Irradiação de alimentos

Por Samira Pirola Santos Mantilla

Doutorado em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal (UFF, 2010)
Mestrado em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal (UFF, 2006)
Graduação em Medicina Veterinária (UFF, 2005)

Categorias: Saúde
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É muito provável que você já tenha consumido um alimento irradiado e não tenha percebido. Isso porque a irradiação de alimentos é usada largamente em condimentos e especiarias. Mas calma, você não foi enganado, pois no rótulo da embalagem do produto alimentício é obrigatório constar essa informação. E será que faz mal à saúde? Causa câncer ou outros problemas? Vamos ver que se for aplicado de forma correta, de acordo com as normas preconizadas pelo Ministério da Saúde, não há problema algum consumir alimentos irradiados, pelo contrário, a irradiação é um método de conservação muito eficiente, eliminando muitos microrganismos patogênicos que poderiam causar doenças nos consumidores.

O que é a irradiação de alimentos afinal?

A irradiação de alimentos é um processo físico de tratamento que consiste em submeter os produtos embalados ou a granel, a uma dose controlada de radiação ionizante, por um tempo predeterminado, com o intuito de melhorar a qualidade sanitária e aumentar validade comercial dos alimentos (GCIIA, 1991; BRASIL, 2001).

Mas o que é radiação ionizante? Segundo (ICGFI, 1999) são radiações que possuem energia alta o suficiente para desalojar os elétrons dos átomos e das moléculas e convertê-los em partículas eletricamente carregadas, chamadas íons.

Como ela diminui a contaminação bacteriana?

A radiação ionizante atua direta (ionização) ou indiretamente (através da ação dos radicais livres formados durante o processo) nos microrganismos, mais precisamente na molécula de DNA e RNA, inibindo a sua reprodução e crescimento. Somado a isso, as radiações ionizantes podem ser responsáveis pelas oxidações destrutivas das estruturas lipoproteicas das membranas celulares (CORRE; VENAILLE, 1994). O efeito da radiação ionizante e a eficiência de determinada dose de radiação sobre os microrganismos dependem da radiorresistência do microrganismo.

Faz mal?

Em 1981, um comitê formado pela Food and Agriculture Organization (FAO)/ Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)/ Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que alimentos irradiados com até 10,0 kGy (kilogray - unidade de medida para quantidade de radiação absorvida) são incondicionalmente seguros. Pelo menos 40 países aprovaram a irradiação de um ou mais produtos alimentícios, e 29 utilizaram a irradiação de alimentos comercialmente (JAY, 2005)

Nenhum resíduo de radioatividade permanece no alimento processado, como também nenhum efeito adverso é observado na qualidade nutricional quando são empregadas doses de radiação menores que 10,0 kGy.

Irradiação de alimentos no Brasil

A legislação de irradiação de alimentos em vigor no Brasil é a Resolução RDC nº 21, de 26 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001) que aprovou o Regulamento Técnico para Irradiação de Alimentos. Esse regulamento exige que os alimentos irradiados tenham rótulo informando sobre essa condição, para que o consumidor possa optar entre consumir o produto irradiado ou não. E qualquer alimento pode ser tratado por radiação desde que: “a dose mínima absorvida seja suficiente para alcançar a finalidade pretendida e a dose máxima absorvida seja inferior àquela que comprometeria as características funcionais e sensoriais do alimento”. Na rotulagem dos Alimentos Irradiados deve constar: "ALIMENTO TRATADO POR PROCESSO DE IRRADIAÇÃO". E quando um produto irradiado é utilizado como ingrediente em outro alimento, como por exemplo, os condimentos usados nos salgadinhos e batatas chips, isso também deve ser informado na lista de ingredientes, entre parênteses, após o nome do alimento.

Símbolo internacional da irradiação de alimentos.

Embora ainda muito subutilizado em nosso país, a irradiação apresenta-se como uma opção muito promissora para reduzir o desperdício e controlar surtos de doenças causadas por alimentos contaminados, podendo também viabilizar a exportação de mais produtos agropecuários (VITAL et al., 2008). Para que esta tecnologia possa ser aplicada em larga escala no Brasil, serão necessárias campanhas de informação ao consumidor e às indústrias, quanto às vantagens da irradiação de alimentos. (SILVA et al., 2006).

Referências bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Saúde. ANVISA. Resolução RDC nº 21, de 26 de janeiro de 2001 . Disponível em:<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/394219/Resolucao_RDC_n_21_de_26_de_janeiro_de_2001.pdf/28d81caa-e8ba-44a8-bcdc-83f950a29f35>.

CORRE, F. L; VENAILLE, L. Tratamientos con radiaciones ionizantes. In: BOURGEOIS, C.M.; MESCLE, J. F.; ZUCCA, J. Microbiologia alimentária: aspectos microbiológicos de la seguridad y calidad alimentaria.438 p. cap. 4, p. 357- 381. Zaragoza: Acribia, 1994.

GCIIA. GRUPO CONSULTIVO INTERNACIONAL SOBRE IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS – GCIIA. A irradiação de alimentos: ficção e realidade. Ficha Descritiva 1-14. 1991.

ICGFI. International Consultative Group on Food Irradiation. Facts about Food irradiation: a series of Fact Sheets from the International Consultative Group on Food Irradiation (ICGFI). 1999. Disponível em < http://www.iaea.org/nafa/d5/public/foodirradiation.pdf>.

JAY, J. M. Microbiologia de alimentos. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 711 p.

SILVA, A. C. O. S.; CERQUEIRA, M. O. P.; MORAES, C. F. A. M. P. ; SOUZA, M. R. S.; FERNANDEZ, A. T. Radiação em alimentos. Uma revisão. Higiene Alimentar, v. 20, n. 113, p.17-23, 2006.

VITAL, H. C.; HERNANDES, N. K.; SANTOS, A. A conservação de Alimentos por Irradiação. Revista CTEx P&D, v. 2, p. 45-50, 2008.

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