Proposta de Redação do Enem 2012 comentada

Por Ana Lucia Santana
Categorias: Redação
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Nas escolas os professores de história e geografia costumam focar nos movimentos imigratórios dos séculos XIX e XX, mas normalmente deixam de abordar um tema delicado e polêmico, as correntes de imigrantes que fluem para o Brasil na era contemporânea, ou seja, no século XXI.

Portanto, a proposta de redação do Enem 2012 é muito importante, pois este mesmo fluxo de estrangeiros para os Estados Unidos e principalmente para países europeus vem acarretando consequências muitas vezes desastrosas. Várias destas nações têm reagido de forma negativa, com crises de xenofobia e protestos de toda ordem, especialmente no âmbito econômico. O argumento central dos habitantes dessas regiões contra os imigrantes é o de que eles vão roubar seus empregos.

Nem sempre esta tese corresponde à realidade, pois muitas dessas levas incluem pessoas com baixa qualificação profissional, como, por exemplo, os bolivianos. Estes imigrantes tentam deixar para trás a miséria em que estão mergulhados, já que na Bolívia 70% da população vive em condições precárias. Só que eles não estão preparados para atuar no mercado de trabalho, então assumem tarefas artesanais, culturais, rurais e também atuam como costureiros.

Não se pode dizer, portanto, que representem uma ameaça tão séria à classe trabalhadora dos países para os quais se dirigem, tais como o Brasil, os Estados Unidos, a Espanha e a Argentina. Esse é o quadro apresentado em um dos textos motivadores, Trilha da Costura, de autoria de R. T. Oliveira e publicado no site http://www.ipea.gov.br.

Este contexto tem provocado também o fortalecimento de grupos e partidos de extrema-direita, os quais condenam a entrada de imigrantes em seus países de origem. E tem igualmente contribuído para a formação de gangues e guetos, especialmente nos Estados Unidos. Muitos crimes são cometidos contra imigrantes e os que permanecem na ilegalidade ficam totalmente desprotegidos e ainda correm o risco de ser expulsos a qualquer momento do território onde se encontram. Sem falar nas inúmeras mortes de mexicanos na fronteira com os EUA.

Agora, como revela o texto “Acre sofre com invasão de imigrantes do Haiti”, postado no site http://www.dpf.gov.br, é a vez do Brasil, que sempre gritou contra as ações dos países do continente europeu em relação aos imigrantes, provar que é possível agir de outra forma, nos moldes de um comportamento humanitário.

O ingresso de um número cada vez maior de haitianos pelo Acre, na cidade de Brasileia, traduz um panorama atípico. Embora provenham igualmente de uma região miserável, comprometida ainda mais após o último terremoto, estes imigrantes não pertencem às camadas mais baixas de seu país, e sim à classe média. São engenheiros, professores, advogados, pedreiros, mestres de obras e carpinteiros, apesar de estarem completamente falidos.

A permanência dos haitianos na pequena cidade do Acre é realmente dramática, pois um número elevado desses cidadãos se instalou provisoriamente na praça central do município. Estão sendo alimentados e receberam água potável, mas ainda não conquistaram a hospedagem necessária. Certamente não pretendem continuar nesta região; ela é apenas um ponto de passagem para Porto Velho, em Rondônia, e daí para São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

Apesar do fluxo desses haitianos para o Brasil prosseguir, eles vêm recebendo visto humanitário, carteira de trabalho e CPF, o que lhes garante residência fixa em nosso país. Dessa forma o Brasil enfrenta a entrada ilegal de imigrantes, dando um exemplo de cidadania e de direitos humanos para o resto do mundo. Mas resta saber até onde será possível manter essa atitude e se a substituição do governo petista por outro partido significará mudanças nessa política de tolerância.

Daí a necessidade urgente de se refletir não só sobre as imigrações do passado, mas principalmente sobre as que estão em curso no século XXI, como acentua o fragmento extraído do site do Museu da Imigração, http://www.museudaimigracao.org.br/. Inclusive sobre suas repercussões nos hábitos, na cultura, na culinária e nos sotaques que se espalham pelo Brasil: esse impacto ainda será tão intenso como o do passado, agora que vivemos o processo de globalização, principalmente por meio das redes sociais? É fundamental que as novas gerações estejam preparadas para lidar com esse contexto.  E com certeza os examinadores captaram esta necessidade.

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