Caranguejo

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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Os caranguejos são crustáceos decápodas da infraordem Brachyura, definidos pela taxonomia através da presença de dez patas e pela redução da cauda encontrada em outras ordens de crustáceos, como a lagosta. Caranguejos são amplamente consumidos em todo o mundo, com milhares de toneladas capturadas através da pesca ou produzidas em cativeiro.

Diferente dos siris, que são uma espécie semelhante e comumente confundida, os caranguejos possuem patas pontiagudas adaptadas para locomoção em substratos rígidos, como costões rochosos e o assoalho oceânico. Além disso, seus corpos costumam ser mais arredondados, englobando um abdômen reduzido que se dobra sob o cefalotórax. Ambos possuem o exoesqueleto rígido de quitina e o primeiro par de patas adaptados em pinças que auxiliam na manipulação do alimento e proteção. Os caranguejos costumam ser maiores que os siris, com algumas espécies atingindo um tamanho médio de 50 cm.

Caranguejo. Foto: Pixabay

Existem espécies de caranguejo marinhas, de água doce e adaptadas para viver em ambientes salobres, como manguezais e estuários. São animais muito ativos, buscando presas e parceiros sexuais através de comportamentos complexos de comunicação, com batidas ritmadas ou movimentos das pinças. Apesar de agirem de modo gregário, vivendo em proximidade e até mesmo se ajudando, os machos, que possuem pinças mais proeminentes que as fêmeas, costumam ser agressivos e podem lutar entre si por fêmeas ou pela ocupação de um local especifico (as tocas). A maior parte dos caranguejos é onívora, ou seja, se alimenta tanto de outros animais (como moluscos, vermes e outros crustáceos) quanto de detritos de matéria orgânica e algas, principal item de suas dietas.

Suas bocas ficam posicionadas na parte inferior da cabeça, possuindo diversas peças bucais que auxiliam na alimentação. Seu trato digestivo é recoberto por uma cutícula e subdividido em uma parte anterior (formada pelo esôfago e estômago) e uma porção posterior, onde fica o intestino. Seus estômagos possuem projeções de quitina rígidas similares a dentes, com a função de trituração e separação de partículas por tamanho. Aquilo que é absorvível passa para os cecos digestivos, enquanto o resto será expelido pela boca ou encaminhado para o intestino, onde são metabolizados para serem excretados. Os resíduos nitrogenados são expelidos nas partes mais finas do exoesqueleto ou pelas brânquias, enquanto outros resíduos podem ser expelidos pela bexiga através de um duto que se comunica com o ambiente.

Os caranguejos realizam trocas gasosas nas brânquias. Eles mantem um fluxo constante de água nestas estruturas com o batimento das alças branquiais. Além disso, muitas espécies também apresentam cerdas nas porções em que ocorre a entrada de água no corpo, evitando seu bloqueio por resíduos ambientais. Os gases são eficientemente carreados dentro do corpo através da hemolinfa, que possui a hemocianina, um pigmento respiratório com função similar a hemoglobina dos mamíferos.

Os caranguejos possuem um sistema nervoso desenvolvido, com um cérebro composto por um agrupado de células neurais na porção anterior da cabeça. Este gânglio cerebral se conecta com os olhos e antenas do animal, captando sinais visuais e de movimentação nas correntes de água. Nervos ventriculares dorsais partem da cabeça, atuando na estimulação nervosa do corpo e ligando o gânglio cerebral ao gânglio torácico, de onde partem os nervos periféricos laterais que estão relacionados a movimentação das patas. Os caranguejos também possuem mecanoreceptores na base das antenas chamados estatocistos, que lhes concede um senso de equilíbrio gravitacional.

Em relação a reprodução, os caranguejos são animais dioicos com marcado dimorfismo sexual, visto na comparação do tamanho das pinças e no formato das placas abdominais, que nas fêmeas são arredondadas e largas e nos machos são estreitas e triangulares. Esta diferença ocorre devido ao carreamento dos ovos fertilizados nesta região do corpo, o que só é feito pelas fêmeas. Sua fertilização ocorre internamente, com a transferência de espermatóforos entre o macho e a fêmea. Os ovos fecundados ficam um tempo aderidos à fêmea até que as larvas (desenvolvimento indireto) sejam liberadas no ambiente. Depois de pelo menos 6 estágios de desenvolvimento, as larvas originam formas juvenis similares aos adultos que após dezenas de ciclos de crescimento (ou mudas, que envolvem a formação de carapaças cada vez maiores) se tornam adultos reprodutivamente ativos.

Referências:

Kennish, R. and Williams, G.A., 1997. Feeding preferences of the herbivorous crab Grapsus albolineatus: the differential influence of algal nutrient content and morphology. Marine Ecology Progress Series147, pp.87-95.

Obregón, C., Tweedley, J.R., Loneragan, N.R. and Hughes, M., 2020. Different but not opposed: perceptions between fishing sectors on the status and management of a crab fishery. ICES Journal of Marine Science77(6), pp.2354-2368.

Hickman, C.P., Roberts, L.S. and Keen, S.L., 2016. Princípios integrados de zoologia . Grupo Gen-Guanabara Koogan.

Arquivado em: Crustáceos
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