Nicho ecológico

Mestre em Ecologia e Evolução (Unifesp, 2015)
Graduada em Ciências Biológicas (Unifesp, 2013)

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O nicho de uma espécie pode ser definido como o conjunto de todas as suas tolerâncias e exigências, isto é, todos os recursos (bióticos e abióticos) que permitem a sua sobrevivência no ambiente.

Embora diversas definições de nicho já tenham sido propostas na literatura, Hutchinson revolucionou o conceito de nicho ecológico ao descrevê-lo de forma quantificável como o hipervolume de variáveis ambientais (bióticas e abióticas), em que cada dimensão corresponde a um estado do ambiente que permite que a espécie exista indefinidamente. Como as dimensões que compõem o nicho de uma espécie são muitas, é impossível esboçar um diagrama de nicho considerando todas elas. Mas, se fosse composto por apenas três dimensões (temperatura, pH e salinidade, por exemplo), poderíamos visualizar o nicho graficamente como um volume – o que nos ajuda a captar a ideia do conceito moderno de nicho.

Frequentemente, o conceito nicho ecológico é confundido com o de habitat e por isso é importante distingui-los. Para o ecólogo americano Eugene Odum, podemos pensar no habitat como sendo o endereço de uma espécie e, no nicho, como a sua profissão. E, da mesma forma que é possível exercer diferentes profissões num mesmo endereço, um mesmo habitat pode proporcionar diferentes nichos. Enquanto o habitat representa o conjunto dos elementos abióticos do ecossistema (que, por sua vez, é a soma dos elementos bióticos e abióticos), o nicho diz respeito ao modo de vida da espécie neste ecossistema.

Para exemplificar, pensemos numa floresta qualquer. Neste mesmo habitat vivem milhares de espécies que exploram o ambiente de diversas maneiras. A serrapilheira onde vive uma espécie de sapinho pode nunca ser explorada por um macaco que vive nas copas das árvores e vice-versa, mas seus nichos certamente se sobrepõem em algum aspecto. Por outro lado, espécies que aparentemente são mais similares em seus requisitos – dois passarinhos frugívoros, por exemplo – podem diferir em diversos outros aspectos menos evidentes, como suas faixas de tolerância a condições ambientais ou seu período de atividade. Mas, ainda que num mesmo local os nichos das espécies se sobreponham em maior ou menor grau, segundo o princípio da exclusão competitiva, duas espécies não podem coexistir numa comunidade se seus nichos forem idênticos, por conta da pressão evolutiva que a competição por recursos exerce.

Como consequência da competição, o nicho que uma espécie de fato ocupa não necessariamente reflete todas as condições e recursos que permitiriam sua sobrevivência, pois ele também é limitado pela presença de outras espécies. Duas espécies que competem por recursos podem diferenciar seus nichos para que possam existir na presença da outra. O conjunto de condições e recursos que permitem que uma espécie exista e se reproduza na ausência de competidores é chamado de nicho fundamental. Contudo, usualmente este nicho fundamental (que a espécie poderia potencialmente ocupar) difere do nicho realizado, que é aquele que a espécie de fato ocupa, em virtude da partição de recursos.

Ao impor limitações à dispersão das espécies, o nicho influencia na geração dos padrões de distribuição dos organismos. Dessa forma, existem ferramentas que permitem prever, a partir da estimativa do nicho de uma espécie, os potenciais locais onde ela poderia ocorrer, o que permite aplicações diversas tais como estudos sobre disseminação de doenças infecciosas, previsões de locais de ocorrências de espécies raras, estudos sobre impactos de mudanças climáticas etc.

Referências:

Peterson, A. T. et al. Ecological Niches and Geographic Distributions. Princeton University Press. 2011.

Reece, Jane B. et al. Biologia de Campbell. 10ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2015.

Townsend, C.; Begon, M.; Harper, J. L. Fundamentos de Ecologia. 2ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2006.

Arquivado em: Ecologia
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