Ictismo

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Ictismo é o acidente causado por peixes, e pode ser ativo (por ferroada) ou passivo (por  ingestão).

O acidente peçonhento ou acantotóxico é aquele no qual o peixe introduz na vítima o ferrão, geralmente serrilhado, envolvido por bainha de tegumento, sob a qual estão as glândulas de veneno. Ex.: arraia.

Baiacu. Foto: © iStock.com / ChrisMR

Baiacu. Foto: © iStock.com / ChrisMR

No vulnerante ou traumático, o peixe, através de dentes, rostros, acúleos ou ferrões não toxíferos, produz soluções de continuidade ou lacerações no tegumento. Ex.: piranha.

O ictismo por ingestão pode ser causado por peixes venenosos e não venenosos. Os venenosos ou sarcotóxicos são aqueles que possuem toxinas nos músculos, pele, vísceras ou gônadas, causando intoxicação em quem os ingerir. Ex.: baiacu.

Os não venenosos são peixes que se contaminaram por bactérias patogênicas ou por substâncias químicas, provocando manifestações clínicas das mais variadas.  Ex.: peixe contaminado por mercúrio.

No Brasil é popular a ocorrência de ferimentos causados pelo contato com espinhos situados no corpo e nadadeira de espécies de peixes marinhos. Particularmente no litoral do nordeste, são relativamente comuns e responsáveis por acidentes em comunidades pesqueiras. O hábito bentônico destes peixes e a coloração críptica, além de permanecerem imóveis por longos períodos de tempo, são características que provavelmente favorecem a ocorrência de acidentes.

No Brasil, acidentes acantotóxicos por peixes que possuem ferrão na cauda são determinados por arraias de água doce e de água salgada. Há peixes que tem ferrões localizados nas nadadeiras dorsais e peitorais como: bagres (Bagre marinus, B. bagres), peixe-escorpião (Scorpaena brasiliensis), e o niquim ou peixe-sapo (Thalassophryne natterei, T. Branneri), todos de água salgada, e o mandi (Pimelodella brasiliensis), que é de água doce. As de intoxicação oral por ingestão mais estudadas no mundo são os acidentes chamados tetrodotóxicos, ciguatóxico e escombrótico.

O tetrodotóxico é a intoxicação provocada pela ingestão de baiacus de diversas espécies, entre eles o espinhoso, mirim, mamaiacu (peixe típico de água doce). A ciguatera ou ciguatóxico é o nome que se dá à intoxicação de pessoas que ingeriram peixes marinhos comestíveis que se alimentaram de certos plânctons tóxicos. O escombrótico é causado por peixes comestíveis, cuja conservação foi inadequada.

Os acidentes vulnerantes ou traumáticos podem ser causados por diversas espécies, entre elas a piranha, bacu, candiru e espardate (peixe de água salgada). O poraquê causa acidente devido sua descarga elétrica.

Os envenenamentos e traumas causados por animais aquáticos são atualmente objeto de poucos estudos no Brasil e também não há antivenenos para o tratamento de acidentes por peixes.

Reconhecer os peixes impróprios para o consumo é importante. Para isto, deve-se observar que os peixes frescos apresentam aspecto saudável, escamas aderentes, olhos salientes e brilhantes. As guelras róseas ou vermelhas e úmidas, o ânus fechado, o cheiro de maresia, as vísceras intactas, brilhantes e úmidas, os músculos firmes, elásticos, brancos, róseos ou amarelos de acordo com a espécie do peixe. O ventre não deve apresentar deformações ou depressões. Os peixes em decomposição dobram-se facilmente ou deixam marcas dos dedos que o comprimem.

Os acidentes por animais são tratados de várias formas, dependendo de cada animal causador do processo. Os ferimentos causados por peixes venenosos apresentam boa melhora com a imersão do ponto comprometido em água quente, pois a toxina é termolábil, ou seja, a água morna desativa o efeito do veneno. Essa medida deve ser aplicada quando a dor é menor do que o ferimento, em casos maiores a vítima deve ser encaminhada para um hospital.

Acidentes provocados por bagres, mandis, peixes-escorpião, peixes-leão, moréias e arraias fluviais e marinhas devem sempre ser tratados também com água morna, e posteriormente ser encaminhado para um hospital. Já os acidentes traumáticos, aqueles causados por piranhas, peixes-cirurgião e candirus devem ser tratados com maior cautela.

Fonte:
HADDAD Jr V. Atlas de animais aquáticos perigosos do Brasil: guia médico de diagnostico e tratamento de acidentes. São Paulo: Roca, 2000, 145p
HADDAD Jr V. Animais aquáticos de importância médica no Brasil. Rev Soc Bras Med Trop 2003; 36:591-597.

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