O Complexo de Édipo é um conjunto organizado de desejos hostis e amorosos que a criança apresenta em relação a suas figuras parentais.
O conceito foi descrito pela primeira vez por Sigmund Freud, e desde então é um tema crucial em sua escola de pensamento.
O pai da Psicanálise apoiou-se na tragédia grega Édipo Rei, de Sófocles (496-406ª.c.), para ilustrar a situação. Na narrativa, o protagonista, que desconhecia seus progenitores, mata seu pai e casa com sua mãe, com quem teve quatro filhos.
Triangulação Edípica
O complexo é considerado um fenômeno central da sexualidade infantil, tendo seu apogeu entre os três e cinco anos do indivíduo.
Em sua forma simples e positiva, a criança apresenta amor pelo genitor de sexo oposto e rivalidade com o do mesmo sexo. Sua energia libidinal e suas experiências afetivas orbitam essa organização. Cito Freud:
“O menino começa a manifestar de forma exagerada a preferência pela mãe. O menino passa a desejar que a mãe exista somente para ele, torna-se ciumento em relação ao pai e faz tudo para eliminá-lo de sua convivência com a mãe. Ao mesmo tempo, ou posteriormente, sente-se culpado de uma falta grave, experimenta remorsos em relação ao pai. A mesma coisa acontece com a menina: ela passa a desejar o pai e a repelir a mãe”.
Tal triangulação, entretanto, é uma esquematização. Há também, além da forma negativa, uma série de casos mistos em coexistência dialética.
Sua dissolução acontece devido a múltiplos fatores. Há os ontogenéticos: no caso masculino, a ameaça de castração pelo pai é determinante na renúncia, relativamente abrupta, ao objeto incestuoso. Ademais, ao perceber que não é a única prioridade da mãe, passaria a também dirigir afeto a terceiros. Já no caso feminino, por sua vez introduzido pelo complexo de castração, a desistência seria obtida após compensação simbólica entre pênis e filho, inevitavelmente frustrada.
Como desdobramentos do triângulo, cita-se:
- O acesso à genitalidade, que não é garantido pela maturação biológica dos indivíduos
- A escolha do objeto de amor, uma vez que este, depois da puberdade, permanece marcado pelos investimentos de inerentes ao complexo de Édipo e pela interdição da realização do incesto
- A constituição das instancias psíquicas superego e ideal de ego
- Efeitos sobre a estruturação da personalidade, marcada pelas diferentes imagens parentais e relações existentes entre os vértices do triângulo
Por mais, nas análises, o Édipo é considerado o núcleo dos sofrimentos neuróticos e eixo referencial das psicopatologias.
Panorama de pensamento
O complexo não é redutível a uma situação real ou à influência exclusivamente exercida sobre a criança pelo casal parental, uma vez que há inúmeras outras variáveis nos processos de subjetivação dos sujeitos.
Assim, diz-se que importância do conceito está em mostrar a instância interditória (proibição do incesto), que barra o acesso à satisfação naturalmente procurada e liga o desejo à lei, desempenhando papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo do sujeito.
Ademais, é essencial contextualizar a realidade na qual o sujeito se encontra, ou seja, considerar os seres ou Instituições que exercem as funções parentais em cada caso individual.
A escola culturalista apresenta contribuições à reflexão. Além de escancarar que a família nuclear heterossexual é apenas um dos (recentes) modelos possíveis, demonstra que, em determinadas civilizações ou épocas, o pai é desprovido da instância repressiva. Portanto, não haveria complexo de Édipo, mas uma situação característica de tal estrutura.
Por fim, como sugestão ilustrativa, cito Lacan: “deve renunciar à prática da psicanálise todo analista que não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época”.
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Referências bibliográficas:
FREUD, S. Obras completas, volume 16: O eu e o id, “autobiografia” e outros textos (1923-1925), tradução Paulo César de Souza, São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
LAPLANCHE, J; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
ROUDINESCO E PLON, Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.