Dialética

Mestre em Filosofia (UFPR, 2013)
Bacharel em Filosofia (UFPR, 2010)

Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição:


Ouça este artigo:

O Método Dialético, frequentemente referido apenas como Dialética, é uma forma de discurso entre duas ou mais pessoas que possuem diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto, mas que pretendem estabelecer a verdade através de argumentos fundamentados e não simplesmente vencer um debate ou persuadir o opositor. Embora o ato em si seja fundamental na formação da filosofia, o termo foi popularizado apenas com o advento dos diálogos socráticos de Platão.

Para estabelecer a dialética, Sócrates encontrou na Verdade o maior valor, propondo que a verdade poderia ser descoberta através da razão e lógica em uma discussão. Desta forma, Sócrates se opôs a retórica como uma forma de arte que visa agradar os ouvintes e também a oratória, que convence por vias emocionais, não requerendo lógica ou prova.

O propósito do método dialético é resolver os desacordos através de discussões racionais, e, em ultima análise, a busca pela verdade. A forma herdada de Sócrates para proceder tal discussão é mostrar que uma dada hipótese leva a contradições, então, forçar a retirada da hipótese como candidato a verdade. Desta forma, teríamos de encontrar outro candidato a verdade, para verificar se este também estaria comprometido com uma contradição, de tal forma que pudesse ser eliminado. Aquele candidato a verdade que por todos os meios não pudesse ser refutado, manter-se-ia como tal.

Este proceder, herdado de Sócrates, levou Aristóteles a afirmar que a dialética é a lógica do provável, daquilo que parece aceitável a todos ou a maioria, mesmo quando não se pode demonstrar, já que exige apenas que não seja possível eliminar o candidato à verdade. Na mesma linha de análise que Aristóteles, Immanuel Kant, considerado o maior filósofo da era moderna, avaliou a dialética como nada mais que uma ilusão, tratando-se do que chamou de "lógica das aparências", por basear-se em aspectos subjetivos, recusando a explicação causal da realidade.

A forma mais comum atualmente utilizada é a que foi apresentada por Johann Gottlieb Fichte, também adotada por Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que consiste em abordar a questão a ser discutida na forma de tese e antítese, com objetivo de chegar-se a transcendência de ambas, na síntese, que seria uma terceira tese. Segundo estes autores, o objetivo da dialética não seria interpretar a realidade, mas refleti-la.

A dialética Fichteana/Hegeliana é baseada em quatro conceitos:

  1. Tudo existe em um tempo médio, ou seja, tudo é finito e transitório.
  2. Tudo é composto de contradições – a palavra "contradição" é por vezes reinterpretada pelos alguns estudiosos como "forças opositoras".
  3. Mudanças graduais levam a crises, Fichte sugere uma estratégia que consiste em mudar o ponto defendido quando uma força sobrepõe sua força opositora – a ideia é que mudanças quantitativas levam a mudanças qualitativas.
  4. A mudança é espiral (sobreposição) e não circular – não se trata apenas de um caso de negação da negação, mas a sublimação.

Para além de Sócrates e Fichte, o conceito de dialética este presente na filosofia de Heráclito, conhecido por propôr que tudo está em constante mudança, de tal forma que a história do método dialético se confunde com a história da filosofia.

No século XX, a receptividade a dialética, especialmente a dialética de Fichte, afastou a filosofia anglo-americana daquela chamada "continental", referindo-se particularmente aos filósofos do continente europeu. No continente a dialética tem papel fundamental na estrutura filosófica, enquanto na Grã-Bretanha e Estados Unidos a dialética não possui papel claro na filosofia, sendo o positivismo mais relevante. Alguns filósofos como Karl Popper dedicaram-se a mostrar que a dialética levava a aceitação da contradição.

Referências bibliográficas:
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do espírito. (tradução Paulo Meneses). 5º ed. Petrópolis: Vozes. 2008.

Kant, Immanuel: Crítica da Razão Pura, tradução de Manuela Pinto do Santos e Alexandre Fradique Morujão, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 2001

Politzer, Georges (1979). Princípios Elementares de Filosofia 9 ed. Prelo.

REALE, Giovanni. Historia da filosofia do romantismo até nossos dias. 3v. 8º ed. São Paulo: Paulus, 2007.

Arquivado em: Filosofia
Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição: