada... Quando faltava meia hora para começar a defesa, chega à sala a minha orientadora... Meu coração acelerou! Porém, ela me disse que eu não ________ apresentar naquele dia, pois um dos membros da banca não poderia comparecer, devido a um problema de saúde... Ai, meu Deus, prorrogação do sofrimento!

(Texto elaborado pela autora deste artigo para a abordagem dos verbos anômalos).

É comum no dia a dia o uso de “ia” no lugar de “iria”. Porém, esses verbos pertencem a tempos diferentes. Em outras palavras, eles exprimem noções de tempo diferentes. Repare que a narradora se refere a algo que estava para acontecer, mas não aconteceu. Nesse contexto, emprega-se o futuro do pretérito do modo indicativo. Portanto, a forma correta é: “iria”. Já o verbo “ia” é utilizado para exprimir um fato contínuo no passado, isto é, um fato inacabado no passado. Nesse caso, “ia” é uma das formas do pretérito imperfeito do modo indicativo. Observe:

Eu ia todos os dias à cachoeira quando morava no interior!

Para concluir

Os verbos anômalos inserem-se no grupo dos verbos irregulares. Contudo, eles apresentam radicais diferentes quando são conjugados. Os verbos “ir” e “ser” são verbos anômalos.

Referência:

CEGALLA, Domingos Paschoal. Verbos regulares, irregulares e defectivos. In: ___ Novíssima gramática da língua portuguesa. 48.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. p.200-201.

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