Inovação reversa

Análise e Desenvolvimento de Sistemas (Universidade Nove de Julho, 2008)
MBA em Gestão Empresarial (Universidade Nove de Julho, 2010)

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Historicamente, a lógica do desenvolvimento estabeleceu que o surgimento de tecnologias de ponta se daria nos países ricos e dali seria disseminado para o restante do mundo registrando, continuamente, uma lacuna temporal considerável entre o momento do surgimento do produto e sua introdução nos países subdesenvolvidos, ciclo ainda relativamente perceptível nos dias atuais, quando, por exemplo, aficionados por certos produtos eletrônicos precisam aguardar alguns meses para ver os lançamentos nas prateleiras.

Em outros termos, foi instituído que os mais abastados movimentariam o mercado de tendências e aos menos afortunados, na maioria das vezes, restaria apenas imaginar como seria usufruir a novidade ou ter acesso a ela somente quando já estivesse em vias de se tornar obsoleta.

No entanto, a inovação reversa veio romper com este paradigma reorientando o fluxo da inovação – daí o sentido do adjetivo “reverso” – a partir das subsidiárias de algumas empresas sediadas em países desenvolvidos, ou seja, seu propósito é que não somente as grandes corporações contribuam com novas ideias, mas também suas ramificações espalhadas por vários países em diferentes níveis de desenvolvimento, estimulando que outras empresas sediadas nestes lugares façam o mesmo. Dessa forma, quem costumava importar soluções, passaria a exporta-las.

Na verdade, o enfraquecimento do domínio exercido pelas grandes organizações no mercado mundial, acabou legitimando o direito dos indivíduos de menor poder aquisitivo se beneficiarem de altas tecnologias em suas próprias terras, “em tempo de execução” e a preços mais em conta.

As primeiras considerações a respeito do tema foram feitas por Vijay Govindarajan e Chris Trimble, dois reconhecidos professores universitários americanos. Seus trabalhos permitiram o levantamento de muitas informações junto a empresas que praticavam inovação reversa, pesquisa que gerou dados importantes, posteriormente reunidos em um livro que fornece exemplos e aplicações do modelo.

Ali, os autores asseguram que o processo é resultado da relevância econômica alcançada pelos países emergentes, que deixaram de ser vistos como fonte de recursos naturais e fornecedores de mão de obra barata, passando a dar as cartas num jogo em que estavam acostumados a atuar como simples espectadores.

Tecnologias advindas desta abordagem devem conter características distintas: chegar ao mercado a preços baixos, uma vez concebidas com materiais e técnicas de fabricação de baixo custo, adequar-se a circunstâncias de infraestrutura ausente ou insuficiente, devendo, por exemplo, obter energia por vias alternativas e funcionar em condições climáticas adversas, sem interferir no meio ambiente.

Tais requisitos são seguidos à risca pela General Eletric – GE, pioneira em projetos de inovação reversa, que nos últimos anos tem prestado grandes serviços a muitos países, com o desenvolvimento de alternativas para a resolução de problemas crônicos em localidades remotas.

Uma das contribuições providas pela companhia, foi a criação de uma máquina portátil de ultrassom para atender a um povoado na China. Com a reforma do sistema de saúde americano, priorizando soluções de baixo custo, a aparelho conquistou também aquele mercado.

Há também o caso da Índia. Identificando que o país enfrentava sérios problema para diagnosticar doenças cardíacas nas regiões rurais, pois os equipamentos necessários para realizar os exames médicos estariam disponíveis somente em hospitais distantes das aldeias e seria impossível transportá-lo devido a seu peso e tamanho, a GE construiu um eletrocardiograma portátil, transportável por qualquer pessoa, com autonomia para várias horas de uso sem a necessidade de conexão com a rede elétrica.

Do ponto de vista econômico, é menos traumático fracassar em mercados emergentes e mais barato atingir excelentes resultados, já que é possível causar grande impacto com menos investimentos. Empresas inseridas neste contexto contam com grandes mercados e pouca concorrência, pois as populações de baixo poder aquisitivo sempre estiveram à margem do processo de desenvolvimento.

Arquivado em: Administração
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